Quantcast
Primavera Sound | DIA 3

Primavera Sound | DIA 3

2013-06-01, Parque da Cidade, Porto
Nero
.

Os dinossauros estão bastante longe do risco de extinção. My Bloody Valentine cumprem expectativas.

Um dinossauro, mesmo pequeno, é coisa grande. Os Dinosaur Jr. podem já ter estado extintos, mas qualquer que tenha sido a fórmula de DNA usada para tornar a fazê-los existir… bom, resultou em pleno. Insistindo nas referências a Jurassic Park, o backline da banda tinha a dimensão de uma verdadeira produção de Spielberg – uma “tonelada” de material em palco. O destaque é, naturalmente, a Jazzmaster de J Mascis. É a Jazzmaster com mais rodagem da história. O próprio Lee Ranaldo [Sonic Youth] admite, nesta edição da Arte Sonora, em banca, que se ele é considerado o responsável pelo ressurgimento do modelo da Fender, que foi Mascis quem o inspirou a ele. Não se pense nisto em estética sonora, pois Mascis é mais “ortodoxo” nos seus riffs e leaks, mais clássico a solar, e mais directo nas composições. Os Dinosaur Jr. já eram indie quando os media criaram a designação. Talvez seja o reconhecimento desse facto que faz o público aprovar e apoiar entusiasticamente a actuação poderosa do trio que Mascis, Lou Barlow [baixo] e Murph, perfazem. Serão um quarteto no final, com a subida de um intuível fã acérrimo da banda, Damian Abraham [Fucked Up], para cantar “Chunks”. O original de Last Rights encerrou um bom setlist.

Falando em Damian Abraham, os Fucked Up deram um concerto tão intenso quanto curto e algo bizarro na troca de horário. A banda tocou meia-hora mais cedo que o indicado no programa e isso fez com que muito pouca gente apanhasse o concerto. Quando a grande parte do público conseguiu libertar-se do encanto dos My Bloody Valentine era tarde demais para ser fucked up! “New You” é um dos temas do novo álbum dos irlandeses. “m b v” foi longamente esperado, contudo os My Bloody Valentine apenas tocaram outros dois temas do álbum com que quebraram mais de 20 anos sem edições de LPs, “Only Tomorrow” e “Wonder 2”. A maioria da mesmerizante actuação foi baseada no álbum de 1991, “Loveless”. O clássico álbum de estreia, “Isn’t Anything”, esteve presente com “Feed Me With Your Kiss”, “Nothing Much to Lose” e “You Never Should”.

Por mais divertidos que fossem as curtas-metragens de animação na actuação dos Los Planetas, a cantoria em castelhano tal com as composições impregnadas daquela sonoridade meio ensonsa da pop espanhola tornou-se algo intolerável. Os The Sea & Cakes só nos conseguiram dar a sensação de estar na hora de jantar. Não foram bolos, mas o “pernil do Guedes” tão aclamado durante os dias de festival mereceu teste.

Os Explosions In The Sky foram dignos escudeiros para os My Bloody Valentine e, certamente orgulhosos de tocar antes de uma óbvia influência, não acusaram a responsabilidade de preparar a passadeira vermelha para as estrelas da noite. Contudo, não deu para seguir muito tempo o concerto, pois no palco ATP a improvável e entusiasmante mistura de surf rock com um certo gosto southern também exigia atenção.

Com Savages a meio gás, mas com o palco Pitchfork à pinha para as ver, havia a possibilidade de experenciar sem distracções um dos momentos causadores de extremismo de opiniões – os Nurse With Wound provocaram amor ou ódio, transcendência ou incompreensão. Para a Arte Sonora a recepção da actuação situou-se nos pólos positivos. Iniciou-se com quase imperceptíveis pós sonoros – quase em silêncio ou talvez devamos considerar o silêncio como o início – e a experimentação e aumento de camadas sonoras foi crescendo vagarosamente até ao final do concerto. Como uma onda, sempre a crescer, mas sem nunca rebentar verdadeiramente, sem uma explosão sonora. Um fluxo contínuo de energia em expansão. Não foi exactamente um concerto, foi mais uma psico-terapia.

 

FOTO: André Henriques | Optimus Primavera Sound