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NOS Alive 2022: A Soberania Phoebe Bridgers

NOS Alive 2022: A Soberania Phoebe Bridgers

2022-07-09, NOS Alive, Lisboa
Miguel Grazina Barros
Inês Barrau
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Enquanto o tão esperado concerto dos Da Weasel rebentava no palco NOS, a californiana Phoebe Bridgers apresentou-se perante uma verdadeira legião de fãs no palco Heineken.

Pelas 21h50 no último dia de festival, a cantora de Los Angeles Phoebe Bridgers arrastou uma multidão de admiradores ao seu concerto de estreia em Portugal. Ninguém estava pronto para o que se seguiria, entre gritos ensurdecedores de euforia de uma plateia fiel que confirmou que a cantora merecia um palco maior.

A autora de “Stranger in the Alps”, um álbum de 2017 muito bem recebido pela crítica, conseguiu desde então colocar-se nos holofotes da cena indie, com uma estética folk, emo e pop à mistura. Com 27 anos, Phoebe Bridgers não é nenhuma desconhecida e foram muitos os que compraram bilhete para o último dia de festival para testemunhar a estreia da artista em território português. Em 2020 Bridgers lançou “Punisher”, o segundo álbum que a catapultou para o mainstream e arrecadando quatro nomeação para os Grammys.

Foi precisamente o segundo álbum “Punisher” que obteve mais representação no concerto do NOS Alive, com três canções de “Stranger in the Alps” e um cover acústico de “Me & My Dog”, canção de Boygenius cuja banda também integra. No palco, um décor impressionante com paisagens oníricas e psicadélicas, com uma placa onde se lê “The End Is Near”. Os jogos de luz ajudaram ao efeito, uma estética própria que tanto vai buscar à fantasia bucólica, como ao sinistro e aterrador.

A voz doce da artista é muitas vezes contraposta com guitarras distorcidas cheias de reverb e delay, com guitarra acústica a acompanhar e uma sonoridade por vezes quase shoegaze (embora mais limpo). Neste concerto, a imagética em palco importa tanto como a música em si, é uma experiência por completo – os músicos vestidos com os “esqueletos” característicos (outfits replicados por alguns fãs da plateia).

No palco, um décor impressionante com paisagens oníricas e psicadélicas, com uma placa onde se lê “The End Is Near”.

“Motion Sickness” foi o primeiro single do alinhamento, o maior êxito do primeiro álbum que foi o catalisador da energia que perduraria durante todo o espetáculo. A plateia não se contém a acompanhar a plenos pulmões, muitas vezes levando a que a voz doce e delicada da artista fique prejudicada pela acústica do palco Heineken em conjunto com o ensurdecer da multidão.

“Garden Song”, “Kyoto”, “Moon Song” e “Punisher” foram entregues com uma força inacreditável, uma experiência coletiva potenciada pelos incríveis músicos em palco ou pelas guitarras tocadas pelas própria artista. No entanto, não houve nenhuma canção que conseguisse domar a explosão de energia do público, que conseguiu acompanhar palavra por palavra todas as letras – fruto da pequena discografia da cantora, ou apenas pela ligação emocional partilhada pela plateia através das letras existencialistas e catárticas. A certa altura, a cantora menciona os “remorsos” que sente por se encontrar em tour pela Europa, enquanto o direito ao aborto foi dissolvido nos Estados Unidos da América.

Durante a apresentação de “ICU”, como se se tratasse de uma ironia infeliz do destino, a cantora interrompe a canção devido a um membro da plateia desmaiar, recomeçando logo de seguida. “Me & My Dog” foi a canção de 2018 que Bridgers insistiu em tocar com a sua guitarra acústica, que faz parte da banda Boygenius que partilha com Julien Baker e Lucy Dacus. “I Know the End” encerrou o concerto, canção progressiva de seis minutos que acaba em êxtase e um palco em chamas (digitais), cuja parte final se aproxima ao emo ou ao screamo mais puro. Ao aperceberem-se que o concerto chegava ao final, a multidão não se contém e acompanha com toda a garra a despedida que (esperemos) seja breve.