A Magia Felina de Xenia Rubinos
Em entrevista, a vibrante multi-instrumentista fala-nos do álbum Black Terry Cat e confessa sonhar com Lisboa!
O álbum “Black Terry Cat”, lançado em Junho de 2016, confirmou Xenia Rubinos como uma das compositoras capazes de criar novas linguagens musicais verdadeiramente estimulantes. As novas canções surgem com a sua típica excentricidade propulsiva e estão mais enriquecidas pela extravagante ostentação da capacidade que Rubinos possui para transversar géneros do R&B ao hip-hop, passando pelo jazz e funk, deixando atrás de si um aroma punk!
Na produção do álbum, editado pela conceituada Anti-, Rubinos está acompanhada pelo seu baterista de sempre, Marco Buccelli e pelo engenheiro de som Jeremy Loucas. Os três trabalharam em conjunto e diariamente durante 5 meses para criar um dos grandes álbuns do ano. No dia 09 de Novembro, Xenia Rubinos regressa a Portugal, ao Sabotage, para apresentar “Black Terry Cat”.
Neste disco encontram-se várias referências à etnia e à tua ascendência latina. Dirias que a justiça social e o activismo é uma característica fulcral do álbum?
Diria que isso é parte do disco, mas a característica mais importante deste álbum é que consiste em música centrada na voz e carregada pela batida. É muito influenciado pelo hip-hop e pelo R&B e acho que esse é o aspecto que mais o define. E depois, numa componente mais lírica, há canções que se focam mais no comentário social, em ser-se uma pessoa de cor nos Estados Unidos e, de uma forma geral, na forma como funciona o mundo.
Recentemente assinaste com a Anti para o lançamento deste disco. Qual é o sentimento de se estar numa gravadora de alto calibre com artistas como Tricky, Wilco ou Tom Waits?
É uma grande família para se fazer parte. Estou orgulhosa de poder ter trabalhado com a Anti- neste álbum. O Andy Culkin, que iniciou a editora, viu-me ao vivo uma vez e foi assim que nos conhecemos. Ele é uma pessoa muito inspiradora de se conhecer, conhece muita música e só edita álbuns de que gosta pessoalmente e em que acredita, em oposição àquilo que está na moda ou o que for. Admiro muito a sua estética e a estética da gravadora, e é óptimo estar na companhia de artistas tão talentosos como o Tom Waits e tantos outros.
O tempo é a derradeira ferramenta para ajudar na concentração e em retirar o que é preciso das sessões de gravação.
O processo de gravação foi mais fácil quando comparado com o lançamento independente de “Magic Trix”?
Editei “Magic Trix” com o Marco Bucelli, o meu baterista nos dois discos que lancei até à data. Começámos uma editora chamada Jabba Jabba Music, através dela lançámos o meu primeiro álbum e, um ano depois, licenciámo-lo à Amoeba Music, baseada em Brooklyn, que foi a primeira gravadora profissional com que trabalhei. Lançaram o meu álbum em 2013. Com este disco, a gravação em si fomos nós que a fizemos, obviamente, foi independente da gravadora, mas tínhamos mais recursos que aqueles de que dispúnhamos anteriormente. Mas no processo de fazer este disco, pudemos trabalhar de forma mais detalhada, porque tivemos mais tempo para o fazer. Uma diferença, por exemplo, foi o facto de ter demorado mais tempo a gravar os vocais, especialmente. Pensar aprofundadamente sobre cada faixa de vocais e na forma de usar a minha voz nas canções. Tudo foi muito detalhado, cada coisa que surge no disco foi pensada e trabalhada ao pormenor, nada está lá por acidente. Não diria que foi mais fácil que gravar o primeiro disco, mas todos nós crescemos muito – a equipa que fez este disco é a mesma de “Magic Trix”, Jeremy Lucas como engenheiro de som e Marco Bucelli como produtor – e fomos capazes de ser mais específicos com muitas das escolhas que fizemos. Às vezes tudo o que precisas é tempo, o tempo é a derradeira ferramenta para ajudar na concentração e em retirar o que é preciso das sessões de gravação.
Ao falar da tua música, algumas pessoas têm estabelecido comparações com artistas como St. Vincent, FKA twigs ou mesmo Merrill Garbus (Tune-Yards), no sentido da reinvenção das influências tradicionais do R&B e do soul. Vês alguma verdade nestas referências e consideras-te parte desta espécie de movimento?
Consigo reparar nas semelhanças entre essas artistas mas, ao mesmo tempo, acho que cada uma tem um trabalho diferenciado, pelo que não tenho a certeza se as consideraria colectivamente um “movimento”. De entre as três, aquela com que estou menos familiarizada é a FKA twigs. Conheço o seu trabalho, mas nunca ouvi um álbum inteiro… Não me sinto como se pertencesse a qualquer movimento em particular, só estou a fazer a minha música e a moldar o meu som. Mas sou uma grande fã da St. Vincent e da Merrill Garbus, a música delas é muito emocionante e inspiradora para mim, principalmente enquanto estava a escrever o meu primeiro disco. Neste álbum estava a ouvir mais hip-hop, funk e soul, J-Dilla e os conceitos de sampling… Eram algumas das referências musicais que estavam mais presentes na altura. Mas não, não me sinto parte de nenhum movimento, estou só a tentar construir a minha sonoridade.
Nunca tive como ponto de partida o objectivo de fazer um disco com uma estética desafiante.
Há uma série de diferentes géneros e influências presentes em “Black Terry Cat”, e também algo de muito experimental, ambicioso na forma como as canções são construídas. Vês estas características como obrigatórias no processo de gravação ou é algo que surge com naturalidade?
Só estou a fazer música, não estou a tentar ser complicada com as coisas ou fazê-las mais difíceis que aquilo que têm de ser. Sou curiosa acerca de maneiras diferentes de construir ideias e de apresentar ideias, mas nunca tive como ponto de partida o objectivo de fazer um disco com uma estética desafiante ou algo do género, só estou a fazer o que acho que funciona.
Vais estar em digressão pela Europa durante Outubro e Novembro, incluindo uma data em Lisboa, no Sabotage Club…
O meu primeiro concerto em Portugal foi em 2013. Então será a minha segunda ida a Lisboa e mal posso esperar para voltar. Lisboa é um dos melhores lugares que já visitei, tenho sonhos com a cidade, acho que é um local incrível e estou muito ansiosa para retornar. Estarei lá na segunda semana de Novembro, como parte de uma digressão de três semanas na Europa a começar a 24 de Outubro.
O que podem os fãs portugueses esperar desta segunda performance no país?
Tenho uma nova banda, somos um quarteto agora. Da última vez que vim éramos só uma dupla. O Marco ainda toca bateria, mas agora temos dois novos membros. Isso dá-me mais liberdade para dançar e dar um espectáculo mais físico. Os meus espectáculos são sempre cheios de energia e agora podem esperar bastante mais disso. Os fãs podem estar à espera de muito do novo disco e algumas das canções antigas também, e de um espectáculo muito divertido e enérgico, com muito suor e dança.