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SBSR – Dia 3 [07.07.12]

Nero

BEBE: Parece ficar a ideia que o público, principalmente o masculino, acabou por prestar mais atenção à figura da espanhola que propriamente à sua música – e de facto se há coisas memoráveis, outras nem por isso.

 

PERFUME GENIUS: Pouca gente a assistir. Pouco a dizer sobre a prestação. As músicas foram bem executadas, mas interação com a audiência, excluindo uns tímidos “Thank you”, roçou o zero. De qualquer forma, a música dos Perfume Genius também não é para euforias, é para ser apreciada em silêncio. A fragilidade e timidez aparentes são, provavelmente, arrisco-me a dizer, inseguranças. Ver algumas pessoas sair para Aloe Blacc pioraram essa condição. O estilo de música conduz Mike Hadreas a uma auto absorção e isolamento contemplativo, mas notou-se a tal insegurança.

 

ALOE BLACC: Sopros somam 3 pontos; wah wah à “Shaft” outros 3 pontos, funk, soul e classe de execução somam mais 3 pontos e chegamos a um concerto próximo da pontuação máxima. Um dos melhores do festival, no estilo descontraído a que nos habituou. A simpatia que nos conquistou. Aloe Blacc deu um grande concerto, acompanhado pelo pôr-do-sol. Os braços nunca se cansaram e mantiveram-se em pé, quer a aplaudir, quer a acompanhar o balanço da música. Cheio de boa disposição, Aloe mostrou-se um autêntico entertainer. Num palco reduzido, devido ao backline da orquestra de Peter Gabriel, foi surpreendente ver a bateria inserida no “aquário” – deduz-se que por especificidades de captação – que resultou num bom som, com a pena de o vento ter surgido e a fazer oscilar um pouco esse factor. Não foi possível deslumbrar o amp de baixo, mas o guitarrista Joel Van Dijk apresentou-se com um Mesa/Boogie Lone Star em versão combo, uma Gibson Les Paul e uma deslumbrante Vintage AV! Nas teclas além dum synth analógico destacava-se um Nord Stage. Talvez seja para o belo backline que víamos no palco que os músicos toquem “I need a dólar”, ou como dizia um assistente, preciso de 77 cêntimos!

 

 

LITTLE DRAGON: Curioso num palco denominado Palco EDP  ter havido uma falha de energia. Continuando em curiosidades, é engraçado ver um ajuntamento de suecos com uma postura tão latina e “solar”. À medida que o tempo passa, a electrónica começa a ser senhora e o público está ao rubro. Um bom concerto, com uma boa entrega. Mesmo com Peter Gabriel a começar, dos que estavam presentes ninguém abandona o espaço ou parou ou desacelerou o ritmo. Talvez o público também seja diferente, aqui viam-se mais fãs de Skrillex. Ninguém parecia querer pensar que o show ia ter um final. Foi aproveitado ao máximo.

 

PETER GABRIEL: Finalmente a frente do palco principal estava repleta de público, após três dias de festival. “Heroes”, a versão de David Bowie presente no álbum de covers (“Scratch My Back”) estabeleceu imediatamente a toada do extraordinário concerto – um dualismo no sentir a música: o reconhecimento do impacto dos clássicos a promover exuberância e vontade de exultação que era sufocada pela suavidade dos arranjos e da dinâmica gentil da orquestra, brilhantemente dirigida por Ben Foster a responder aos deslumbrantes arranjos de John Metcalfe. A imediatez de arrastamento emocional dos temas arranjados assim, fazem-nos apenas suspirar durante momentos por não ouvir o stick bass de Tony Levin em músicas como “Secret World”.

Entre as peças arranjadas para “New Blood”, como “San Jacinto”, “Signal To Noise”, ou os clássicos “Red Rain” e “Solsbury Hill” (com o final em sobreposição com a 9ª sinfonia de Beethoven!!!) foram pontuando o set outras versões, com particular destaque para “Après Moi” de Regina Spektor, que subiu ao palco para um dueto.

