Jorge Loura, Guitarristas Preferidos & Influências
Jorge Loura revela como começou a tocar guitarra e quais os guitarristas que tiveram um papel determinante na sua paixão pelo instrumento e no desenvolvimento da sua linguagem musical.
Para criar algo especial para uma edição que, em 2018, celebrou 10 anos de publicações queríamos algo que fosse inédito ou, no mínimo, incomum, na nossa imprensa musical. Isto, claro, além dos artigos sobre instrumentos e equipamento musical de sempre. Então surgiu a ideia de reunir numa edição histórica dez grandes guitarristas portugueses.
Um dos escolhidos foi Jorge Loura. Percorreu uma série de projectos, desde os anónimos Sai de Baixo e Snowball aos Zen, banda que esteve na frente de uma nova vaga da música alternativa nacional no final dos anos 90. Focou-se na criação dos Souq e numa linguagem singular no rock português que mistura desert rock com elementos blues, jazz, pop e grunge, guitarras e metais. «Na minha cabeça, era uma coisa muito estranha. Uma mistura de Captain Beefheart com Frank Zappa, com Pantera, com… Fosse o que fosse! Nunca houve uma ideia concreta do que iria sair dali, mas sabia que ia ser uma coisa “polifónica”. Muitas vozes, muito contraponto e muitas possibilidades em aberto», refere o músico de Aveiro sobre o projecto a que, a par dos excitantes neonatos 47 de Fevereiro e dos Troll’s Toy, mais se tem dedicado. Entre a naturalidade com que contactou com a música desde cedo, os estudos no piano e órgão e o bloqueio na teoria da guitarra, Jorge Loura tornou-se um guitarrista “do contra”.
Para a entrevista completa, podem adquirir um exemplar da revista na nossa loja, para descobrir mais sobre os heróis do Jorge, basta fazer scroll.
Como é que a guitarra surgiu na tua vida?
Tenho música em casa desde que nasci e guitarras também. O meu pai é músico semi-profissional, mas tocou guitarras e baixo a um nível bem jeitoso, mas depois ganhou juízo e arranjou uma profissão [risos]. A minha mãe sempre cantou em coros polifónicos. Portanto, tinha guitarras, música e músicos sempre por casa. Desde os sete anos, tive aulas de música, piano e órgão, mas sempre foi aquele bichinho da guitarra, como é evidente. Ainda antes de tocar guitarra, já tinha os guitar heroes. Obviamente, os que são de esperar: David Gilmour, Mark Knopfler, Eric Clapton. Ouvia a discografia do meu pai, Police, The Who, Simon & Garfunkel… Tem que ser dito, o disco com que comecei a tocar foi o “The Concert In Central Park”, o meu pai ensinou-me dois ou três acordes. Anos mais tarde aprendi uma série de músicas desse álbum…
Já agora vamos esclarecer uma questão, “The Sound Of Silence” é em Dó maior ou Lá menor (pun intended)?
Não é Mi menor? [Risos] A versão que aprendi era em Mi menor. Ouvia aquilo, tocava e cantava as músicas, nunca tinha reparado que estava lá uma banda com uma dúzia de gajos a partir tudo. Descobri isso mais tarde. Como dizia, ir ter aulas de música foi uma coisa natural. Havia música em casa, a minha mãe acabou por fazer o conservatório de canto, sem ser profissional. Estava constantemente naquele ambiente. Ou com o meu pai nos concertos de rock, fosse de baile, fosse do que fosse, ou com a minha mãe nos coros. Havia uma escola de música que estava inserida naquilo e foi natural ir para aquela escola de música e, por acaso, tinha jeito para a parte dos teclados e passei para a guitarra. Comecei com 12 anos a ter aulas de guitarra clássica e não ligava… Estudava no dia anterior à aula, custava-me a fazer aquilo. Tinha aquele jeito natural de quem mexe os dedos minimamente bem, mas não praticava coisa nenhuma. Sabia os acordes, sabia tudo, mas não sabia tocar uma música que fosse. Até que ao fim de dois anos o meu pai diz-me: «Estou a pagar-te aulas de guitarra e não tocas uma música?».
Nem as “Dunas”?
Nem isso sabia! E lembro-me perfeitamente de ter uma epifania absurda, de estar com um amigo meu, numa festa da universidade, e passa o “Knockin’ on Heaven’s Door”, a versão dos Guns. Ele explica-me: «Isto é Sol maior, Ré maior e Dó maior. Só isso». Não descansei mais, fui para casa, peguei na guitarra e aquilo foi… Nesse verão aprendi, sem exagero, uma centena e meia de músicas de rock, de pop, de tudo!
Feeling ou shredding?
Essa discussão nunca me fez muito sentido. Tenho momentos em que quero ouvir… Um dos meus primeiros heróis, o David Gilmour, com uma nota faz o que faz, mas se der dez notas também curtes o gajo. Pelos treze anos ouvi o Nuno Bettencourt e o Steve Vai, achei aquilo fabuloso. Nunca foi por tocarem muitas notas, para mim muitas notas não é o fim em si. Porque há quem dê um milhão de notas e aquilo não soa a nada. Se for rítmica e melodicamente interessante, pouco importa se é lento ou rápido, importa ser bem feito. De resto, adoro todos os instrumentos, não oiço só guitarristas e os outros que estão à volta estão ali para servir. Se estiver a ouvir Van Halen estou colado num prato do Alex ou naquela nota do baixo. Gosto de bandas e gosto de interacção entre músicos.