Inspirado num relativamente obscuro livro infantil, “La Ultrabomba”, do autor I. Sedarazzi (o livro foi mesmo banido em vários países), o álbum de estreia deste projecto foi uma das grandes surpresas do ano de 2012, saído mesmo no final desse ano. Com uma solidez impressionante nas estruturas e uma enorme vitalidade na produção sonora e arranjos durante todo o disco. A miríade de paisagens sonoras que percorre “Ultrabomb” é um recompensador exercício quebra-cabeças de descoberta de fontes estéticas, mas a forma como nos surge é surpreendentemente: simples e directo.
No fundo,”Ultrabomb”, se permitem a redundância, é como uma bomba a cair ou prestes a explodir.
“Ultrabomb” é tecido no cruzamento em que se interligam as vias do stoner rock, do psicadelismo e do prog rock. Mas não segue em nenhuma dessas direcções. É como se a banda tivesse optado por abrir um bar nessa encruzilhada e aí servisse bebidas e contasse histórias aos viajantes que percorrem os trilhos da história discográfica do rock.
A torrente de riffs sucede num encadeamento que faz um álbum conceptual tornar-se um passeio, em vez de um objecto de estudo intensivo. Poderia argumentar-se que, aqui ou ali, falta-lhe um tremendo solo de guitarra ou que o trabalho de teclados não é, exactamente, algo ao nível de um Keith Emerson (isto em termos de excentricidade ou demonstrações de virtuosismos). Contudo, isso nunca chega a ser um issue, muito devido ao sentido e bom gosto da instrumentação, que faz-nos pensar numa frase algo batida: não há highlights neste álbum, senão a sua própria totalidade. Diga-se apenas que o trabalho vocal, a maturidade e a atitude nas vozes, é algo, realmente, acima daquilo que ouvimos no universo pop/rock em Portugal.
Em sentido contrário a muitas obras-primas do rock psicadélico, “Ultrabomb” não nos remete para analogias herméticas. Antes, mantém-nos em consonância com o fluxo directo do seu instrumental e esbofeteia-nos com a realidade mundana: «They’re gonna make you think you own things / Just keep on thinking you’re the boss here / Just keep on reading your Time mag / Keep the Sundays for believing / And all the rest of the week to fuck the weak / Be exceptionally meaningless/ And so pretty nevertheless». “Ultrabomb” é a emancipação definitiva do rock português. Carregado de balanço e emocionante, chegando a ser épico!