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Optimus Alive’12: Dia 01

2012-07-13, Passeio Marítimo de Algés
Redacção
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O palco Heinenken inicia as hostilidades com os ROYAL BLASPHEMY. Venceram o concurso Oeiras Band Session, e isso materializou-os directamente para este palco. É uma banda que já conhecemos implicitamente: ou nós próprios tivemos uma deste género aquando passagem pelo secundário, ou tínhamos um amigo, primo, colega, namorada/o que lá tocava. Rock pesado e interventivo, que viaja pelo metal e pelo punk sem tocar fronteiras definidas. A anátema de uma geração que já cresceu com o grunge e o nu metal! São novos, tem atrás de si todo o peso de uma história a levantar o dedo ao sistema. Qual sistema? O sistema! Não se destacam de milhares dos seus congéneres que agora e sempre, por todo o mundo fazem e farão sempre, em garagens reais ou virtuais, um som e um discurso em tudo semelhante a este, mas são competentes qb, esforçados, e existem uma felicidade e um entusiasmo evidente de estar a pisar este palco. E de ir contra. O mundo. E o sistema. Qual sistema? O sistema! É irrelevante. É o estado actual das coisas. Que sofre de um mal permanente. E isso é o suficiente para iniciar a revolta. São novos. São ingénuos. Querem mudar o mundo. Ou pelo menos o país. Ou pelo menos o governo. Ou pelo menos. Talvez daqui a vinte anos sejam um dos grandes nomes do metal. Talvez não sejam nada. Pouco importa. Hoje tocaram num grande palco, com alma, competência técnica, profissionalismo, e um grande sorriso no rosto. E por vezes isso é tudo o que importa! Que se lixem coelhos a correr em relvas! Entrevistámos a banda, que nos contou o backline que usa ao vivo e que está a gravar o seu primeiro álbum.

Os senhores que se seguem são os PARKINSONS e apetecerá dizer que o seu nome advém do facto de a sua música provocar espasmos musculares involuntários no ouvinte incauto. Pós punks que podem ser talvez acusados de estarem cristalizados numa estética que teve o seu auge no início dos anos oitenta, tem a rodagem e a tarimba suficiente para espetarem a sua bandeira e assumirem por completo o domínio deste espaço. Como para provar que é irrelevante crescer num subúrbio feio e medíocre em Portugal ou no Reino Unido. Setenta e sete, noventa e sete, dois mil e sete. Sítios e datas confundem-se. Há gerações com trinta anos de diferença a fazer moshe e pogo cá em baixo. O sistema (qual sistema?) está podre (Agora? Sempre?) e vale sempre a pena celebrar o seu eminente e nunca alcançável fim, com a espuma de cerveja a voar e dois dedos espetados no ar, na eterna recriação dos arqueiros ingleses em Agincourt. Niilismo? Yes please. And some real rock n’ roll. Estes senhores com nome de tremor degenerativo são lusos ou britânicos? E importa? O discurso com o público alterna entre as duas línguas! Por vezes na mesma frase. Num dia em que parece haver um contingente substancial das terras de sua majestade a desembarcar por este passeio que se diz marítimo, ter os Parkinsons pela frente faz todo o sentido. Are this wankers Portuguese mate? Fuck if I know but this country has great beer…. OOiii!!! O vocalista no melhor espírito Iggy Popiano (afinal foi ele e os seus Stooges que inauguraram este modo de ser e estar), dança, bebe, grita, contorce-se e distorce-se no palco. A dada altura abandona a cerimónia, e quando regressa de Heinenken na mão (porque há muito que a Inglaterra já não ganha à Holanda), está também cá por baixo. Entre o público. Entre nós. Como um de nós. Porque é um de nós. A curtir o som que os seus camaradas produzem em palco. Isto é para celebrar. E também para dançar. Como só se voltará a fazer mais tarde no palco principal. “Só sabem abanar o cu para o futebol f***-se!!!” Os nativos? Os bifes? Que importa. A amálgama de épocas e nacionalidades que percorre este som  é dissolvente de fronteiras. E barreiras. E não é esse o verdadeiro espírito da anarquia?! Punk`s not dead e rock n`roll will never die.  O som faz-se de forma simples, Vox AC30, Ampeg B2RE e estalo de volume.

