A breve paragem de Um ao Molhe por Lisboa
2016-02-06, Sabotage ClubO festival itinerante regressou à capital para mais uma edição de showcases a solo.
O festival Um ao Molhe agraciou-nos com a sua passagem pela capital, no sábado passado, após a grande festa de apresentação em Ponte de Lima. Foi ali no Sabotage, um dia após o concerto de Parkinsons que deu muito que falar.
O conceito é simples: um festival itinerante com um produto fantástico. Só que em vez de derivados de banha de cobra, apresenta-nos showcases de projectos a solo de artistas portugueses.
Quem entrou primeiro foi Calcutá, alguém que já tinha subido àquele palco rasteiro como guitarrista dos Mighty Sands. Desta vez por sua conta, revelou-se mais do que capaz de ocupar aquele espaço.
Sem banda, naturalmente, porque as regras do Um ao Molhe assim o exigem.
No seu registo folk, nota-se ainda algumas referências surf rock que porta dos seus colegas de banda. Contudo, não deixa de dar o seu próprio cunho com elementos devotional, freak folk, e dialectos que não tive coragem de perguntar se eram autênticos.
Apenas de guitarra na mão e microfone – e um harmónio lá mais para o final, creio – conseguiu encantar a sala, meio cheia, com as suas invocações psicadélicas.
Coube, pouco mais tarde, ao Coelho Radioactivo de dar continuidade às festividades. Sem banda, naturalmente, porque as regras do Um ao Molhe assim o exigem.
Apesar de ter despachado o set, conseguiu entregar aquilo que esperamos de um concerto seu. Músicas pop introvertidas sobre amores autodestrutivos, com letras pesadas e assustadoramente belas.
Só faltava dizer que odeia os Eagles.
Há que dá dar o devido reconhecimento às duas últimas actuações. OroborO foi o único que se aventurou em palco com um baixo. De forma meio aguitarrado, tocou-o como se não houvesse amanhã. O resto da banda encontrava-se bem arrumadinha na sua loop station.
Aproveitou que estava em Lisboa para fazer uma homenagem a Fernando Pessoa, e entre headbangs e extensos solos, adaptou uns versos à sua maneira de rock escavado.
Já o grande Nick Nicotine, figura mítica barreirense, foi quem soube interpretar o conceito de one man band melhor do que qualquer outro.
Apresentou-se sentado, abraçado à guitarra com um pé no pedal bombo e outro no prato de choque com uma pandeireta em cima. E apesar de ser o mais velho em palco, mostrou uma postura quase à Lebowski, neste caso à Dude. Portador de um sentido de humor constante, mas com uma postura sempre relaxada, quase zen.
Tocou malhão atrás de malhão, até porque tem repertório para isso. Meio blues, meio rock’n’roll¸ deu as suas devidas lições, não só musicais como da vida. Não que seja o pai de todos. É apenas o tio divertido.