the aristocrats

The Aristocrats, Mindfuck Polirrítmico

10/02/2020
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Com os temas do mais recente disco em destaque particular, os The Aristocrats apresentaram um dinamismo, “loucura” e uma desconstrução de padrões rítmicos que criaram uma polirritmia capaz de provocar demência a quem os escutou e tentou processar. Noite divertidíssima na LAV.

A setlist não revelou muitas surpresas (para lá daquelas que se encontram dentro dos próprios temas) e foi seguida à risca, considerando os mais recentes concertos da digressão do álbum “You Know What…?”, que é também o trabalho que mostra mais vigor criativo e maior capacidade para surpreender.

Os três primeiros álbuns já mostravam o humor das composições do trio, mas acabavam por obedecer mais ao formato tradicional do shredding. Não nos estamos a queixar. Como dizem os Midnight, «You can’t stop guitar shreds and you can’t stop steel»! Mas é certo que as composições do disco mais recente apresentam maior dinamismo, maior “loucura” e uma desconstrução de padrões rítmicos que criam uma polirritmia capaz de provocar demência a quem os escuta e tenta processar.

Os The Aristocrats são um supergrupo formado em 2011. O termo “supergrupo” é usado amiúde, mas se pensarmos na questão numa perspectiva exclusivamente técnica assenta que nem uma luva no trio composto pelo guitarrista Guthrie Govan, pelo baixista Bryan Beller e pelo baterista Marco Minnemann. Definitivamente três dos melhores e mais aclamados instrumentistas da actualidade. E talvez Govan e Minnemann sejam um pouco mais super ainda, considerando o concerto na LAV.

O primeiro concerto da banda aconteceu em Anaheim, Califórnia, na NAMM Show. A banda só ensaiou um dia antes do concerto, mas sucesso inesperado e a química surgida entreos três músicos fê-los decidir gravar um primeiro álbum de originais. Após o álbum homónimo a banda gravou “Culture Clash” em 2013. Em 2014 regressaram à NAMM, tocando no The Grove, na festa da Jackson e Charvel Guitars, evento onde a AS esteve presente. Guthrie Govan juntara-se à Charvel Guitars e apresentou também o seu primeiro modelo de assinatura: a HSH Flame Maple.

Este modelo tipo San Dimas possui um corpo em basswood caramelizado, com o tampo flame maple que apresenta um verniz acetinada em uretano. O corpo tem o contorno do heel um pouco modificado em relação às San Dimas tradicionais, facilitando o acesso às zonas mais agudas da escala. O braço é um bolt-on, também flame maple, com reforço de grafite e vários tratamentos que visam o acréscimo de resistência, de manutenção da afinação e, claro, de velocidade. A escala de 25.5” apresenta um raro raio composto (12”-16”) nos modelos San Dimas, 24 trastes extra jumbo em aço inoxidável e os entalhes em maple com as margens em ébano. Os side-dots Luminlay aumentam a precisão, emitindo luz nos palcos escuros (e o palco esteve ridiculamente escurecido durante todo o concerto).

Já em 2016, foi estreada a versão com tampo em bird’s eye maple. Apresentando exactamente as mesmas características de corpo, braço e escala, talcomo como os mesmos PUs Charvel Custom MF e a ponte recuada Charvel Tremol-No. Este modelo esteve em particular evidência no tema “Spanish Eddie”. Com uma resposta soberba aos dedilhados em picking, numa fusão de hammer-ons e pull-offs capaz de evocar Al Di Meola e Frank Zappa. A mão esquerda de Govan é fenomenal, já a mão direita é sobre-humana. Foi um dos melhores momentos da noite.

Se são connoisseurs da década de 80, vão recordar-se desse veraneante single de Laura Branigan, também intitulado de “Spannish Eddie”. A história foi revelada no concerto, umas das muitas divertidas conversas mantidas entre os três músicos e a plateia que compôs a sala da sala Lisboa Ao Vivo e teve como brinde um som de enorme qualidade, com fidelidade no recorte instrumental e uma mistura bastante equilibrada nos vários pontos do espaço. Pelo menos, foi essa a nossa sensação.

“Blues Fucker”, “D-Grade Fuck Movie Jam” que, de facto, com os seus wah wahs e as linhas funk do baixo, nos remete para a era dourada da indústria porno (e agora parece que somos totais entendidos nessa matéria…), foram outros momentos do novo álbume  capazes de revelar mais espectacularidade instrumental. E o que dizer de “When We All Come Together” e o sei intenso duelo entre Guthrie e Guthrie! A Charvel, desdobrando-se entre sons quase barítonos e o voicing (através de processamento) de um banjo, esteve à altura do seu dono. Soberba!

“The Ballad of Bonnie & Clyde” foi mais “normal” ou, melhor dizendo, mais sequencial. Tal como “Get It Like That”, tema dedicado a Peart, com os espaços para os solos instrumentais mais definidos. E falando em solos, Marco Minnemann ofuscou os seus companheiros e venceu o prémio “não-vale-grande-coisa-mas-diz-se-na-mesma” de Melhor Momento da Noite. Uma propulsividade fenomenal e um sentido musical incrível, capaz de criar padrões melódicos, além da triunfal demonstração de velocidade e potência na qual inclui ainda, de forma épica, as baterias de “Tom Sawyer”, homenageando de forma singela o malogrado baterista dos Rush. Foi lindo, lindo!

Não creio que o alemão o entenda assim, mas este seu momento não deixa de ser uma bofetada de luva branca (aliás, um chapdão na tromba) de tantos snobs musicais. Afinal, a escola do músico foi o death metal. Querem perceber de onde surgiu aquela explosividade e velocidade, muito antes de Steven Wilson, ouçam-no a debitar blast beats nos Necrophagist. Se querem perceber de onde veio o seu pocket, ouçam a esquizofrenia crossover dos Freaky Fukin Weirdoz.

O solo de bateria acabou por determinar a tendência de um certo decair de intensidade no concerto. A balada “Last Orders” é cativante, mas parece servir para Minnemann poder respirar um pouco após a exigência a que foi submetido. Com “The Kentucky Meat Shower” regressam os compassos marados e a diversão. Mas, não havia volta a dar, após bastantes piadas e toneladas de notas, o concerto estav a em modo cruzeiro para o seu final, com as mais lineares “Desert Tornado”, “Flatlands” (com espaço para um solo mais destacado de Beller) e “Smuggler’s Corridor”.

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