Marcante o discurso e a interpretação de “Biko”, tema que presta tributo ao famoso activista anti-apharteid, falecido em circunstâncias suspeitas em 1977, a pretender evocar nos jovens na plateia força para combater as contrariedades do mundo actual, da mesma forma assim anunciou o belo “Don’t Give Up”, em que se destacou a cantora Ane Brun com uma interpretação angelical, antes e no mesmo patamar havia estado a filha de Peter, Melanie Gabriel, em dueto com o pai no sonhador “Downside Up”.

Houve ainda encore, com o público rendido em “The Nest That Sailed the Sky” e em comunhão plena com o músico num tema como “In Your Eyes”, talvez por estar a perceber e ao mesmo tempo a tentar impedir o final. Um concerto que fará todos os que o testemunharam sentirem-se privilegiados, ainda que tenha dado aquela vontade festivaleira de ter ouvido alguns dos temas em versão rock, mas não se pode ter tudo e quando nos dão muito é má educação pedir mais.

Uma nota especial para a equipa de câmaras de Peter Gabriel, que nos foi dando close-ups nos músicos chefes de secção na orquestra, permitindo observar minuciosamente os detalhes de execução dos mesmos.

 

SAINT VINCENT: Depois de dois dias dominados pela Telecaster, Aloe Bllac e Saint Vincent trouxeram a Les Paul aos palcos do SBSR. Contudo, Annie Erin Clark também usou uma ultra vintage 1967 Harmony H15V Bobkat. E se usou! Esta senhora é uma grande guitarrista e tem aquilo que falta a muitos bons rapazes nesta nova era da música com uma guitarra na mão, cojones! Grandes momentos nos solos em que usava um Boss Super Shifter e óptima noção de quando arriscar ou mimar o público com coisas mais famosas como “Cruel”, que além do sentido pop e melódico não deixa de ser desafiante no sentido de execução, manter a afinação a cantar e conseguir manter o tempo e groove do riff melódico é prova de destreza. Óptimo concerto!

 

THE SHINS: Pela primeira vez em Portugal, mas a desejarem voltarem “very soon”. Encaixaram-se entre fãs de Peter Gabriel e os de Skrillex e sobretudo, com um público deveras bem-disposto. “Simple song” é a música mais conhecida e foi recebida com entusiasmo. Poderiam não ter dado um grande concerto, o que não foi o caso, mas seriam sempre louvados pela AS a partir do momento em que arrasaram com a cover de “Breathe” – se não sabem a banda que escreveu o original, então que os maléficos e tenazes demónios do pó da Herdade do Cabeço da Flauta vos atormentem para a eternidade!

 

REGINA SPEKTOR: Espaço cheio e muita boa disposição de ambas as partes. A menina é uma simpatia e um doce e o público gostou imenso. Houve muitos a cantarem as músicas mais conhecidas e a trautearem mesmo as que não conheciam. Afinal o medo de saber se conseguiria agarrar o público foi descabido, estavam todos com ela.

 

SKRILLEX: Ainda com um timbre melodioso a zoar nos ouvidos, graças à boa prestação de Regina Spektor, foi muito, ou quase todo, o público que não quis sair do sítio onde estava, para, talvez, não perder o lugar para assistir a outro muito aguardado concerto, Skrillex.
Pela segunda vez no nosso país, cumpriu, e bem, com as expectativas de igualar ou até mesmo superar o seu último concerto por terras portuguesas. Com uma entrada original, num cronómetro decrescente de 5 minutos, criou uma onda de suspense e ânsia, para o início do espetáculo entre o público presente. “Equinox, First of the year” foi a abertura ideal para esta mesma onda. Sempre com muito boa disposição e interação com o público, a cereja no topo do bolo acabou mesmo por ser “Bangarang”, talvez, o tema mais conhecido de Dubstep do artista e que conseguiu colocar uma grande parte da audiência aos saltos.

Mais uma boa prestação de Skrillex em Portugal, deixando os seus seguidores desejosos que volte, e de preferência depressa.