Volume é também debitado pelo par de JCM900 que DANKO JONES usa para amplificar a sua Gibson Explorer. Somos chamados ao palco com aquele tipo de sirene e depois a marcação de bombo e baixo de “Runnin’ with the Devil”, a homenagem a Van Halen fica por aqui, porque Danko nunca foi um shredder, mas é um guitarrista cheio de músculo – acrescentado de forma bruta pelo kit Ddrum de Atom Willard e pelo Precision Bass de JC. Em “Cadillac” há medley com os riffs de “Iron Man” e “Breakin’ the Law” – tudo é tributo no som de Danko Jones, cuja base é a fórmula arruaceira dos AC/DC e o seu discurso cativante evocará os Deuses do Volume a cujo panteão espera ascender, Randy Rhoads, Dimebag Darrell, Johnny Cash, Cliff Burton, James Brown, Bom Scott, etc… a exaltação dos mortos é feita com fúria de vida, como discursa antes “Had Enough”! É que às vezes é preciso dizer chega e olhar em frente “this heart is stronger, this skin is thicker, this mouth is louder”!

Para a dupla sequência pós feminista que toma de assalto o palco será sempre preciso deixar de lado uma pretensa neutralidade do observador. Estas DUM DUM GIRLS Californianas (onde pela nome se vê que o espírito de Iggy Pop continua a pairar sobre estas bandas! Voltará no final da noite com os Death in Vegas e a sua Aisha) são ridiculamente atractivas em palco (e fora dele, em entrevista, podemos assegurar que também) e sabem-na. Toda. Quem disse que o Punk não é sexy? Aqui vai mais para o curvilíneo do que para o anguloso. Guloso. Parte do apelo deste número é elas serem as pós punk giras. Like corn. Não há cá espaço para a feiura neste dojo: Cristina, não vais levar a mal… A imagem que fica é como se as figurantes do Robert Palmer se tivessem libertado de estarem condenadas aquela coreografia mecânica do “Addicted to Love”, soltassem o cabelo, ouvissem a dose certa de vinil new wave e ei-las prontas para a função! Dão-nos boas malhas que invocam aqui e ali coisas como Blondie ou Throwing Muses! Ir para oeste no meio de riffs sujos numa corrida ao ouro em tempos de crise. Califórnia. The west is the best!

E do sol da Califórnia para o sol algarvio, chegam os Miúda. Que chegam com a miúda. Porque os MIÚDA são, sejamos sinceros, esta miúda. A Mel. Que é assim a dar para o dourado. Como o seu nome. É ela que encabeça e dá a cara, e é a cara deste novo projecto da pop portuguesa. E é nela certamente que todas as atenções estão centradas. Especificamente no muito curto par de calções que substitui a necessidade de ecrãs de fundo com VJing. Esta miúda tem pernas para andar. E fá-lo deslizando ao longo do palco. Um gingar algarvio. E soltando uma pop veraneante que raramente se ouve de forma tão assumida e descomprometida por estas bandas. Que tanto sentido tem num país que possui uma costa de sol. A Califórnia da Europa. A última banda que em Portugal tão bem destilou essa essência foram os Salada de Frutas, e há muito de Lena de Água e sus Muchachus por aqui, especialmente em Ténis, uma das novas músicas apresentadas. A métrica e a batida estão entre a muito criativa nova onda tuga que por cá se fazia cá ski na altura, e o som videogame vintage. Lúdico! Ou lubrico. Sempre luminoso. A Mel, apesar do dia cinzento e chuvoso, veio para relembrar o público bife da luminosidade e do calor do seu All Garve. Num país tantas vezes dado á melancolia, ao cinzentismo e ao fado, é muito bom, de tempos a tempos, receber algo que alinha numa linhagem de puro pop sem espinhas, que não se destina a mais nada senão relembrar que é por serem fugazes que o verão, a praia, e a beleza devem ser abraçados. Antes do Outono ou da crise chegar. “Eu durmo com quem eu quero, e faço o que me apetece” canta a Mel no início e no fim do concerto. E faz ela muito bem!

Antes do calor houve a corrosão gélida da Suécia. Os REFUSED podem não ter tido um grande som, Dennis Lyxzén queixou-se disso, faltou principalmente corpo de graves, mais dimensão para o peso das composições da banda e para acompanhar a enorme prestação do baterista David Sandström atrás dum kit DW. Queixamo-nos das bandas que não interrompem a carreira e arruínam a memória dos anos dourados, mas quando se ouvem as bandas que interromperam a carreira e voltam a tocar os seus anos dourados com esta dimensão, então queixamo-nos por terem parado! “Worms of the Senses”, “Party Program”, “Liberation Frequency”. Depois Dennis afirma que em novos berraram contra o capitalismo e agora de regresso olham a desmoronar-se sozinho, revela simpatia com as dificuldades da economia portuguesa e agradece aos que gastaram o dinheiro do bilhete para os ver – todos nutrem simpatia por Portugal e pelo esforço dos portugueses, Refused, só um novo pacto com a troika, afinal ainda podemos derreter uns euros numa série de festivais, Dennis, o capitalismo não é assim tão mau… de qualquer forma seguem com “Rather be Dead”, “Coup d’Etat”, “Summerholidays”, “Deadly Rythm”, “Hook Line and Sinker”, “RAFD”, “Life Support Addiction” e, como até o hardcore punk tem singles, terminam com “The Shape of Punk to Come”, “New Noise” e “Tannhäuser”. Os Refused estiveram fucking dead (assim o disseram), mas afinal a ressurreição dos mortos não é um mito de fé, é um credo de guitarras!

