Rock In Rio Lisboa 2022: O Glam dos 80’s Com os Duran Duran

Os Duran Duran foram os headliners numa noite de Rock In Rio dedicada aos anos 80. Com eles, trouxeram um alinhamento recheado de clássicos e uma energia contagiante.

Se há banda que justifica um recinto do Parque da Bela Vista ansioso e repleto de fãs que marcam assiduamente o seu lugar numa fria noite de Verão, são os Duran Duran. A banda mais esperada do primeiro dia do segundo fim-de-semana do Rock In Rio 2022 foi precedida pelos A-ha (que também não decepcionaram), mas foi no último acto do palco Mundo onde se observou maior afluência e dedicação de uma enorme plateia cujos jovens foram a minoria – como já se esperava. No entanto, isso não é sinónimo de uma banda moribunda – os Duran Duran continuam activos e em grande, com um novíssimo álbum “Future Past” de 2021, precedido por “Paper Gods” de 2015.

O relógio marcava 23h04 quando Simon Le Bon, Nick Rhodes, John Taylor e Roger Taylor (não o Roger que alguns mais distraídos poderão pensar) pisaram o palco ao som de “Velvet Newton”, single do mais recente álbum que não foge às origens synth-pop e new-wave da banda inglesa, embora introduza uma batida 4/4 algo inesperada. Com 63 anos, Simon Le Bon apresenta à partida uma nova textura na sua voz, que não se caracterizava “rouca” com base nos discos a que o público está habituado.

A sua “nova” voz é melhor descrita como “raspy”, embora pareça mais efeito do que feitio. Com a segunda canção do alinhamento “The Wild Boys” o público teve imediatamente uma amostra dos clássicos que se seguiriam. Voz encharcada em delay, bateria imponente e o glam dos 80’s instauraram-se no recinto, uma máquina do tempo mascarada de concerto. Voltamos ao álbum mais recente com “Invisible” e “All of You”, que não conseguiu a mesma reação do público que a segunda canção.

Juntamente com “Give It All Up” e “Tonight United” tocadas mais à frente no espetáculo, os Duran Duran deixaram o novo álbum de parte e prosseguiram para as mais esperadas – “A View to a Kill” (cujos sintetizadores soaram demasiado abrasivos nas frequências médias, embora desculpável por se tratarem dos 80’s), “Notorious” que trouxe o slap-bass de John Taylor envolvido num riff de guitarra bem funky , “Union of the Snake” – introduzida por Simon como “Alguns de vocês devem lembrar-se dos Duran Duran de há 40 anos”.

A altamente flangeada “Come Undone” era uma das canções mais esperadas da noite, diretamente de 1993 recebida com a mesma energia que “Hungry Like the Wolf”.

A altamente flangeada “Come Undone” era uma das canções mais esperadas da noite, diretamente de 1993 recebida com a mesma energia que “Hungry Like the Wolf”. Em “Friends of Mine” (canção do álbum homónimo de 1981), Simon sai de palco muito temporariamente para vestir um casaco de cabedal verde fluorescente – agora sim, os 80’s estão de volta. “Ordinary World” foi dedicada à Ucrânia e ao povo que está a sofrer de maneira “inexplicável”, um momento que viu a plateia a usar a lanterna dos telemóveis para se mostrar ao som de um rasgante solo de guitarra. Munido de um arsenal de sintetizadores e teclados Roland (onde se conseguia identificar o híbrido Roland JD-XA), Nick Rhodes utilizou ainda alguns pads com samples e one-shots percussivos que adicionaram o “ingrediente secreto” na receita do som do anos 80 – timbalões exagerados, tarolas colossais, a síntese FM do lendário Yamaha DX-7 e muito reverb à mistura.

Foi com “Girls on Film” que a banda se despediu do palco (claro, pré-encore), numa fusão adequada com “Acceptable in the 80s”, de Calvin Harris. Simon e a troupe voltam a aparecer em cena com “Save a Prayer”, que mereceu outro momento com flash dos telemóveis da plateia. A última canção do alinhamento não poderia deixar de ser “Rio”, clássico de 1982 que levou Simon a elogiar a devota plateia “Vocês são tudo!”.