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Robbie Williams, O Maior (Segundo o Próprio)

Robbie Williams, O Maior (Segundo o Próprio)

2023-03-27, Altice Arena
Nero
Inês Barrau
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O britânico desejava ter sido Sinatra ou, pelo menos, um dos elementos do Rat Pack. O destino trocou-lhe as voltas e, em vez de salões cheios de glamour, charutos e champanhe, toca em grande arenas. Todavia, Robbie Williams faz tudo para viver essa ilusão e transpor essa mesma experiência para a sua plateia. Dessa forma, ao fim de 25 anos, o seu sucesso no Reino Unido só tem paralelo com Elvis Presley e Williams veio a Lisboa provar porquê.

A história chegou-nos através de um vizinho (podem consultar o Google para maior minúcia). Robbie Williams tem a sua mansão literalmente ao lado da de Jimmy Page, o lendário guitarrista dos Led Zeppelin. As mansões situam-se numa zona histórica e, obviamente, luxuosa.

Quando Williams anunciou planos de construir um ginásio e uma piscina no seu lote, Page escreveu à comissão de moradores manifestando a sua relutância em torno destes planos, com receio de que pudessem danificar a sua propriedade. Page alertou ainda para o facto das mansões possuírem um traço arquitectónico que importa preservar. De qualquer forma, Robbie obteve as permissões necessárias para as obras que planeava. No entanto, as coisas não ficaram por aqui…

Desde aí, segundo o vizinho de ambos os músicos, Robbie Williams iniciou uma persistente vingança direccionada a Jimmy Page. Alegadamente, Robbie veste-se em ocasiões como Robert Plant, imitando os seus maneirismos, para demonstrar qual o membro dos Led Zeppelin mais aprecia. Sempre que percebe que Page está por casa, Robbie mete a sua aparelhagem num estouro de volume e passa a rodar discaços de Black Sabbath, Deep Purple ou Pink Floyd. Precisamente algumas das bandas que entram com os Led Zeppelin na discussão pela coroa do rock britânico.

O motivo por que recordamos este feudo de vizinhos, ainda que um porta-voz de Williams tenha negado estas acções, como importa referir, é para revelar como o carácter do cantor é percepcionado por tantos e até promovido pelo próprio. Um malandro. Divertido e excessivo.

DE GLASTONBURY PARA O MUNDO

Pois bem, na Altice Arena foi precisamente uma noite assim que Robbie Williams ofereceu ao público. Uma extravagância de entretenimento pop/rock, ruidosa, divertida e cheia de excessos, esta XXV Tour, que celebra os seus 25 anos de carreira a solo. A base da digressão foi o álbum “XXV”, que compila alguns dos maiores êxitos e canções favoritas dos fãs reorquestradas por Jules Buckley, Guy Chambers e Steve Sidwell, e regravadas com a aclamada Metropole Orkest na Holanda. O álbum tornou-se #1 de Williams nas tabelas britânicas, mas o seu single de maior sucesso permanece “Angels”, extraído do seu álbum de estreia, “Life Thru A Lens”, que editou em 1997, depois do êxito com os Take That.

As desventuras da boys band de Manchester foram o centro deste espectáculo meio confessional – a dada altura em “The Flood”, Williams interrompe a banda e aponta um indivíduo a subir a escadaria do primeiro balcão, dirigindo-se ao WC, depois de uma caricata interacção diz ao público: «Imaginem a lata, sair a meio de Take That, só eu posso fazer isso». A sua turbulência estadia nos Take That rendeu uma boa meia-hora de história e escárnio dirigido aos antigos colegas e a si próprio.

Uma extravagância de entretenimento pop/rock, ruidosa, divertida e cheia de excessos, esta XXV Tour, que celebra os seus 25 anos de carreira a solo.

Nessa altura, Williams referiu-se ainda aos dias em que, com os bolsos cheios de cocaína e uma garrafa de champanhe na mão, se dirigiu a Glastonbury e aí privou com os Oasis. Então, “Don’t Look Back In Anger”, dos manos Gallagher, viu o seu coro cantado pela plateia rivalizar com alguns dos maiores clássicos de Williams, apresentados até esse momento.

Mas a aclamação mais estrondosa estava guardada para o terceiro acto do concerto. Desde logo, para a homenagem prestada pelo agora “sossegado e feliz” casado William à sua esposa e quatro filhos, com “Love My Life” e depois à sua amiga Geri Halliwell – foi a Ginger Spice que o ajudou a encontrar a sobriedade – com “Eternity” (na versão reorquestrada). E depois o super single “Feel” e o efusivo “Rock DJ”, culminado com uma miríade de luzes e as explosivas imagens no ecrã ao fundo do palco. A banda saía de palco para ser estrondosamente ovacionada para o encore.

A CAPELLA

De regresso, mais um dos clássicos reorquestrados: “No Regrets”. Então Williams – que já vestira a pele de Barry Manilow em “Could It be Magic” – encarnou na superestrela da música ligeira norte-americana para oferecer “She’s The One” (original dos World Party) a uma das mulheres na plateia. Calhou à encantadora Filipa de Leiria que foi sozinha ao concerto, o que escandalizou Robbie: «Espera lá, vieste sozinha? A sério que disseste aos teus amigos que vinhas ver o Robbie Williams e nenhum te quis acompanhar!?»

A terminar a noite e a própria digressão só podia ser ouvida uma canção, triunfalmente interpretada por Williams, banda e público. Da nossa parte, foi bom que a versão tenha sido mais aproximada à original, permitindo ouvir o pungente solo de Gary Nuttall numa rubra Gibson SG Junior.

Enquanto íamos abandonando a Altice Arena, a quase totalidade do público quedou-se a cantar a capella, com Williams sozinho em palco, um medley composto por “Strong”, “Come Undone”, “Feel” e “Angels”. Com o ruído que escapava das portas abertas do pavilhão, teria sido giro ouvir-se uma malhinha de Black Sabbath, só para fechar a história.

SETLIST

  • Hey Wow Yeah Yeah
    Let Me Entertain You
    Land of 1000 Dances
    Monsoon
    Strong
    Come Undone
    Do What You Like
    Could It Be Magic
    Don’t Look Back in Anger
    The Flood
    Love My Life
    Eternity
    Candy
    Feel
    Kids
    Rock DJ
    No Regrets
    She’s the One
    Angels