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Ghost @ Estádio do Restelo: Imprimatur

Ghost @ Estádio do Restelo: Imprimatur

2019-05-01, Estádio do Restelo
Nero
Inês Barrau
7
  • 8
  • 8
  • 7
  • 6

Em ambiente de anti-missa campal, os Ghost celebraram uma liturgia exemplar, baseada no cânone heavy metal e hard rock das décadas de 70 e 80.

Por vários motivos e por nenhum em especial, a AS (pelo menos quem vos escreve) ainda nunca tinha tido a oportunidade de fazer reportagem a um concerto dos Ghost. Isto apesar de seguir os suecos desde o seu álbum de estreia, “Opus Eponymous”, pela Rise Above, a influente label de Lee Dorrian (músico com um passado nos Napalm Death e Cathedral que fala por si). Por isso, acabou por ser algo frustrante vê-los tocar a maior parte da sua setlist sob luz diurna e com um som muito sofrível, pelo menos no que respeita ao volume geral, afinal bateria e guitarras estiveram sempre bem equilibradas e na frente do som (com algum prejuízo para teclados e voz).

Ainda com clareiras no Estádio do Restelo, especialmente nas bancadas, se não surpreendeu ver a banda agarrar o público pelos colarinhos, foi gratificante ver uma percentagem deste cantar uma setlist preparada para conquistar de imediato, mesmo que epidermicamente em alguns casos. Prova do talento de Tobias Forge para criar melodias orelhudas.

O concerto abriu tal como “Prequelle”, o quarto álbum da banda (no qual Forge assumiu a personna de Cardinal Copia, em detrimento do Papa Emeritus III), com a intróito “Ashes” e, logo de seguida, “Rats”. De rajada, seguiram-se “Absolution” e “Ritual”. Os temas do terceiro e primeiro álbuns, respectivamente, confirmaram a ideia de que os Ghost soam mais heavy metal ao vivo.

Cardinal Copia, apesar da pouca proeminência da voz na mistura do som, esteve no ponto. Algo que Forge tem trabalhado afincadamente, para melhorar. Começando o concerto com fervor religioso, Copia nunca perdeu tempo com “falatóriozeco” de ocasião. Dessa forma, a banda conseguiu tocar uma dúzia de canções, em menos de uma hora. Só depois de “From The Pinnacle To The Pit”, o frontman interagiu em diálogo com o Restelo. Na central “Cirice”, vai tocando carinhosamente as mãos dos seus devotos.

Mesmo evoluindo na sua qualidade e dinâmica, o som nunca chegou mesmo a ter um volume próximo daquele que a banda merecia. Assim, nunca os Ghost soaram com um poder capaz de enfrentar a oscilação sonora provocada pelo forte vento, nem no petardo “Faith”. Mas, tal como no cristianismo, a antítese criada pelos Ghost teve uma disseminação das catacumbas do submundo, até aos grandes anfiteatros do mundo, até missas ao ar livre. Não espantaria que em breve regressem em Portugal capazes de encher um estádio, considerando a sua ascensão progressiva. Uma coisa é certa, soubemos, de um clássico diz que disse (mais ou menos de confiança), que os suecos vão regressar a Lisboa muito brevemente.

“Miasma”, o boogie instrumental do mais recente álbum, introduziu a parte final e mais “mexida” do concerto. Também nos mostrou o infame Papa Nihil no saxofone. É certo que houve bastante celeuma com as trocas de músicos ocorridas no final de 2017, mas isso acabou por resultar numa banda bem mais “capaz”. Com melhores intérpretes, com maior versatilidade.

Algo mais notório nos Nameless Ghouls que seguram, em cada extremidade do palco, as Hagstrom semelhantes às Gibson RD que, pasme-se, os Ghost ressuscitaram… E a Gibson renunciou aos Ghost! Não se evangeliza sem Judas. Agora, os três guitarristas usam modelos Hagstrom. Os modelos RD, ou melhor, as Hagstrom Fantomen são instrumentos em mogno, com o sistema de truss rod H-Expander e escala Resinator, com uma extensão de 25.5” capaz de oferecer um pouco de mais definição no ataque, tal como mais sustain do que as escalas mais curtas. Todavia, em “Year Zero”, foi a central Viking (um modelo barítono) que mais se destacou, criando maior peso e mais low end.

Já com o lusco fusco a permitir maior destaque às luzes de palco, criando um melhor ambiente, em “Mummy Dust”, os solos de guitarra deram lugar a um solo de keytar. E o cânone clássico dos 80s chegou, ainda com mais força, em luzes néon e disco beats para dançar com a morte, em “Dance Macabre”. “Square Hammer” foi a benção final (talvez neste momento já ninguém queria que o concerto dos Ghost terminasse).

Imprimatur!

SETLIST

  • Ashes
    Rats
    Absolution
    Ritual
    From the Pinnacle to the Pit
    Faith
    Cirice
    Miasma
    Year Zero
    Mummy Dust
    Dance Macabre
    Square Hammer