LMFAO. WTF? LOL! ROTFL!!! A primeira enchente da noite, é das multidões mais compactas que já apanhei em qualquer festival. E faço desde já o disclaimer: esta é aquela banda em que reconheço existir um generation gap que tolda o meu julgamento, um fosso completo, profundo e inultrapassável. Ahhh então era disto que os meus pais falavam! O que vejo á minha frente, segundo todos os pressupostos que me permitem julgar, é para lá de mau. Invocam, como tantas coisas que passam por aqui, a memória dos anos oitenta. Neste caso a má memória da década. Algures entre Tecnotronik, MC Hammer, Buéréré e Nunca digas Banzai. É kitsh. É grotesco. Há dançarinos. E glowing rods. E máscaras de robots. É a banda residente do canal Panda? São os Black Eye Peas sob ácidos? Se o tom é claramente infantil (e existe muito pré teen em meu redor; hoje não é dia de escola?), porque é que há tantas bitches e Pimps e Daddys e o catano? Porque é que tudo isto transborda a uma sexualidade barata que faz o funk das cachorras parecer ter classe? Como se o lado negro do Michael Jackson tivesse sido tornado explicito e celebrável! É pós irónico? Pós pós pós moderno? Pós sexual? O circo chegou à cidade! Há acrobatas e palhaços. A multidão delira completamente. E eu envelheço a olhos vistos. O Matusalém seria um jovem energético ao pé de mim. Dançando no seu fato adidas retro e shufling até ao dia do dilúvio! Será que é uma piada que eu não percebo? Uma private joke universal que se tiveres mais de vinte anos em cima do lombo já não apanhas? Até que idade pensas divertir-te? Vejo um puto que me parece ter para aí cinco anos, em cima do gradeamento, a abanar a cabeça e giving the finger! WTF! LOL!! LMFAO. É como álcool pops. Não percebo o conceito. Não gosto do conceito! Se o Hi 5 fosse um grupo musical seria isto!!! Troll face! No like! Damn kids! Get off my lawn!!!

Será estranho dizer que foi um bom concerto?

 

E no palco principal a razão pelo grande contingente Brit deste dia. Madchester circa 89 desceu a Lisboa. Os STONE ROSES sempre foram um fenómeno musical muito contextualizado. Um primeiro álbum considerado na altura a melhor coisa alguma vez produzida na história da humanidade (há e sempre houve um gosto assumido por parte de NME´s e Melody Maker´s em serem hiperbólicos), e que lhes garantiu um estatuto lendário até hoje. Um segundo álbum que se arrastou em produção durante anos e cujas dores de parto representaram o fim da banda. Ressuscitaram o ano passado conforme as escrituras e encontram-se finalmente entre nós. E como é ver finalmente os Roses em palco, tão distantes do seu contexto original? Ian Brown continua a ser uma figura bizarra. A voz é o que é, e muita tinta já foi escrita sobre sobre este tópico em particular, quase tanta como aquela jogada nas capas Pollokianas dos álbuns. Nas palavras de um certo júri da nossa praça: não canta puto! Tem carisma? Tem uma forma muito peculiar de presença em palco. Simiesca, foi dito em tempos. Não é o mais comunicativo e interactivo dos frontman, e como bom Mancunian que é is always taking the piss: fank you very much!!! A grande mais-valia desta banda? Atrás dos instrumentos estão três dos melhores executantes das ilhas Britânicas. John Squire é a par de Johnny Marr o melhor guitarrista daquela geração. Perdeu-se em projectos redundantes como os Sea Horses, mas esta é a sua casa original, e aqui brilha como poucos. A secção rítmica é Renny e Mani. São lendas. São ícones. São a melhor secção rítmica Inglesa. Ponto. “Fools Gold” ao vivo dissipa quaisquer dúvidas que pudesse haver a esse respeito. A máquina está bem afinada e recomenda-se. A subida até ao final é feita em crescendo com “Made of Stone”, “This is the One”, “She Bangs the Drums”, e “I am the Ressurection”! Foi? Talvez. Nesta ressurreição, como em tantas outras, a necessidade de gravação de um álbum contemporâneo é vital para se garantir que existe uma relevância desta banda, actual, para lá de um simples exercício de nostalgia. Porque a sensação com se fica é a de se assistir a uma boa prestação, de magníficas músicas, mas fora do tempo!

