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Arcade Fire, Expansão

Arcade Fire, Expansão

2018-04-23, Campo Pequeno
António Maurício
João Pedro Padinha
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Fotos cedidas por: João Pedro Padinha @joaopadinha (instagram) // Sony Music Portugal / @sonymusicpt (instagram)

Os canadenses encheram o Campo Pequeno e entregaram-se numa energia insaciável e produção mesmerizante, aceites de braços abertos. Uma performance que justificou o estatuto alcançado pela banda.

Imenso barulho durante a entrada dos Arcade Fire no Campo Pequeno. O palco simulava um ringue de boxe e a entrada foi efectuada de forma cinemática (de acordo com o desporto referenciado) através da captação de vídeo em directo para os 4 LCD’s gigantes suspensos no meio do recinto, acompanhando o percurso da banda entre o público até chegar ao palco. Uma entrada empolgante e pomposa que sinalizava a certeza e a confiança de uma banda que sabe exactamente o que vai fazer, e sabe que vai ser bom. Não só musicalmente, mas também visualmente.

“Everything Now” foi a música de aquecimento, com muito movimento no palco 360º. Este tipo de palco revelou-se poderoso porque, primeiro, cria um maior sentimento de proximidade com o público e, segundo, tem uma melhor capacidade de exibição quando relacionado com bandas mais numerosas do que o normal. O constante movimento dos Arcade Fire, em dança, troca de posições, troca de instrumentos ou até mesmo as inúmeras subidas do capitão Win Butler por todo o lado, criaram uma dinâmica que, em conjunto com os visuais em nos LCD gigantes (com efeitos “ao vivo”), prendiam o nosso olhar enquanto a música nos atingia com o golpe final. Mas não era um golpe certeiro porque o som no Campo Pequeno esteve muito longe de perfeito. A enorme instrumentalização da banda ficou emaranhada entre as paredes do espaço, com os diferentes instrumentos a chocarem entre si e a acústica da sala, ao invés de caminharem em conjunto. Uma baixa-definição sonora que se intensificava nos momentos de maior êxtase…

Houve vários momentos em que as canções, na conjugação de melodia e visuais, ganharam uma dimensão épica, com uma força emocional irresistível.

No entanto, o ânimo e a energia estavam tão altos que o importante era, de facto, festejar. Em “Rebellion (Lies)”, William Butler subiu a um dos pilares para um toque aéreo no tambor; em “Here Comes The Night Time”, a plataforma do baterista Jeremy Gara começou a girar; e em “It’s Never Over (Oh Orpheus)”, Régine Chassagne desapareceu subitamente e reapareceu no topo de uma das pontas do Campo Pequeno para destaque vocal, voltando ao palco depois de bailar lentamente entre o público. O ponto principal de um concerto é e será sempre o som, mas é óbvio que ao vivo gostamos de ver uma realidade aumentada dos nossos artistas favoritos. Algo que possa ser guardado na memória e mais tarde relembrado quando voltamos a ouvir a música nas nossas colunas ou auscultadores. A produção dos Arcade Fire sublinha esse sentimento com o imenso trabalho por trás do visuais que se relacionam sempre com a música a ser reproduzida, com as luzes que assumem cores e tons diferentes também de acordo com a sonoridade, a utilização do fumo limitada mas certeira ou até as duas gigantes bolas de espelhos que só foram “ativadas” perto do final. Está tudo pensado, programado, sincronizado e assenta como uma luva.

O álbum “Funeral” e o recente “Everything Now” foram os mais rodados, com sete e seis faixas de cada, respectivamente. A reprodução do trabalho de “Everything Now” ganhou uma maior vida ao vivo mas, foi evidentemente menos aclamada e pujante em comparação com a discografia passada que se afirma superior no sentido instrumental e vocal. O encore entregou mais três músicas, com a companhia da Preservation Hall Jazz Band a acrescentar mais camadas de som com saxofones, trombones e trompetes em “Everything Now (Continued)” e na final “Wake Up”, que ganha uma força irresistível ao vivo, com uma transição final bem mais épica e volumosa. A saída foi gloriosa, através de uma caminhada lenta entre o público com os instrumentos a soltarem as notas finais até à porta de saída. Já estavam todos fora de cena e não queriam parar nem sair. Nem nós.

SETLIST

  • Everything Now
    Rebellion
    Here Comes The Night Time
    Haiti
    No Cars Go
    Electric Blue
    Put Your Money On Me
    It’s Never Over
    Neighborhood #4 (7 Kettles)
    Laika
    Tunnels
    The Suburbs
    Ready To Start
    Sprawl II
    Reflektor
    Afterlife
    Creature Comfort
    Power Out
  • We Don’t Deserve Love
    Everything Now (Continued) [Com Preservation Hall Jazz Band]
    Wake Up [Com Preservation Hall Jazz Band]