Tó Trips, Guitarristas Preferidos & Influências
Tó Trips revela como começou a tocar guitarra e quais os guitarristas que tiveram um papel determinante na sua paixão pelo instrumento e no desenvolvimento da sua linguagem musical.
Para criar algo especial para uma edição que, em 2018, celebrou 10 anos de publicações queríamos algo que fosse inédito ou, no mínimo, incomum, na nossa imprensa musical. Isto, claro, além dos artigos sobre instrumentos e equipamento musical de sempre. Então surgiu a ideia de reunir numa edição histórica dez grandes guitarristas portugueses.
Um dos escolhidos foi Tó Trips. Um músico da segunda geração rocker portuguesa, impactado pelo som da frente, pelo Rock Rendez Vous e pelo Johnny Guitar. Antes de se tornar aclamado ao lado de Pedro Gonçalves, fez parte de uma das vagas mais explosivas do underground nacional. Na extensa entrevista, Tó Trips conta-nos as histórias daqueles dias do punk alternativo de Amen Sacristi, do experimentalismo de Santa Maria, Gasolina Em Teu Ventre ou do peso de Lulu Blind.
O guitarrista também nos confessou como começou a tocar e quais eram as suas referências. Para a entrevista completa, podem adquirir um exemplar da revista na nossa loja, para descobrir os heróis de Trips, basta fazer scroll.
Ainda te lembras do que te moveu para a guitarra?
Ia passar as férias grandes à Covilhã, a terra da minha mãe, e um tio meu tinha lá uma guitarra. Como não havia muita coisa para fazer lá, comecei a tocar, a sacar as notas do “Smoke On The Water”, dos Deep Purple [risos]. Depois aqui em Lisboa, nessa altura de adolescente, andava na D. Pedro V e foi quando abriu o Rock Rendez Vous, mesmo ao lado da escola, e comecei a parar lá e a formar umas bandas. Ao fim ao cabo fui autodidacta.
E tinhas algum guitar hero?
Na altura, curtia os Bauhaus e o Daniel Ash a tocar guitarra. Mais tarde também comecei a ouvir Nick Cave, mas antes dos Bad Seeds, com os Birthday Party – curtia o guitarrista, o Rowland [S. Howard], porque tanto ele como o Daniel Ash não eram os gajos da notas, eram mais os gajos do som! Mais tarde tive uma banda que eram os Amen Sacristi e ouvia muito The Cure, Echo & The Bunnymen; mais tarde descobri o Glenn Branca e os Sonic Youth com o Jorge Ferraz, que me convidou para tocar nos Santa Maria, Gasolina Em Teu Ventre!. Com ele descobri essa malta mais do noise.
Que de alguma maneira se consegue associar também ali aos Lulu Blind, mais ao peso?
Sim, porque entretanto para a formação dos Lulu Blind entrou o Carlos Luz (na guitarra), que curtia mais Napalm Dead, John Zorn, e trouxe essas referências todas mais pesadas. Na altura, nos anos 80, como me dava com malta mais velha, ouvia tudo, desde Sex Pistols a Iron Maiden, Yes, Uriah Heep… Era uma grande miscelânea. Depois quando comecei a parar no Rock Rendez Vous é que comecei a ouvir coisas mais novas: som da frente, new wave, punk. E já nos 90, com o Carlos Luz, começámos então a descobrir esse pessoal mais da pesada. Também foi em 1990 que fui ao Festival Reading ver Sonic Youth – o Reading foi o primeiro festival a que fui. Vi os Sonic Youth, vi os Cramps e em ‘92 ainda vi os Nirvana, à tarde, antes de rebentarem! Como venho mais da cena do Rock Rendez Vous e da cena do punk, basicamente era pessoal autodidacta. Nos anos 80, acho que o som que prevalecia mais era a secção rítmica e as guitarras estavam ali a colorir. Excepto na cena mesmo punk, que era mais dos acordes. Depois nos anos 90 é que se deu um foco maior ao som das guitarras, que tomaram a cena do grunge. Nunca fui muito gajo dos guitar heroes. Havia o Jimi Hendrix, havia o Jimmy Page, os clássicos, mas sempre fui mais de som de banda, de ter uma banda. E tinha os Lulu Blind – quando acabaram é que comecei a ouvir outro tipo de coisas, tipo Marc Ribot; também foi na altura que comecei a ouvir mais Carlos Paredes. Comecei a ouvir outro tipo de malta a tocar, sem ser o pessoal do rock.
O new wave, post-punk, a própria guitarra portuguesa… Foi no meio disso tudo que começaste a criar a tua linguagem?
Até aí, até 2000, até aos 35 anos, tinha um emprego, trabalhava em publicidade. E tive sempre bandas, desde 85. Lembro-me de ler uma entrevista do Paulo Pedro Gonçalves, dos Heróis do Mar e LX-90, em que dizia que o pessoal não se devia arrepender e devia sempre arriscar. Li aquilo e despedi-me do emprego, larguei os Lulu Blind, larguei a namorada, ou seja, fiz um reset. Fiquei freelancer e a partir daí tive mais tempo para passar horas à volta da guitarra. Não era um gajo que ligasse à técnica, era mais a cena da banda e nunca fui de solos. Foi a partir daí que comecei a aplicar-me na guitarra e a ouvir outras coisas… Se assobiares os “Verdes Anos” mais lento, imagina se isso for em guitarra eléctrica. Lembro-me de chegar a casa e vinha a assobiar os “Verdes Anos” – é lógico que é uma música muito mais rápida – e depois fui tentar fazer aquilo numa guitarra eléctrica [sim, temos o Tó Trips a recriar os sons, património fonográfico da AS]. E penso, «isto parece um Western, podia ser a música de um Western». E foi assim que surgiu essa ideia de aproveitar esse lado mais do fado, da música portuguesa, da guitarra portuguesa e passar isso para guitarra eléctrica. Mas de forma harmónica, porque não sou gajo de escalas, não sei notas.