SANTIGOLD não se faz rogada e pega nos restos da festa de LMFAO. Com as sobras de 6 garrafas de vinho tinto e branco faz-se uma garrafa cheia de rosé. Terá visto a actuação de M.I.A. a semana passada e decidiu fazer melhor figura, mas mesmo com o visível esforço de performers no palco e de dedicação do público, faltou dinâmica ao concerto, ficando a ideia que as drum machines limitaram muito o som dos beats acústicos. O registo vocal monocórdico ou monotónico, translitera-se em monotonia! Estas bandas precisam de tomar uma decisão, ou assumem a compressão sufocante dos registos de estúdio, fabricados para ganhar a guerra do airplay nas rádios e assim deixam de lado os componentes humanos ou então precisam de trabalhar estes com mais afirmação e crescerem para ser uma banda à séria.

No final talvez lhes faltasse ver a lição que os BURAKA SOM SISTEMA deram neste capítulo. Sem qualquer acréscimo emocional patriótico, os Buraka só não deram o concerto da noite porque os JUSTICE decidiram rebentar também o palco principal. Comentava a AS Crew, o Fred é o Fred!”. Que baterista! Nunca vi um DJ set dos Buraka, mas não me parece que o queira fazer, a banda assim extrapola as fronteiras estéticas dos discos e rappers e kuduro soam como rock! O palco esteve para cair, mas se isso tivesse acontecido é possível que o público o segurasse ou então seria alegremente soterrado pelos destroços da demolição que os Buraka promoveram no palco Heineken. São uma banda de nível mundial, acabamos sempre espantados com esta constatação de uma banda portuguesa, se os Buraka tivessem jogado o Euro tínhamos ficado com o caneco!

JUSTICE! Com efeitos. Sem espinhas. Musicalmente. Visualmente. Atmosfericamente. O melhor concerto do primeiro dia. Puseram a multidão a dançar. E se calhar, surpreendentemente para o género, puseram a multidão a cantar. Dois cromos androidescos (na melhor tradição DaftPunkiana) a enfiaram tudo o resto no bolso. Há algo na cena electrónica francesa (há-o em Mirwais, M83, Daft Punk, Air, etc) que lhe confere uma certa organicidade. Um pouco de funk, um pouco de hard rock, um pouco de melodia, um muito de narrativa. Que engaja todos os sentidos em vez de meter somente o corpo a pular. Haverá uma fonte comum para tudo isto? Talvez todos eles pertençam ao grupo etário que como nós apanhou o Ulysses 31 nos ecrãs de televisão. Talvez a fabulosa banda sonora de Ike Egan tenha aberto a mente a uma geração de putos franceses. E seja isso que lhes permite produzir com uma certa constância esta electrónica de gozo, sexo e cosmicidade. Há também ali o amor a AC/DC (sim, também eles uma vez mais), e temas como “New Lands” são a materialização do impossível, os australianos se pegassem em electrónica e fizessem dance music! Qualquer que seja a fonte, manifestou-se aqui de forma inequívoca. A olhar o palco estranhamos ver duas torres de Marshall de cada lado dos turntables – oh, que pinta! São leds! Se este género de aposta já rendeu alguns dissabores por falta de noção do que é uma live audience, os Justice provaram que são de facto fãs de rock e heavy metal e sabem o que é fazer mexer um mar de gente da primeira à última fila.

Os ingleses estiveram em maioria, mas os Franceses por uma vez não se renderam, ganharam a batalha e acabaram por levar a taça. Two finger salute! A palavra de ordem do dia é Do the Dance!!!

Os Death In Vega podiam ter estado no papel dos Justice, mas decidiram por outro caminho, do dance ácido de “Contino Sessions” hoje estão no borderline shoegaze. Depois da algazarra que havia sido este dia de Alive, ver a calma e perfeição de execução na fusão do pós rock com drum machines e sintetização permite o uso do adjectivo sublime. Ficou pouco público para os ver, os que foram embora não fazem ideia do que perderam.

Por Nero e Carlos Garcia