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The National, casamento perfeito

The National, casamento perfeito

2017-10-28, Coliseu dos Recreios, Lisboa
Bernardo Carreiras
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Na sua 14ª aparição em Portugal, os The National protagonizaram um espectáculo memorável repleto de novidades e raridades.

Andávamos ainda imersos nos festivais de verão e já os bilhetes para The National tinham esgotado, tornado-se automaticamente num dos concertos mais esperados do ano. Não será portanto de estranhar que os primeiros fãs tenham chegado às portas do Coliseu por volta das 7h30 da manhã e que, passado 12 horas, a fila já se prolongasse interminavelmente. Antevia-se uma noite histórica motivada pelo cativante novo álbum “Sleep Well Beast”.

Ao longo dos últimos anos, a banda de Matt Berninger já nos proporcionou vários espectáculos que dificilmente serão esquecidos. Desta vez, longe da confusão de festivais ou de salas inferiores, o Coliseu dos Recreios apresentou-se como o palco perfeito para The National. Ouvíamos cá fora: «Este concerto só podia ser aqui!».

Um pouco depois da hora anunciada, e de um concerto morno de Buke and Gase, os ecrãs gigantes mostraram a banda a percorrer os bastidores para chegar ao palco, provocando o delírio total. Quem depois de tantos concertos assistidos pensava que já não se poderia surpreender enganou-se logo na primeira música “Karen” – um clássico de “Alligator” (2005).

De seguida, em “The System Only Dreams in Total Darkness” gerou-se o primeiro pretexto para Matt confraternizar com os fãs nas grades que fizeram questão de provar o porquê dos The National serem uma das bandas predilectas do nosso país, ao tentarem agarrar-se ao máximo ao vocalista.

Como seria expectável tratava-se de um concerto especial para um público devoto a uma banda que também não esconde o seu contentamento com Portugal. Deste modo a setlist não poderia ficar atrás e mostrou-se repleta de hinos de um já vastíssimo repertório. Depois da pérola “Karen”, o destaque vai para “Santa Clara” (de “Virginia”) ou a presença evidente de “Boxer”, um dos álbuns mais bem concretizados, nomeadamente  com as canções “Green Gloves” ou a eterna “Guest Room”, que não era apresentada ao vivo desde 2014. Também “Apartment Story”, “Secret Meeting” e “Fake Empire” foram entoadas por uma sala em uníssono total.

Um concerto de The National tem este poder de oscilação. Enquanto, por um lado, nos transporta para um ambiente absolutamente caótico através de canções que nos dão vontade de emborcar garrafas de vinho e gritar ao microfone todas as nossas frustrações, por outro possuem o dom de nos consolar.

Quanto às canções novas deu para perceber que o público fez o trabalho de casa tendo sido recebidas com igual euforia. Na explosiva “Turtleneck”, Matt apoderava-se de um telemóvel de um fã para cantar o refrão directamente para a câmara, enquanto pelo meio fazia voar copos de vinho branco de encontro ao público.

Matt Berninger varia entre um tímido vocalista e um dionisíaco monstro de palco que, depois de uns quantos copos de vinho, grita a plenos pulmões ao microfone ao mesmo tempo que percorre uma sala inteira. “The Day I Die” tornou-se um desses novos momentos ao vivo de catarse absoluta.

Um concerto de The National tem este poder de oscilação. Enquanto, por um lado, nos transporta para um ambiente absolutamente caótico através de canções que nos dão vontade de emborcar garrafas de vinho e gritar ao microfone todas as nossas frustrações, por outro possuem o dom de nos consolar com temas como “I Need My Girl” ou “Born to Beg” que, num tom mais calmo e íntimo, nos embalam como se de uma missa se tratasse.

“About Today” encerrou a primeira parte do concerto com um coro respeitador por parte do público. Metade das lágrimas choradas nesta canção devem-se à maravilhosa acústica desta mítica sala. Depois de uma breve pausa para respirar chegava a hora de mais uma dose de canções. A abrir tivemos a primeira faixa do novo álbum “Nobody Else Will Be There” seguida da doce “Santa Clara”, uma preciosidade do EP “Virginia”. Chegava a hora de um dos momentos mais aguardados de qualquer concerto de The National. O puro êxtase de “Mr. November” na qual observámos um Matt Berninger possuído a carregar um Coliseu inteiramente transpirado às costas até à ínfima bancada desaparecendo por entre os “I won´t fuck us over/I´m Mr. November”. Em “Terrible Love” chega o microfone à frente para entoar o clássico de “High Violet”, colocando todo o público a entoar o poderoso refrão: “It takes an ocean not to break”.

A fechar, como de costume, uma “Vanderlyle Crybaby Geeks” a cappela, só para o caso de alguém não ter derramado uma lágrima ainda, comprovando que o matrimónio entre os The National e o nosso país ainda continua saudável. Por cá os continuaremos a esperar uma e outra vez incansavelmente devotos.