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Moonspell, Praça de Lobos

Moonspell, Praça de Lobos

2017-02-04, Campo Pequeno, Lisboa
Nero
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Campo Pequeno cheio viu uma actuação dos Moonspell em crescendo, pontuada por momentos épicos.

O impacto de um álbum é condicionado por múltiplas variáveis: a época e o momento da “cena” em que surge, a força como marca emocionalmente as pessoas que o ouvem, como pode, inclusivamente, marcar o carácter de quem o ouve e assim evocar uma maior carga de nostalgia. E se há coisa que os fãs de rock são, é nostálgicos.

Wolfheart foi o set mais passional, Irreligious o mais alquímico e Extinct o mais poderoso

Talvez isso explique a razão porque o set de “Wolfheart” teve uma maior resposta emocional do público e como essa resposta foi decrescendo com “Irreligious” e, se perdoam o trocadilho, quase se extinguiu em “Extinct”. Claro que isto pode ter que ver com outras razões: o aumento dos valores de álcool no sangue ou simplesmente a capacidade de concentração da plateia não resistir a três horas. Já à banda não afectou. Aliás, o efeito foi contrário, os Moonspell tiveram uma actuação em crescendo.

A verdade é que os álbuns também marcam as bandas. E por isso, “Wolfheart” teve uma prestação mais passional da banda (claro que a reacção do público ajuda). Com a responsabilidade da gravação do concerto para edição em DVD, a banda também surgiu mais nervosa – ou deu essa sensação – e mais rígida na sua performance. Mas, fazendo justiça ao público, a verdade é que “Wolfheart”, ainda que seja o mais “datado” dos discos tocados, acaba por ser o que tem mais riffs carismáticos, mais “primitivos” e claro, o hino “Alma Mater” – que, goste-se ou não da banda, é uma das maiores canções do metal da década de 90, e foi o momento de maior união entre público e banda.

O reforço sonoro nos arranjos e os coros da Crystal Mountain Singers deram uma potência triunfal a Fullmoon Madness

Com maior potência sonora, os Moonspell mantiveram-se fiéis aos detalhes específicos dos apontamentos que caracterizam os temas, principalmente nos teclados – provando as palavras do guitarrista Ricardo Amorim e do teclista Pedro Paixão, na conversa em que nos anteciparam os concertos. No fundo, o melhor equipamento e melhor som, mas permanecendo os pormenores mais distintos. Mas houve momentos, como em “Vampiria” em que, juntamente com as Crystal Mountain Singers, em que o reforço e exuberância coral fez o concerto tocar uma dimensão épica que, já no final do set de “Irreligious”, atingiu uma potência triunfal na rendição da emblemática “Fullmoon Madness”.

ESTIVEMOS NO SOUNDCHECK DA BANDA, ANTES DO CONCERTO. VÊ AQUI A FOTOREPORTAGEM.

O set de “Irreligious” foi o mais “alquímico”. Após duas décadas, é um chavão dizer que “Irreligious” foi o zénite, de certa forma, de uma trilogia iniciada em “Under The Moonspell”, ao mesmo tempo que lançou as bases estéticas que a banda começou a desenvolver em “Sin”. Ou seja, em “Irreligious” tinha início uma nova era nos Moonspell, com o desenvolvimento e afirmação de um carácter mais distinto, em vez do seguimento de fórmulas pré-estabelecidas. A banda, mais liberta das amarras do nervosismo e catapultada pela icónica “Opium”, conseguiu ser mais dinâmica na execução dos temas, ainda que as exigências cénicas (pensadas para o registo em filme) tenham ditado mais pausas na actuação.

A banda esteve na sua expressão máxima no set de Extinct

O set “Extinct” revelou a banda na plenitude da sua força. O som mais pesado, mais contemporâneo, deitou por terra a nostalgia vivida até aí. É, naturalmente, um álbum mais maduro, com canções mais dinâmicas e com uma vitalidade assinalável para uma banda que, entretanto, já conta 25 anos de carreira e uma discografia com 10 álbuns. A orquestral “Breathe”, a elaborada “Extinct”, a melódica “Domina” ou a rocker “The Last Of Us”, por exemplo, são a prova de que o lobo-ibérico tem força suficiente para evitar a extinção.

Fotos: Joana Cardoso