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SWR 22: O Grande Bode Blasfema em Português

SWR 22: O Grande Bode Blasfema em Português

2019-04-26, SWR Barroselas Metalfest
Nero
Joana Cardoso
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Em dias separados, os Analepsy, os Namek e os Martelo Negro abriram o palco Warriors Abyss em grande estilo, numa edição em que o som dos dois palcos principais esteve a um excelente nível.

Chegados à vila minhota no dia 25 de Abril, a primeira boa surpresa foi constatar logo a presença de tanto público num dia de “aquecimento”. Uma tendência que se manteve até ao último dia de festival e fez desta edição uma das mais concorridas que temos memória.

Para lutar pela possibilidade de uma actuação garantida no mega festival Wacken Open Air, subiram a palco os Roädscüm, os Diabolical Mental State e os Grog. A veterana banda de grind fez-se valer da sua maior experiência e coesão, para conquistar o direito a viajar até à Alemanha.

Temo-lo repetido amiúde, o SWR tem evoluído de ano para ano, a nível de infraestruturas, conforto dos festivaleiros, produção, etc. Mas vale a pena referir que o som nos dois palcos principais esteve superlativamente bom. E isso foi transposto, de uma forma geral para as bandas, reflectindo-se em vários concertos acima da média. E as bandas portuguesas não foram excepção, especialmente as que abriram o palco Warriors Abyss, em cada um dos três dias de festival.

ANALEPSY

Incrível perceber o crescimento desta jovem banda num tão curto espaço de tempo. Ainda mais porque o quarteto lisboeta não inventou a roda. Contudo, o brutal death metal dos Analepsy é criativo, aplicado com destreza e violência por uma banda sólida, que soa uniforme. Com esse factor da qualidade de som do festival, a sua música e principalmente as guitarras de Marco Martins e Diogo Santana soaram bastante articuladas, tornando movimentos como o sweep picking ou os pinch harmonics em elementos dinâmicos e diferenciadores num género que, tantas vezes, “soa sempre ao mesmo”.

A fúria metódica da banda, alimentada por um volume gigantesco (ou foi o impacto da primeira chegada à tenda ou foi mesmo a banda que teve o som mais alto), tornou-se mais intempestiva com a subida de Sérgio Afonso (Bleeding Display) ao palco, para assumir as vocalizações. A banda funciona perfeitamente em quarteto e não fazemos ideia se esta colaboração, que já sucedeu noutras ocasiões, visa semear algo mais definitivo, mas com um frontman assumido, a postura cerebriforme dos Analepsy é algo desmontada, para melhor. Com os engenhosos guitarristas ainda mais soltos, a banda acabou por acrescentar groove aos predicados exibidos. Grande concerto.

 

MORTE INCANDESCENTE

Três músicos com bastante rodagem, mas que lutaram por revelar coesão. Pode ser permitida alguma condescendência, por motivos estéticos, afinal (mesmo com bom som) a banda conseguiu que o seu black metal soasse cru, como dita o cânone e como está registado nos seus discos, mas também sleazy. Talvez pelo balanço rocker que Nocturnus Horrendus (Alexandre Mota) possa ter mais entranhado, num momento em que está mais concentrado em Son Of Cain (cuja actuação não vimos no dia seguinte, porque colidiu com a de Demilich). Os puristas dirão que foi fenomenal, mas sendo mais abrangentes, já vimos cada um dos músicos fazer muito melhor, inclusivamente no SWR.

 

NAMEK

Que devastação! Catapultados por uma actuação explosiva do baterista Rolando Barros, ninguém diria que os Namek estiveram tanto tempo em hiato. Depois de, nos dez anos que passaram entre 2001 e 2011, se terem afirmado como um dos mais interessantes híbridos de death/grind saídos do underground nacional, desapareceram de cena até Junho de 2017, quando regressaram para celebrar o 11.º aniversário do icónico “Vaginator”.

No palco Warriors Abyss, além da monumental performance do baterista, os Namek deixaram um rasto de peso e groove que se entranhou a cada blast beat e a cada riff de afinações em drop. Super coesos e ligados uns aos outros, os músicos ofereceram uma energia demolidora aos temas. Walter Hoeijmakers (o fundador do icónico festival holandês Roadburn), convidado pela organização do SWR, a assistir ao concerto ao nosso lado, sem conhecimento prévio da banda, nem dos músicos, comentava sobre o frontman Simão Santos«He’s quite a character, isn’t he?»

Repetindo a ideia da qualidade de som que serviu o festival, os Namek usufruíram de uma mistura exemplarmente recortada, capaz de oferecer em detalhe cada pormenor instrumental e aumentando a dinâmica musical. Um concerto de elite.

 

MARTELO NEGRO

“Equinócio Espectral” foi uma bomba de devassidão, blasfémia e peso, que levou o concerto dos Martelo Negro no SWR, em 2014, a disputar o trono de um dos melhores de sempre do festival. O novo álbum “Parthenogenesis” mantém os pressupostos estéticos thrash/black metal da banda – um grande caldeirão sacrílego onde estão combinados Hellhammer, Celtic Frost, Napalm Death, os Entombed e uma certa atitude e cadenciação rock ‘n’ roll. Em comparação com esse concerto de 2014, talvez a meio de agressividade estridente de guitarras tenha faltado, desta vez, algum corpo de graves no baixo como contraposição.

Partilhando uma grossa parte do lineup de Namek, os Martelo Negro soaram como se chicoteados por Baphomet, com a bateria a soar com a precisão e violência de um demoníaco martelo pneumático. Quando se discute o quanto algumas bandas são apenas posers, os Martelo Negro exsudam autenticidade.

 

SERRABULHO

A rebaldaria festiva e o grind bem peculiar dos Serrabulho encerraram o festival. Ao fim de 4 dias na vila minhota, com alguns excessos, é preciso ser sincero e dizer que não nos lembramos de muito. É uma apreciação pouco pro e injusta para a banda. Contudo, lembramo-nos de que a festa foi rija, de que houve, como chamar-lhe, a “fila-do-apito-ó-comboio” e que o som dos transmontanos combinado com gaitas, foi algo que pareceu absolutamente correcto. [Com o tardio da hora e a necessidade de picar o ponto no dia seguinte, já não foi possível fotografar o concerto de Serrabulho. Comprem mais revistas!]