Misty Fest: The Irrepressibles
2012-11-15, Lux, LisboaQuando imaginamos uma banda cujo trabalho discográfico é composto por múltiplas camadas de imensos instrumentos (piano, violino, violoncelo, contrabaixo) com uma composição tão acústica/humana nas suas dinâmicas apresentar um backline tão reduzido em palco, é inevitável ficar desconfiado do impacto que os músicos presentes serão capazes de transmitir.
Depois, ainda que Jamie McDermott tenha vindo acompanhado apenas por Sarah Kershaw e os percussionistas James Field e Ian Tripp, o sentido cénico desta mini versão dos Irrepressibles foi fortemente desenvolvido. Isso, somado ao recurso carregado de samples, poderia provocar frieza entre o público e a actuação da banda. Poderia. Contudo, a honestidade da banda foi criando a dinâmica dum concerto em crescendo.
Sustentados no espantoso poderia vocal de McDermott e acima de tudo na segurança do frontman – o seu controlo dinâmico poderia ser formatado para um compressor e ser transformado em plugin, impressionante – os restantes elementos foram ganhando maior conforto com a frieza das imposições lógicas de tantos elementos musicais “disparados” por clicktracks. Houve estranheza na mistura dos samples vocais dos coros com o som, basicamente, natural das dobragens vocais humanas (captadas apenas por um overhead de cada lado do palco), mas houve também a possibilidade de ouvir outra voz tremenda, a de Sarah Kershaw. McDermott, Kershaw e os samples iam criando teias de notas sobrepostas, de melodias sincopadas e exercendo um fascínio estranho sobre o ouvinte.
Irrepreensíveis os apontamentos dos percussionistas. O calor crescente e a natural focagem na prestação de McDermott foram criando a ilusão auditiva de estarmos diante dum ensemble maior do que aquele que os nossos olhos viam. E quando McDermott desceu para o meio da pista do Lux, enquanto cantava “In This Shirt”, sentiu-se pela primeira vez incómodo em todo o setlist… O concerto ia terminar.
Ficou a promessa de voltarem com mais instrumentos, mas entre promessas e compromissos bem que poderiam vir todos os meses neste formato ao nosso país. Afinal a sua actuação fez absoluta justiça ao nome do festival, Misty Fest.