Bad Religion Dinamitaram Sala Tejo
2019-05-15, Sala Tejo, Altice ArenaClássico atrás de clássico, malhas atrás de malhas. Os Bad Religion ofereceram uma noite memorável a Lisboa, através de uma energia inesgotável e um extraordinário e dinâmico alinhamento que percorreu a sua carreira.
É incrível perceber que uma banda tão axiomática como Bad Religion só em 2019 visitou, pela primeira vez, Lisboa. E, mais incrível ainda, 19 anos depois do seu único concerto em Portugal, no festival Paredes de Coura.
Vale a pena lembrar que os Bad Religion são uma das maiores instituições do punk rock mundial, uma peça chave para entender o género na sua vertente lírica e instrumental. Neste último aspecto, a dupla de guitarristas composta por Mike Dimkich e Brian Baker (o guru Brett Gurewitz ficou, como sucede na maior parte das vezes, na solarenga Califórnia) foi soberba.
Estavam armados ferozmente. Dimkich com uma Gibson Les Paul Special Double-Cut (que usou no grosso do alinhamento) e uma ’58 Junior Double-Cut (usada na última parte do concerto) ligadas a um Marshall JCM 800 e Baker com uma ’55 Les Paul Junior ligada a um par de Marshall Silver Jubilee. Criaram uma tremenda parede de médios, com uma dinâmica vibrante nos ritmos e solos, com o som sempre a furar. Verdade seja dita, não se esperava menos de uma dupla cujos currículos contam com trabalhos junto dos The Cult e Cheap Trick (Dimkich) ou como fundadores de lendas como os Minor Threat ou Samhain (Baker).
Pregadores de um som e cultura que abunda nos Bad Religion, cuja estética se tornou uma referência na sub-cena punk, em particular, e no rock, no geral, criando um extenso catálogo e um histórico de temas de enorme sucesso, cuja execução na Sala Tejo não deu um minuto de tréguas ao público. E aqui deve destacar-se a explosiva prestação de Jamie Miller. O baterista revelou uma energia e poder de batida inesgotáveis, do primeiro ao último minuto do concerto. Só podemos imaginar o massacre que teria sido (leia-se pela positiva) se tem tido um som de bombo ao nível daquele que serviu os Mad Caddies. Aproveitar que o ska orelhudo destes californianos deixou os ânimos em ponto rebuçado – talvez tenham mesmo entusiasmado mais algum do público presente do que os próprios headliners.
Assertivamente, a t-shirt de Brian Baker lembrava-nos: Melvins rule, you do not
Com a intensidade no máximo e com Greg Graffin a limitar-se a exortações mínimas, na interacção com o público entre os temas, as novidades de “Age Of Unreason”, as canções “Chaos From Within”, “My Sanity”, “Loose Your Head” e “Do The Paranoid Style” (esta já mais perto do final) resultaram como se qualquer um dos muitos clássicos se tratassem, soando com a mesma vibrante idiossincrasia que bombas como “Generator”, “Stranger Than Fiction”, “Fuck You”, “New Dark Ages”, “Fuck Armageddon… This Is Hell” ou “Punk Rock Song”.
Difícil será não apontar a ironia, tão evidente foi, de ver a banda tocar um dos seus mais emblemáticos singles, “21st Century (Digital Boy)”, para uma plateia cheia de gente a filmar o momento com os seus smartphones ao invés de o ver realmente. Apetece apontar para a t-shirt de Brian Blake, que dizia: “Melvins rule, you do not”.
Um concerto que passou a correr, com o encore (composto por “Sorrow”, “You” e o über clássico “American Jesus”) a chegar demasiado rápido. Numa noite memorável, com muitas promessas de nunca mais deixarem passar 20 anos antes de outra visita, entre muitos outros temas, faltou a este sentimentalão que vos escreve, ouvir “Better Off Dead”. Voltem depressa!
SETLIST
- Them and Us
Chaos from Within
Generator
Stranger Than Fiction
The Dichotomy
Recipe for Hate
Fuck You
Flat Earth Society
Automatic Man
New Dark Ages
Supersonic
Social Suicide
My Sanity
Suffer
Anesthesia
Sinister Rouge
Lose Your Head
Atomic Garden
Los Angeles Is Burning
I Want To Conquer The World
21st Century (Digital Boy)
No Control
Struck a Nerve
Do the Paranoid Style
Fuck Armageddon… This Is Hell
Infected
Punk Rock Song
Sorrow
You
American Jesus