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Palco Heineken: Secundário apenas em nome

Palco Heineken: Secundário apenas em nome

2017-07-07, NOS Alive, Passeio Marítimo de Algés
Pedro Miranda
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Secundário apenas em nome, o Palco Heineken do NOS Alive carrega às costas vasta bagagem de artistas de médio porte de fazer inveja ao alinhamento principal de muitos festivais que por aí decorrem: demasiado grandes para palcos de menor porte, mas também não a ponto de justificarem o titânico espaço ocupado pelo Palco NOS.

E não é como se o Heineken desvalorizasse a performance dos artistas que por lá atuam, que muitas vezes são prendados com horários mais privilegiados e, quase sempre, uma mistura de som de melhor qualidade – não é à toa que muitos festivaleiros, principalmente afectos a sonoridades menos massificadas, têm-no eleito como zona predileta do recinto do festival. Findo o festival, trazemos alguns dos destaques que apanhámos por estes lados do NOS Alive.

Para os apreciadores de um rock mais convencional, pautado pelas raízes do género, do blues e da música de dança, o último dia de Alive seria o mais indicado quando o assunto é palco Heineken, ainda que os cabeças-de-cartaz Foo Fighters e The Kills puxassem mais este tipo de fãs para o dia anterior do festival. À hora de jantar do fecho da edição, os já veteranos Spoon encetavam uma competentíssima apresentação de “Hot Thoughts”, uma rendição do seu característico indie com traços de synthpop e dance-punk, persistindo porventura no subconsciente alternativo algures no espaço que separa o groove de LCD Soundsystem da promiscuidade de Franz Ferdinand. Fosse esse espetáculo marcado para horas mais tardias, e talvez seria tão apreciável quanto o de Cage the Elephant. À semelhança do que já ocorrera por duas ocasiões no Vodafone Paredes de Coura, o quinteto de Kentucky trouxe ao Passeio Marítimo de Algés “Tell Me I’m Pretty”, que já data de 2015, numa das mais enérgicas (e procuradas) performances deste palco. (galeria em baixo)

Os amantes da eletrónica não perderam por comparação na programação do Heineken: logo no primeiro dia, e começando ainda durante a performance de The Weeknd, a banda do produtor britânico Bonobo dava mostras da sua eletrónica dinâmica, vibrante e marcadamente dançável ao apresentar o seu “Migration”, numa das melhor conseguidas apostas de fim de noite para o festival. No dia 7, e em quase sobreposição com Foo Fighters, foi a vez do DJ austríaco Marcus Füreder, apresentando-se em formato de grupo como Parov Stelar, brilhar mais uma vez no contexto de NOS Alive com o seu swing eletrónico, recorrendo, para isso, a vasta e diversa instrumentação (incluindo um trio de sopros – trompete, trombone e saxofone), e uma talentosíssima vocalista. Finalmente, no dia de fecho, e apesar da tão excelente quanto esdrúxula atuação de Peaches, há que dar o braço a torcer ao neo-psicadelismo revivalista de Avalanches, um dos mais originais actos a operar no ramo do plunderphonics. O trio australiano, que depois de um hiato prolongado retornou aos discos o ano passado com “Wildflower”, veio ao NOS Alive munido, para surpresa de muitos, de banda ao vivo, canalizada para excelentes resultados.

Por último, terá sido com especial satisfação que os fãs de um amplamente definido art rock se deslocaram ao Heineken para procurar refúgio de um palco principal inegável e abertamente pop. Ter-se-ão deparado com, no mínimo, dois actos de grande valor que por lá passaram, acompanhados porventura das duas maiores demonstrações de musicalidade e ambição orquestrativa e composicional de todo o festival. Ao segundo dia, há que dar o destaque as Warpaint, o quarteto feminino de Los Angeles que demonstrou graça, indelével comando de palco e um som cristalino na apresentação de “Heads Up”, o seu disco de 2016 – muito possivelmente, para alguns gostos, uma das melhores performances de todo o festival. E no dia de encerramento, há que reconhecer o mérito aos Fleet Foxes, ainda que este concerto tenha sido manifestamente assolado por problemas de som que impediram a sua plena apreciação. O grupo de Robin Pecknold, acabado de lançar o seu terceiro disco de originais, “Crack-Up”, demonstrou ainda assim um controlo magistral sobre a melodia, o ritmo e a harmonia, combinando delicadeza e furor num espetáculo desenhado para os mais pacientes. Mais um pequeno tesouro para levar deste 11º NOS Alive.

Foto de entrada: Tomás Lisboa