CCB rendeu-se aos Orelha Negra
2016-01-16, Centro Cultural de Belém, Grande Auditório, LisboaA banda apresentou-se no Grande Auditório, em Lisboa, para apresentar o seu novo álbum.
Foi em outubro que os Orelha Negra anunciaram a apresentação de novo material no CCB, em Lisboa, e no Hard Club, no Porto, agendados para janeiro do ano seguinte. Até lá, foi também anunciado que a sala lisboeta encontrava-se lotada. Com tudo isto, foi apenas quando se chega à entrada do Grande Auditório que a sensação de déjà–vu aperta. Eles já tinham feito isto antes!
Em antevisão ao segundo álbum, deram um concerto no início do ano que revelou o que se poderia esperar do seu próximo lançamento. E no sábado passado repetiram a mesma proeza.
Mal abrem as portas, entra uma enchente de pessoas que procuram, com o bilhete encostado ao nariz, o lugar assinalado no papel. O entusiasmo era unânime. A última vez que se ouviu novo material de Orelha Negra foi em 2013 e naquele frenesim para encontrar o lugar, parecia evidente a vontade colectiva de ouvir o que aquele grupo de amigos teria para oferecer desta vez.
As luzes apagam-se e sente-se uma cidade nocturna projectada na sala. No palco, apenas as sombras das silhuetas do grupo reveladas por uma cortina pouco reveladora. É assim que a banda se apresenta para as primeiras duas faixas. E logo de partida nota-se uma diferença nas músicas apresentadas. Sente-se cada vez mais a formação em torno de uma de live band e menos em samples. Os samples estão lá! Mas nunca antes se ouviu o baixo de Francisco Rebelo tão sentido como naquelas primeiras duas faixas.
A cortina eventualmente levanta-se e, por consequente, o entusiasmo também. As caras são as mesmas e o sentimento também. Mas aqueles em palco são os Orelha Negra como nunca antes vistos.
A posição em palco mantem-se idêntica, sim. Alinhados, debruçados no seu instrumento, nunca dando a cara. Mas o que é impressionante, mesmo depois de tantos concertos, é a cumplicidade musical que transmitem. Não precisam de se mexer. Basta um abanão de cabeça esporádico para perceber que todos eles estão em sintonia e que aquela ambiente de jam é na realidade perfeitamente orquestrado.
E, no entanto, evidenciaram algumas alterações na sua apresentação. Em primeiro lugar, a produção de luzes estava fenomenal. Mas mais importante, trocou-se aquela fluidez perpétua entre faixas por curtos interlúdios falados que, por breves segundos, permitiam respirar entre canções.
Já os samples aparentam-se mais afunilados do que os do álbum anterior. Que não haja espaço para dúvidas, as influências hip-hop, soul, gospel, funk, disco e jazz são as matrizes do próximo álbum. Características que lhes iram valer algumas comparações a Badbadnotgood no futuro, não fossem elas já feitas anteriormente.
Quando estão prestes a sair de palco, sente-se que conseguiram aquilo que queriam. Deixar o público rendido ao que está para vir. Caso sobrasse algum céptico na sala, voltaram para um encore com a “961919169”, seguida da “Throwback” e “M.I.R.I.A.M.”. Game over.
Dá-se o act como terminado. Olham uns para os outros, abraçam-se e percebe-se o sentido de orgulho que a banda sentia. Foi um concerto importante para os Orelha Negra.
Foi também uma premonição do quanto se vai falar sobre a banda durante o resto do ano.
Fotos cedidas por Vera Marmelo. Podes ver mais fotos do concerto aqui.