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ENTREVISTA | Josh Teskey: A Alma Velha dos The Teskey Brothers

ENTREVISTA | Josh Teskey: A Alma Velha dos The Teskey Brothers

Rodrigo Baptista

Com a muito aguardada estreia em Portugal marcada para 8 de Abril no CCB, falámos com um dos irmãos dos The Teskey Brothers, Josh Teskey, sobre a sua “casa longe de casa”, o papel das plataformas digitais na divulgação da música australiana, almas velhas em corpos novos e como cantar em grupo pode ter um efeito terapêutico.

Foi em 2008, em Warrandyte, um subúrbio de Melbourne, que Josh Teskey (voz e guitarra ritmo) e Sam Teskey (guitarra solo) decidiram juntar-se para criar os The Teskey Brothers. Com uma sonoridade revivalista assente numa fusão de soul e blues, a banda começou por criar a sua base de fãs nas ruas da capital do estado de Victoria, mas rapidamente atraíram as atenções das editoras que reconheceram desde cedo o potencial do grupo. Em 2017 editaram o seu primeiro trabalho “Half Mile Harvest” pelas Half Mile Harvest Recordings,Decca e Ivy League, tendo recebido logo em 2018 uma nomeação nos Australian Independent Record Awards para Melhor Álbum Independente de Blues e Roots.

Em 2019 chegou o segundo trabalho “Run Home Slow”, e este sim foi o álbum que permitiu à banda vingar no mercado australiano, apresentando-se como prova as sete nomeações e as três vitórias nas categorias Melhor Grupo, Melhor Álbum de Blues e Roots e de Engenheiro de Som do Ano, para Sam Teskey, nos Australian Recording Industry Association Music Awards, os Grammys da Austrália. Agora, em 2023, preparam-se para lançar, a 16 de Junho, o seu terceiro longa duração intitulado “The Winding Way” e com ele vem também a estreia dos The Teskey Brothers em Portugal, com um concerto no Centro Cultural de Belém agendado para 8 de Abril. Josh Teskey é o frontman do grupo e falou com a Arte Sonora sobre o percurso da banda, as suas influências musicais e ainda desvendou o que podemos esperar do concerto no CCB.

Os The Teskey Brothers sobem ao palco do CCB no dia 8 de Abril. Ainda há bilhetes e podem ser adquiridos aqui.

Neste momento vocês estão num pequeno intervalo da tour. Como é que esta está a correr?
Tem sido fantástico. O espetáculo é maravilhoso. Andamos na estrada com uma banda de oito elementos, e nunca tivemos um conjunto de músicos tão extenso a acompanhar-nos. Temos alguns dos meus músicos favoritos de Melbourne e alguns da Nova Zelândia, e tem sido realmente incrível. Temos também uma excelente combinação de álbuns, estamos a promover o novo álbum “The Winding Way”, e ter estas novas músicas misturadas com o material mais antigo está a criar uma combinação fantástica. Os públicos também têm sido incríveis, as coisas estão a crescer e estamos entusiasmados por estarmos de volta à Europa.

Durante esta tour decidiram estabelecer-se em Portugal. Porquê? Tem que ver com o facto de Portugal ser o país mais próximo da Austrália no que toca à meteorologia, às praias e às ondas?
Completamente, acho que isso tem muito que ver com a nossa decisão. Tem sido ótimo, temos adorado a nossa estadia aqui em Portugal. Saímos da Austrália no verão, no fim de fevereiro, e esta é uma das melhores épocas do ano no nosso país. O sol estava a brilhar e não queríamos metermo-nos em Londres ou no Reino Unido onde o inverno ainda está a terminar, portanto tivemos que nos adaptar ao clima, e o mais próximo que encontrámos foi Portugal, onde o clima é menos rigoroso do que noutras partes da Europa. Temos ficado entre Lisboa e Peniche, e encontrámos nessa zona toda a comunidade surfista. Tem sido muito agradável.

O vosso som é reminiscente de uma era musical, a era soul dos anos 60, de onde surgiram nomes influentes como Otis Redding e Wilson Pickett. Na Austrália, o género desenvolveu-se com a cantora Renée Geyer, que assumimos ser uma grande influência. Como é que tomaram contacto com este género e decidiram que este era o tipo de música que queriam explorar ao longo da vossa carreira?
Acertaste em cheio! Muitos artistas australianos estavam a tocar este estilo de música enquanto crescíamos e apresentaram-se como influências antes de descobrirmos toda a cena americana. A maior parte dos portugueses pode não conhecer estes artistas, mas vale a pena ouvir nomes como Chris Wilson, Geoff Achison ou Max Merritt & The Meteors.  Muitos destes artistas surgiram como uma espécie de mentores enquanto crescíamos, particularmente um músico chamado Sam Linton-Smith. Ele ensinou-me a tocar harmónica e tocou com as nossas bandas desde que tínhamos treze/catorze anos e muitos dos músicos que temos aqui, como o nosso baterista Nick Lawrence, tocaram nas minhas primeiras bandas, quando tinha doze anos. Aliás foram estes artistas que nos mostraram os álbuns que os influenciaram e que atualmente também são influências nossas. Foi o Sam que nos mostrou álbuns de Sam & Dave, Otis Redding, Wilson Pickett e de toda a cena de Muscle Shoals.

