Foi o trabalho que SRV mais demorou a fazer. Mas a espera valeu totalmente a pena. É o álbum simétrico de “Texas Flood” e o último do bluesman com os Double Trouble.
Onde um é explosividade clássica de blues, com Stevie Ray a fazer estremecer o cânone, o outro é a emancipação do músico das suas bases, revelando-se, finalmente, como um compositor capaz de alimentar um álbum e capaz de, sem melindrar puristas, ir além da sua zona de conforto. Onde um estabeleceu o som e técnica do guitarrista, o outro estabeleceu a sua voz, o que o distingue criativamente.
Depois, “In Step”, cujo título parece querer dizer que SRV estava agora “alinhado” e com a sua dependência por drogas ultrapassada, é um álbum com aquela honestidade que só pode advir da redenção.
Pode especular-se se a sua abertura estética terá algo a ver com, pela primeira vez, John Hammond e o seu proselitismo blues estar ausente dos bastidores e composição do álbum. Seja essa ou não a razão, há mais diversidade estética mas, ao contrário do álbum anterior, há um sentido de unidade. Há um som mais próximo daquele açúcarado de produção dos álbuns de Clapton desta altura. E há um cheirinho southern rock.
Além disso, continuam a existir instrumentais de absoluto deslumbramento técnico, como “Travis Walk”, homenagem ao génio country Merle Travis. Falando em homenagens, as interpretações de “Let Me Love You Baby” e “Leave My Girl Alone”, originais de Willie Dixon e Buddy Guy, respectivamente, também são vibrantes.
Se o destino impunha que Stevie Ray haveria de morrer um ano depois, pelo menos permitiu que o guitarrista deixasse a sua mais honesta, original e vibrante marca no mundo da música.