Ulver

Na entrevista que deu à Arte Sonora, a ser publicada em breve, após o ensaio sonoro, Daniel O’Sullivan afirmava que o principal motivo da sua chegada à banda – qual raposa entre lobos – prendia-se com os anseios da mesma com um crescimento nas actuações em palco.

Se considerarmos a plasticidade, sensibilidade e capacidade musicais que o britânico demonstrou no Musicbox percebe-se que esse anseio está completamente satisfeito. No inverno os lobos unem-se em alcateia e fortalecem-se e o baterista Lars Pedersen solidifica com criatividade e feeling essa união, entre personalidades e entre as dicotomias estéticas da banda – o mundo digital e analógico. Uma prestação que mostrou exemplarmente a bateria como aquilo que é suposto ser, o coração de uma banda.

Os enlaces entre esses dois mundos, que são disciplinados por um certo minimalismo etéreo, como que prenderam o pouco público (para aquilo que o concerto merecia) sob camadas de transe hipnótico, o que as próprias imagens projectadas nas costas da banda sugeria e que tal como os ataques mais carregados de intensidade sonora também faziam quebrar consoante a condução emocional por onde a banda desejava transportar-nos. E esse é o grande factor de crescimento da banda, se olharmos o seu som por um prisma prático, a forma como agora consegue fazer crescendos dinâmicos nos temas, em que os vários momentos de cruzamento programação e som orgânico já não surgem tanto como colagens, mas como progressão.

A qualidade dos músicos [Kristoffer Rygg começou o concerto com alguma insegurança – talvez devido a ajustes da sua monição – mas emendou esse factor], do som e porque não dizê-lo do próprio espaço que surge renovado, acabou por transformar a noite de Sábado num dos melhores concertos que o Musicbox já acolheu, tal como a capital este ano.