Uma miríade de delays pós punk e um palco deslumbrante. A voz de Robert Smith a soar pujante. O épico “Burn” logo ao segundo tema… Os The Cure encantaram no NOS Alive.
Já havíamos apresentado, testado e avisado sobre o arcabouço do Yamaha THR100. Reeves Gabrels, braço direito de Robert Smith nos The Cure, parece concordar. Afinal o guitarrista tem usado essas unidades nos concertos da digressão iniciada com as actuações na Sydney Opera House, transmitidas gratuitamente para todo o mundo, tal como aconteceu no NOS Alive’19. Contudo, na capital portuguesa, o guitarrista usou umas unidades bastante exóticas, que ainda estamos a procurar desvendar (podem ver a tripla de cabeços na galeria, no fundo do artigo).
Já o frontman da banda optou por usar unidades Line 6 e quebrar um certo tabu de que se tratam de amps de home studio ou de treino. No concerto foi possível ver Smith ladeado por 4 modelos Line 6 Spider V. Na última vez que estivemos em Anaheim, Los Angeles, Califórnia, na Winter NAMM 2017 conhecemos em primeira mão o monstruoso Spider V 240, Smith usa modelos de menor potência, os 120.
Uma das guitarras de assinatura do frontman, a imponente Schecter Ultracure, tem escrito qualquer coisa como «citizens not slaves» – Robert Smith, o revolucionário. Tal como em 2012, os The Cure ultrapassaram as duas horas de concerto. Reeves Gabrels mostrou-se um guitarrista enorme e trouxe bons solos de guitarra e encadeamentos melódicos aos dedilhados carregados de delays de Smith.
A banda esteve impecável, o palco visualmente deslumbrante e o som bastante bom, tudo considerado. Todavia, o público foi debandando aos poucos. Fadiga pela duração do concerto? Dia de trabalho? Seja o que for, estará na altura de a organização repensar estes horários que colocam um headliner (ou qualquer outra banda, na verdade) a tocar para lá das 02h da madrugada. E foi pena, porque o foco e profissionalismo dos músicos, com execuções de elite, foram das poucas coisas refrescantes na noite de calor sufocante que se abateu sobre lisboa.
Robert Smith é talvez o frontman mais improvável da história da música. A pose de timidez mal disfarçada, de gestos bizarros transformados em imagens de marca. O quanto ali veio de uma real dificuldade em lidar com qualquer tipo de holofote e quanto é pensado para ser um veiculo de expressão emocional, um ícone vivo? Sempre foi difícil de dizer. De qualquer forma ele já faz de ele próprio há muitos anos, ninguém o faz melhor do que ele, e hoje fá-lo melhor que nunca. A banda alternou com perícia de mestres as dinâmicas do concerto, temos músicas lentas (longas, arrastadas, introspectivas, muitas vezes doridas) e temos músicas rápidas (pop, festivas, ritmadas). Um resumo de carreira feito com elegância.
“Disintegration” será o álbum em maior evidência, afinal o mote desta digressão é o seu 30º aniversário, através de “Fascination Street”, “Last dance”, “Lovesong”, “Lullaby” e “Pictures Of You” (esta um dos momentos maiores do concerto). Outras músicas esperadas e presentes foram “Just Like Heaven”, “A Forest” ou “In Between Days”.
“Burn”, uma favorita pessoal, ouviu-se logo de início (por motivos óbvios, outro dos momentos mais celebrados por nós) e a sequência final foi do mais crowd pleaser que pode haver: “Friday I’m In Love”, “Close To Me”, “Why Can’t I Be You?” e, naturalmente, “Boys Don’t Cry”. O ritual foi mais uma vez cumprido e ninguém parece se sentir defraudado.