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NOS Alive 2022: The Strokes Memoráveis, Mas Só Para Os Mais Fanáticos

NOS Alive 2022: The Strokes Memoráveis, Mas Só Para Os Mais Fanáticos

2022-07-06, Nos Alive, Lisboa
Miguel Grazina Barros
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The Strokes foram cabeça de cartaz no primeiro dia do festival no Passeio Marítimo de Algés e não deixaram ninguém indiferente.

No início da década de 2000, os nova-iorquinos The Strokes lançaram o seu primeiro álbum “Is This It It” que foi recebido com grande aclamação pela crítica. Canções como “Last Nite” e “Someday” cativaram milhões de fãs e tornaram-nos numa das maiores bandas do mundo em 2001. Seguiram-se os álbuns “Room on Fire” (2003), “First Impressions of Earth” (2006); “Angles” (2011), “Comedown Machine” (2013) – que nos deram hinos como “Reptilia”, “Undercover of Darkness” e “You Only Live Once” – e mais recentemente “The New Abnormal”, de 2020. The Strokes cresceram ao lado dos The White Stripes, e lideraram o movimento indie-rock dos 2000, onde bandas como LCD Soundsystem, Interpol e os Yeah Yeah Yeahs foram extremamente influentes, mas aproveitaram a onda de sucesso dos The Strokes para serem catapultados para a fama – vale a pena salientar o filme de 2022 “Meet Me in the Bathroom”, que retrata em primeira pessoa o movimento indie nova-iorquino das mesmas bandas. The Strokes são referidos como sendo tão influentes para a sua época como os Velvet Underground ou os Ramones foram numa outra época, tendo influenciado outras bandas como The Killers, Arctic Monkeys e Franz Ferdinand.

Com apenas dois concertos em Portugal – um em 2006 e outro em 2011 – o público dividiu-se entre os eternos fãs e os que esperavam um desastre total, à semelhança do concerto “inesquecível” no Super Bock Super Rock em 2018 da banda secundária do frontman – Julian Casablancas + The Voidz – agora apenas The Voidz. A banda continua a reunir espectadores de todas as idades que abraçam o aprumado rock de garagem com toda a frescura, porque na verdade, os The Strokes nunca saíram de moda. Se a história e o contexto da banda acarretam um peso cultural pela sua importância, os concertos põem à prova o seu desempenho – mesmo após mais de 20 anos de existência.

Com um atraso de quase 20 minutos, The Strokes eram antecipados às 22:30 no palco NOS, o palco principal do festival. Após um recente concerto que foi arrasado nas redes sociais no festival de Roskilde, na Dinamarca, pelo estado embriagado de Julian Casablancas, o tempo de antecipação não foi o melhor começo – «estou outra vez alcoolizado, desculpem», esclareceu Julian após a épica “Is This It”, canção de abertura do concerto que estreou o hino pela primeira vez na tour de 2022. Com óculos de sol e um colete camuflado, luva sem dedos na mão direita e uma voz minimamente bem cuidada, Julian Casablancas estava pronto para a luta. Com ele, os formidáveis músicos Nick Valensi, Albert Hammond Jr., Fabrizio Moretti e Nikolai Fraiture que são parte muito importante da sonoridade da banda – riffs gulosos, bateria constante e acertada quase como uma drum-machine humana e um baixo que sustenta a distorção típica dos vocais de Julian cheios de médios rasgados.

Para os menos conhecedores da índole de Julian, a sua performance vocal ao vivo parece desleixada, descuidada, mas não passa de um acto propositado que vai de encontro com toda a estética da banda.

No centro da plateia não se conseguia respirar – os fãs fizeram questão de marcar lugar (alguns desde a abertura do festival) para testemunhar o momento raro de um concerto dos The Strokes em Portugal. Seguiram-se “The Adults Are Talking” e “New York City Cops”, a última recebida com todo o entusiasmo de há 21 anos. Julian divaga entre canções, dirige-se ao público e interage com a banda. “Não vou falar mais ou ainda me meto em sarilhos”, os devaneios balbuciantes de Casablancas podem transparecer como um ato desleixado – mas quem conhece a banda sabe que é exatamente essa ironia provocante que os caracteriza (especialmente Julian) – é rock ‘n’ roll que nunca deixou de ser, uma atitude rebelde que certamente não se encaixa no “mainstream” e choca quem apenas os conhece da rádio. Julian não é o típico rocker e usa a ironia e sarcasmo para lutar contra a sua timidez. Os The Strokes não são (apesar do seu sucesso) uma banda radiofónica, mas encaixam-se perfeitamente. “Bad Decisions” e “Hard to Explain” são bem recebidas, apesar de alguma dificuldade em separar os vocais dos instrumentos, ambos com uma boa dose de distorção. Afinal, Julian é caracterizado pela sua voz “lo-fi”, tanto em estúdio como ao vivo, muitas vezes cobiçado por bandas sucessoras (reza a lenda que a sua voz saturada foi gravada com recurso a um amplificador de guitarra barato), mas quando em palco existe uma luta no espectro das frequências sonoras, não é bom sinal. O resultado foi uma voz não perceptível na maioria das canções, embora os agudos ainda estejam no sítio. Para os menos conhecedores da índole de Julian, a sua performance vocal ao vivo parece desleixada, descuidada, mas não passa de um acto propositado que vai de encontro com toda a estética da banda. Ainda assim, podia ser melhor – «Perdi a minha voz esta manhã» explicou no final do concerto, atribuindo as culpas a uma alergia ou constipação.

«Soubemos que a Clairo teve de cancelar o concerto. Estivemos a ensaiar isto no backstage», disse o frontman após a cantora americana que tinha presença marcada no festival não poder comparecer devido a um voo cancelado entre Milão e Lisboa. A banda atirou-se a uma versão de “Sofia”, canção de Clairo inspirada nos The Strokes e que em palco mereceu um forte auto-tune na voz de Casablancas – prática comum nos The Voidz. “Under Cover of Darkness”, a grande “Reptilia”, “Someday”, “What Ever Happened?” e a mais recente “Threat of Joy” são êxitos que não podiam faltar no alinhamento, apesar de “Last Nite” ter ficado (injustamente) de fora.

A banda sai de cena e regressa com um encore de três canções – “You Only Live Once”, que já ficava esquecida no meio das outras canções do alinhamento mas igualmente tão importante; “Selfless”, do mais recente álbum “The New Abnormal”, que só os mais conhecedores souberam acompanhar; e finalmente…”Juicebox”, um final no mínimo bizarro no que poderia muito bem ter sido “Last Nite”. Apesar dos prolongados momentos entre as músicas e dos devaneios sarcásticos (aos que a plateia reagiu de forma entusiasta), os The Strokes não foram um desastre e conseguiram satisfazer quem estava ali para os ver. Certamente não foi o melhor concerto das suas vidas, mas é preciso entender que após 21 anos a tocar as mesmas canções, não se pode fazê-lo sempre da mesma maneira. Pouco memorável para quem esperava uma performance mais cuidada e perfeita, sem tantas pausas e balbucios.

SETLIST

  • Is This It The Adults Are Talking New York City Cops Automatic Stop Bad Decisions Hard to Explain Sofia I Can’t Win Under Cover of Darkness Threat of Joy Reptilia Someday What Ever Happened? You Only Live Once Selfless Juicebox