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MEO Kalorama 2022: A Irreverente Peaches

MEO Kalorama 2022: A Irreverente Peaches

2022-09-03, MEO Kalorama
Miguel Grazina Barros
Inês Barrau
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No último dia de MEO Kalorama, a canadiana Peaches subiu ao palco Colina surpreendendo os fãs e provocando os menos atentos.

Merrill Nisker é a canadiana de 55 anos que usa a música electrónica como o seu meio de expressão ativista – mas rotular o concerto e toda a sua performance a “música electrónica” não faz jus à sua postura irreverente, provocante e energética que se observou no palco COLINA. Pelas 20h, no último dia do novo festival lisboeta MEO Kalorama, Peaches subiu ao palco para actuar o melhor da música electroclash com um alinhamento de 22 canções e uma execução inigualável com muito punk à mistura.

A enchente presente no parque da Bela Vista poderia muito bem justificar-se pelo concerto mais esperado da noite de Nick Cave & The Bad Seeds. Porém, o mar de gente que assistiu ao concerto de Peaches provou quem realmente foi a revelação da noite. O sol pôs-se convenientemente para dar lugar a um espectáculo que apela a todos os sentidos, com uma mensagem ativista e feminista muito clara – o carisma sexual da actuação não deixou ninguém indiferente e rapidamente se tornou num dos concertos chave da primeira edição do novo festival. Subiu ao palco mascarada de idosa, acompanhada por uma banda competente e dançarinas que mais tarde se deixariam levar completamente pela energia (acabaram o concerto quase completamente despidas), Peaches conseguiu cativar pela sua música mas também pelo espectáculo inerente à sua performance.

O objetivo é simples – fazer questionar, quebrar e evoluir o Patriarcado tóxico na sociedade, altamente presente no meio em que a artista habita. A certa altura lê-se “Graças a Deus pelo aborto” num top que a artista veste. “The Teaches of Peaches” é o álbum que a catapultou para a fama, sendo a digressão celebratória do mesmo disco que invade grande parte do alinhamento – “AA XXX”, “Cum Undun”, “Suck and Let Go”, “Hot Rod” e o êxito “Fuck The Pain Away” foram algumas das canções do álbum tocadas ao vivo. “Guardem os telemóveis, se eu cair o concerto acaba” ordenou aos espectadores antes de avançar corajosamente para um crowdsurfing prematuro – mas claramente necessário.

Guardem os telemóveis, se eu cair o concerto acaba

O instrumental, no entanto, é bastante simples – drum-machines estáticas e rítmicas, quase robóticas  e uma backing track que proporciona o baixo, completado com guitarras eléctricas distorcidas que permitem a Merrill Nisker brilhar e não ser ofuscada por uma parede de som assoberbante.

“Pussy Mask” é o tema que resume toda a atitude de Peaches, bem como a sucessora “Vaginoplasty” que impera que a cantora – topless, apenas com os mamilos disfarçado – e as dançarinas vistam um fato com máscaras de “vulva”. É sem dúvida uma imagética “chocante” que não assenta no minimalismo subtil e sensível, mas é entregue com uma pujança incrível que realça toda a importância que alguns concertos podem ter – agora, mais do que nunca.