Rock In Rio 2022: Os Muitos Artifícios dos Muse
2022-06-18, Rock In Rio LisboaA banda britânica deu (novamente) um concerto de luxo no que poderia ser apenas um concerto de “substituição” dos Foo Fighters. Matt Bellamy não poupou nas artimanhas, devidamente acentuadas com uma chuva inesperada.
Os Muse são uma das bandas contemporâneas que melhor conhece os festivais e as salas portuguesas. Pela quarta vez no Rock In Rio Lisboa, o trio britânico veio substituir os Foo Fighters, banda primeiramente anunciada como headliner do primeiro dia de festival e que tragicamente foi obrigada a cancelar a sua presença devido à morte do baterista, Taylor Hawkins. Com um iminente novo álbum a sair em Agosto, “Will of the People”, o espetáculo que a banda ofereceu a uma plateia completamente encharcada de chuva foi bonito de se ver – e difícil de descrever. O concerto serviu para apresentar novos temas como “Will of the People” , “Kill or Be Killed”, “Compliance” e ainda “Won’t Stand Down”, mas foram com os clássicos hits da banda que o público esqueceu a molha (temporariamente).
Por volta das 23h já se ouvia a plateia a incentivar a banda a pisar o palco. Foi precisamente a nova “Will of the People” que abriu o espetáculo e viu o trio a usar máscaras que lhes cobriam a cara totalmente, sendo difícil distinguir os membros antes de assumirem as suas posições. As primeiras pingas de chuva prenunciaram um concerto dramático, com 1001 truques na manga que conseguem sempre surpreender o público que já assim espera de um concerto dos Muse.
Após a primeira canção os músicos rapidamente tiraram as máscaras e entregaram um interlúdio onde se fez ouvir parcialmente o riff de “Back in Black”, dos AC/DC, e ainda “Know Your Enemy”, dos Rage Against The Machine. Foi logo na terceira canção do alinhamento que os Muse fizeram recurso à clássica “Hysteria”, que pôs o público a harmonizar a plenos pulmões com o infalível falsete de Matt Bellamy.
A introdução da explosiva “Psycho”, canção do álbum de 2015 “Drones”, apresenta um Comandante no ecrã que ordena o público a obedecer às suas ordens, que prontamente responde “Aye, Sir!” em uníssono. “Pressure” do álbum de 2018 “Simulation Theory”, “Won’t Stand Down” do ainda por revelar novo álbum, e outro clássico de 2003 “Stockholm Syndrome” provaram que os Muse sempre conseguiram e ainda conseguem fazer canções intemporais que se entranham nos ouvintes. Empunhado da sua guitarra de assinatura da Manson Guitars Works, Matt Bellamy demonstra todas as suas capacidades com o instrumento que parece ser uma extensão da sua voz, harmonizando vocalmente com os agudos da guitarra em canções como “Psycho”.
Se a sua poderosa voz é a estrela do espetáculo, a guitarra soou ligeiramente “baixa” e sem power em alguns dos refrões que deveriam ser mais épicos, como é o caso de “Plug In Baby”.
Se a sua poderosa voz é a estrela do espetáculo, a guitarra soou ligeiramente “baixa” e sem power em alguns dos refrões que deveriam ser mais épicos, como é o caso de “Plug In Baby”. “Madness”, “Supermassive Black Hole”, “Uprising”, “Starlight” e ainda um tema a solo de Matt Bellamy, “Behold, the Glove”, foram os últimos temas (pré-encore) a ser tocados com chuva a cair sobre uma plateia que não deixaria a inconveniência estragar o espetáculo. Aliás, houve quem achasse que a chuva era apenas mais uma das artimanhas que os Muse teriam programado para a noite – no meio de confetis, chamas, serpentinas, uma guitarra partida e, especialmente para o encore, um insuflável gigante de “Murph”, o robô que espera ansiosamente durante os concertos da banda para fazer a sua aparição final – afinal, é de conhecimento geral que os Muse não são banda de meias-medidas. Sem faltar mencionar a luva eletrónica que Matt Bellamy toca como um instrumento, semelhante à de Thanos, levando o público a questionar se, afinal, Matt é o dono das “Infinity Stones” cujo poder é enfeitiçar a plateia.
“Kill or be Killed” foi o primeiro tema a integrar o encore altamente impulsionado por um público que se deixa levar completamente pelo encanto dos Muse. Mas a banda ainda tinha alguns truques na manga – a orquestral “Knights of Cydonia” incentivou a mais chamas, mais serpentinas, e finalmente o grande final – uma série de fogo de artifício que disparou do alto do palco Mundo, assinalando um concerto que, uma vez mais, surpreendeu mesmo os fãs mais assíduos e certamente não desapontou aqueles que marcavam presença pelos ausentes Foo Fighters.