Back In Black: As Guitarras, o Luto e a Glória dos AC/DC
No curto espaço de um ano, os AC/DC estavam com tudo e gravaram dois dos melhores álbuns da história do rock ‘n’ roll. Em 1979, “Highway To Hell” colocou a banda num estado de graça, abruptamente destruído pela morte do seu carismático vocalista Bon Scott, mas a grande locomotiva do rock não podia ser parada e a banda recompôs-se heroicamente, acabando por gravar o espetacular “Back In Black”.
Editaram o primeiro álbum, “High Voltage”, em 1976 e ascenderam meteoricamente ao topo. Os irmãos Young ao lado do mafarrico Bon Scott, criaram algo tão singular e tão simples que nunca pôde realmente ser copiado. Hard blues? Hard rock? AC/DC! Electricidade com uma intensidade que fez a banda editar discos consecutivamente entre 1976 (75, se contarmos a edição australiana do primeiro álbum) e 1986. No meio costuma estar a virtude, o que sucedeu também no caso dos australianos.
Em 1979 a banda estava super rodada na estrada e em estúdio. Na primavera de 79, os AC/DC viajaram para Miami para começar a gravar “Highway To Hell” com o colossal produtor Eddie Kramer, que nesta altura já tinha no seu currículo discos com os Led Zeppelin, Jimi Hendrix ou Kiss. Contudo, foram três semanas de sessões infrutíferas que se seguiram e nelas a banda e o produtor incompatibilizaram-se, o que fez o gang dos irmãos Young regressar ao Reino Unido e tentar a sua sorte com um produtor que estava a dar os seus primeiros passos, Robert John “Mutt” Lange.
Nos Roundhouse Studios, em Londres, o produtor refinou o som da banda e a sua dinâmica. Ainda soava tudo in your face, mas havia mais amplitude sonora, mais espaço, e maior destaque coral, além de uma nova energia melódica que rendeu pérolas como “Girls Got Rythm”, “Touch Too Much”, “Shot Down In Flames” e, claro, o tema título. O preço a pagar (revelador também do qualidade final) foi o tempo em estúdio.
Ao contrário das tradicionais duas a três semanas que os aussies demoravam a despachar um disco, desta vez as sessões decorreram durante três meses. Todo o esforço resultou na primeira chegada aos tops comerciais dos Estados Unidos e ao top ten britânico. Com a passagem do tempo tornou-se no maior sucesso de vendas da banda, atrás apenas de um álbum que esteve quase a não existir…
GUITARRAS
Fã do peso reduzido e do perfil fino do braço, o próprio Angus já chegou a referir possuir mais de 100 modelos SG, sendo impossível listar cada um deles. A primeira Gibson SG que comprou foi um modelo do início da década de 70, com o tremolo Lyre Maestro e dois PAF como pickups. Com essa guitarra iniciou a sua carreira e gravou os primeiros álbuns de AC/DC até 78 ou 79, ou seja, “High Voltage”, “T.N.T.”, “Dirty Deeds Done Dirt Cheap”; “Let There Be Rock”, “Powerage” e “Highway To Hell” – uma lista impressionante!
Com o seu primeiro modelo bastante “sovado”, antes de “Highway To Hell” Angus comprou um par de modelos SG na Big Apple, entre elas um modelo bastante similar à sua primeira guitarra. Com acabamento Cherry Red, ponte tremolo Maestro, corpo e braço em mogno, foi a protagonista na digressão de “Highway To Hell”, mantendo esse papel até, pelo menos, 1981. Gravou também o tremendo “Back In Black”. Podem ler mais sobre a duradoura relação entre Angus e as SG, no artigo Angus Young, SG Gigante.
Já Malcom Young usou quase sempre uma única guitarra que, em 2018, foi alvo de réplica. A G6131-MY é um tributo à “escavacada” Gretsch Jet de Malcom, à qual o músico australiano chamava “The Beast”. O mais velho dos irmãos Young tornou a guitarra extremamente singular, muito para lá das specs originais, tendo removido dois dos três pickups e até o acabamento do design de fábrica. E, claro, tornou-a um ícone eterno através de alguns dos melhores riffs de sempre na história do rock, como refere o seu irmão Angus: «Quero dizer, assim que se ouve aquele primeiro acorde, já sabes que é ele. Para conseguir fazer isso, tens que ser um mestre de ritmo, exactamente o que o Mal era».
BACK IN BLACK
Em Fevereiro de 1980, os irmãos Angus e Malcom Young estabeleceram-se em Londres, nos estúdios E-Zee Hire para começar a escrever o próximo álbum dos AC/DC. Bon Scott apareceu no início dessas sessões, auxiliando os Young atrás de um kit de bateria (o vocalista tinha um passado nessas funções. Dessa forma surgiram temas como “Have A Drink On Me” e “Let Me Put My Love Into You”. As coisas estavam a resultar.
Os três músicos decidiram fazer um intervalo de uma semana, despediram-se e cada um seguiu o seu caminho. Poucos dias depois, no dia 20 de Fevereiro, os AC/DC descobriram que o seu frontman tinha morrido algures entre a noite do dia 18 e a manhã do dia 19. A banda ficou em choque e iria acabar, não fosse a tremenda pressão exercida por vários quadrantes a recolocar os Young num estúdio de ensaios no final de Março.
Depois de um processo esgotante de audições para um novo vocalista, a banda estava prestes a desistir quando encontrou Brian Johnson, um velho amigo da banda. No final dos ensaios com o novo cantor, a moral era outra, elevada pelos riffs de “Hells Bells” e “Rock And Roll Ain’t Noise Pollution”, último tema a ser escrito.
Editado a 25 de Julho de 1980, “Back In Black”, tornou-se um álbum de homenagem a Bon Scott e arrasou as tabelas de vendas. Actualmente, já ultrapassou os 50 milhões de vendas em todo o mundo. Com esses números é o segundo álbum que mais vendeu na história da indústria musical. No heavy metal ou hard rock, nenhum outro álbum o ultrapassa. É um dos álbuns que listamos e cuja história contamos nos melhores de sempre nos 50 anos de hard rock. Tudo no coleccionável impresso: https://
Apesar do luto bem demarcado na capa, o álbum não se remete exclusivamente a riffs sombrios e contém os boogies irresistíveis de canções como “You Shook Me All Night Long” ou “Shoot To Thrill”. É um elo vital na compreensão da transição dos AC/DC de Bon Scott para Johnson, com “Mutt” Lange (acabou por se tornar o mais importante produtor da sua discografia) a dotar a banda de ainda mais força na distorção, lançando o som dos australianos para uma nova era.
40 anos depois, os AC/DC enfrentaram novo período de luto, após a morte de Malcom Young em 2017. A reacção da banda à perda não foi tão rápida como antes, mas depois de avanços e recuos, acabou mesmo por chegar: “Power Up” é o décimo sétimo disco dos australianos.
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