Ratos De Porão, Simbiose, Mr Miyagi, Challenge
2013-06-28, Hard Club, PortoOs brasileiros Ratos de Porão são mestres na arte de semear caos e destruição, tendo assinalado uma actuação arrebatadora que colocou em risco a estabilidade do Mercado Ferreira Borges.
Contudo, antes de João Gordo e companhia subirem ao palco para uma sessão musical particularmente intensa, a noite foi aquecida por três bandas nacionais. O serão iniciou-se com os Challenge (naturais das Caldas da Rainha) encarregados de, na sua primeira visita ao Hard Club, despertar uma plateia ansiosa pelos cabeças de cartaz. Inspirados por nomes incontornáveis como Sick Of It All, Youth Of Today e Gorilla Biscuits, o quarteto protagonizou uma actuação enérgica e competente, com especial destaque para a paixão e garra exibida pelo vocalista Edgar. No final, conseguiram convencer o público, por esta altura ainda bastante parco, que foi compondo a sala de forma satisfatória com o decorrer dos concertos.
O evento prosseguiu com os vianenses Mr Miyagi. A prestação do quarteto minhoto marcou uma mudança a nível sonoro. Outrora somente concentrado em distribuir “pancadaria” sonora, agora o colectivo incorpora um leque de influências mais eclético, produzindo um punk/thrash de essência rockeira, por vezes num registo quase stoner. Ainda que menos explosivos e violentos (num sentido puramente musical) do que os restantes grupos presentes no cartaz, os Mr Miyagi revelaram-se eficazes naquilo que se propuseram a fazer, debitar riffs quentes e pujantes que coexistiram de forma harmoniosa com momentos mais vigorosos (o vocalista Ciso San chegou a descer do palco para cantar junto da audiência) e reminiscentes da encarnação original da banda.
Com a chegada dos lisboetas Simbiose, a brutalidade regressou de forma triunfante. O quinteto que dispõe de um currículo invejável, onde estão arquivados 22 anos de actividade, já se transformou numa autêntica instituição do crust/metal/punk nacional. Toda essa experiência traduziu-se num concerto bem delineado, marcado por poderosas vozes guturais, guitarradas infernais e letras caracterizadas por uma crítica social incisiva. O setlist alternou entre temas novos, retirados do mais recente trabalho “Economical Terrorism,” e velhas preciosidades, o que lhe deu um interessante carácter retrospectivo, ideal para quem procurasse conhecer a banda.
Ver os Ratos de Porão ao vivo assemelha-se a um reencontro entre dois velhos amigos. Por muito tempo que tenha passado desde a última visita, o convívio nunca deixa de ser emocionante e inesquecível. A relação de cariz fraternal entre a banda e o público português encontra-se bem documentada, e é sabido que cada retorno de João Gordo, Boka, Juninho e Jão ao nosso país conta com a presença de fãs de longa data que os seguem há vários anos. Todavia, todos aqueles que já testemunharam a força dos RDP em palco estão conscientes que as suas actuações nunca se tornam monótonas e que a magia associada às mesmas permanece intacta, mesmo trinta e três anos depois. Por muito que os elementos envelheçam ou que o mundo da música evolua, hinos como “Beber Até Morrer”, “Aids, Pop, Repressão”, “Toma Trouxa” ou “Crucificados Pelo Sistema”, continuam a soar imponentes e irresistíveis, dotados de uma raiva e um inconformismo verdadeiramente contagiantes. Tudo o que habitualmente acontece num concerto dos RDP voltou a ter lugar. Copos de cerveja a voar, mosh, membros do público a subir ao palco muitas vezes e um sentimento geral de felicidade espelhado nas caras de um público suado, mas rendido a estas lendas do hardcore/punk/crossover sul-americano. É com orgulho que se afirma que os Ratos continuam cada dia mais sujos e agressivos. Que assim o seja por muito mais tempo.
ESCRITO POR Jorge Miguel
FOTOS Helena Granjo