Seja por questões associadas à distância geográfica ou à falta de promoção da música, é importante reconhecer que ainda existem muitos artistas australianos que não surgem no radar europeu. Ao mencionares todos estes nomes certamente que muitos dos nossos leitores estarão a partir agora muito mais atentos aos artistas que estão a dar cartas na Austrália.
Sim. As coisas têm se tornado mais interessantes nesta era moderna com os artistas australianos a terem mais oportunidades de fazer tours no estrangeiro e de ter a sua música disponível nas plataformas digitais. Nos anos 60 e 70 era muito raro teres um artista australiano a quebrar para o mercado americano ou europeu. Uma das maiores influências na música australiana foi um cantor soul chamado Jimmy Barnes. Ele é um artista gigante na Austrália e nunca teve uma grande legião de fãs na Europa ou na América e ele é provavelmente o maior artista australiano de todos os tempos. Então agora é interessante ver que existem muitas mais bandas australianas nos palcos do mundo, algo que se deve à maior acessibilidade que temos no que toca à oferta musical.

Soube que era isso que queria fazer quando vi artistas a cantar como o Ray Charles ou o Charles Bradley, pois eles transpunham cada bocadinho das suas emoções para as suas performances e deixavam tudo em palco, e isso era o que eu sempre quis fazer.

Josh, tu tens uma voz soulful bastante distinta. Muitos dizem que é um produto de uma alma velha que tens dentro de ti, uma alma que tem visto e experienciado muito ao longo dos anos. Concordas com esta perspetiva?
Gosto de pensar que sim. Espero que sim. Acho que para mim, o importante é cantar com emoção e paixão, independentemente do assunto sobre o qual estás a cantar. Todos os meus cantores favoritos fazem isso, e no contexto da performance ao vivo adoro demonstrar a minha vulnerabilidade perante o público. Soube que era isso que queria fazer quando vi artistas a cantar como o Ray Charles ou o Charles Bradley, pois eles transpunham cada bocadinho das suas emoções para as suas performances e deixavam tudo em palco, e isso era o que eu sempre quis fazer. Portanto, acho que é pegar nas coisas que estamos a cantar com as quais nos relacionamos, as histórias de amor, de perda e de vida que todos experienciamos e tentar expressá-las de forma verdadeira com o objetivo de criar uma viagem espiritual seja num espetáculo ao vivo ou num álbum.

Vamos falar um pouco sobre o vosso próximo álbum “The Winding Way”. No Youtube, o vídeo de “Oceans Of Emotions” refere no título que é a parte 1 de 3, isso significa que podemos esperar uma trilogia conceptual de músicas? O que é que podes adiantar em relação a isso?
Sim. Nós queríamos fazer uma série de videoclipes com um fio condutor entre eles, porque sentimos que este álbum apresenta um tema comum a todas as músicas, tema esse que aborda as histórias de vida, os seus caminhos sinuosos, as viagens e os desafios inesperados. Portanto, estes videoclipes falam desse tema no sentido em que várias experiências de vida de outras pessoas podem te levar por diferentes jornadas e fez então sentido juntarmos os videoclipes como uma montagem destas diferentes histórias de vida.

A canção “Hold Me” é o vosso maior sucesso. É uma canção que incentiva à participação do público e estão a usá-la para fechar os concertos. Quando a escreveram tinham isso em mente, escrever uma canção que pudesse envolver todo o público de forma a tornar o espetáculo mais imersivo?
Não acho que isso tenha sido intencional quando a escrevemos. Esta é uma composição do Sam Teskey, e aquilo que ele sabia quando a trouxe para cima da mesa era que o seu arranjo teria de ser bastante despido e minimalista, pois sabíamos que nunca seria uma música para ser tocada com banda. Decidimos centrarmo-nos nos elementos mais básicos como as palmas e sempre a vimos como uma música para ser cantada em harmonia com outras vozes. O que nós não tínhamos ideia era que quando a tocássemos ao vivo, existiria uma necessidade natural do público para a cantar em conjunto, mas foi algo que surgiu de uma forma orgânica. Quando começámos a tocá-la ao vivo, tornou-se num sing along extremamente agradável e desde então passou a ser o grande momento do nosso espetáculo, algo que depois percebi que faz parte de uma viagem espiritual de ir a um concerto ao vivo e de se criar uma conexão entre o público e a banda. Cantar em grupo é algo que é importante e que desejamos dentro de nós e acho que é algo que já não fazemos tantas vezes como se fazia antigamente. Ao longo da história sempre cantámos em conjunto, algo que agora parece estar em falta, portanto quando as pessoas o fazem sobressai todo um sentimento de alegria que está dentro de nós e poder testemunhar essa reação é extremamente agradável, pois vemos lágrimas e toda a emoção no seu estado mais puro.

O que é que os fãs podem esperar do vosso concerto de estreia em Portugal no Centro Cultural de Belém em Lisboa?
Mal posso esperar por tocar em Lisboa. Temos a maior banda com a qual já alguma vez tocámos. Este é o espetáculo mais incrível que já fizemos e também o que melhor nos define. Em palco temos um órgão, keyboards, uma secção de metais, portanto vai ser especial nesse sentido. Para além das músicas dos nossos dois primeiros álbuns vamos ainda tocar músicas que ainda não foram lançadas, e que ninguém ainda ouviu. Particularmente para Lisboa temos estado a ensaiar músicas novas que iremos tocar pela primeira vez, portanto vocês serão os primeiros a ouvi-las. Estamos mesmo muito entusiasmados para tocar aí.