Jackson Guitars, As Rainhas do VOA 2019
A Jackson Guitars, a Charvel e a EVH Gear estiveram em destaque no VOA Heavy Rock Festival, com vários endorsers e donos de modelos de assinatura em palco.
As guitarras criadas por Grover Jackson ajudaram a forjar o que hoje conhecemos como metal. Tudo começou quando, em Novembro de 1978, Grover comprou a Charvel’s Guitar Repair ao seu antigo patrão, Wayne Charvel. Jackson começou a construir modelos ainda com a marca Charvel, até que no final de 1980 foi contactado por Randy Rhoads. Rhoads tinha-se juntado recentemente à banda de Ozzy Osbourne e queria construir uma nova guitarra. O resultado dessa reunião foi o modelo Concorde, com o seu característico design em “V” desigual, construção neck-through-body e, pela primeira vez, o próprio nome de Jackson na cabeça. Este primeiro modelo seria depois descartado pelo próprio Rhoads por um novo com mais características sugeridas pelo guitarrista. Devido à morte prematura do músico, o Concorde acabou por ficar pouco conhecido. Mas o segundo modelo tornar-se-ia na primeira guitarra bem reconhecida da marca, a Jackson Rhoads. Desde essa altura que a história do metal foi escrita com muitas guitarras assinadas pela marca. Vários dos utilizadores actuais e endorsers Jackson Guitars ou das associadas Charvel e EVH (marcas do grupo Fender Musical Instruments) estiveram no nosso país na edição de 2019 do VOA Heavy Rock Festival.
DOMINION
Foi a meio da primeira década do milénio que teve início a colaboração entre a Jackson Guitars e Mark Morton. O guitarrista dos Lamb Of God foi um dos primeiros rostos de uma renovação de endorsers na Jackson e na relação das lendárias guitarras com o metal, o seu meio-ambiente por excelência. O estilo do guitarrista, agressivo por sinal, combina velocidade e precisão de riffing, sendo capaz de acrescentar intensidade ao som e acordes bem tensos. Para desenvolver a sua assinatura, era necessário uma guitarra especial. Morton trabalhou em proximidade com a Jackson no seu modelo de assinatura. Escolheu um formato de corpo que é, na sua essência, uma variação de um modelo atípico do final dos anos 90, o Sweet-Tone Jazz’r. Como madeiras para esse double cutaway peculiar, o guitarrista escolheu o mogno, com tampo em flame maple. Escala de 24.75” num braço em mogno (through-body) com reforço de grafite. Nos pickups, a Dominion, nome que baptizou a guitarra, estão os seus DiMarzio de assinatura. O DP245 combina (na forma tradicional da DiMarzio) dois singles coils, ligados para maior potência, mas brilho nos graves e com íman cerâmico, para maior velocidade de frequências, ao mesmo tempo que o output médio deste modelo permite qualidade em ritmo ou em solos, não descaracteriza os single-coils quando isolados. O DP244 permite bom balanço e brilho em sons clean, tal como promete um som mais quente que um típico humbucker – com boa presença e definição. Tal como o gémeo da ponte, também este modelo tem íman cerâmico. Mais de uma década depois da sua estreia, a Dominion ainda é deslumbrante, como ficou provado no segundo dia do VOA.
GODZILLA
O som imenso, tanto como o icónico monstro japonês, dos Gojira mistura thrash com ambientes e cadenciações post metal. A carapaça sonora dos franceses é composta por Jackson, Charvel e EVH Gear. Uma parceria estabelecida com a Fender no início desta década. O guitarrista Christian Andreu criou uma assinatura com a Jackson Guitars, baseando-se num modelo USA Rhoads carregado de sustain através do humbucker Charvel MFB na ponte. A guitarra possui corpo e braço em mogno, com uma escala de 22 trastes com um raio composto velocíssimo de 12”-16”. Próximo do nut (em grafite) o braço é mais denso, facilitando acordes e aqueles gravalhões do bordão, e vai adelgaçando nos registos mais agudos da escala, para permitir velocidade nos solos. A ponte fixa tem design strings-through-body. Uma maquinão de shred e riffs com um visual deslumbrante.
O frontman Joe Duplantier usa um modelo de assinatura bastante singular. A Charvel Joe Duplantier Signature San Dimas Style 2 obedece às especificações do guitarrista francês e está equipada com um par de humbuckers Charvel MFB modificados. O corpo San Dimas Style tem um contorno especial, para facilitar o acesso às zonas mais agudas da escala. O braço e o corpo são unos em mogno. O acesso ao truss rod é feito através de um volante de ajuste na extremidade do corpo. A escala imita as especificações do modelo Jackson do seu colega Andreu, excepto nos trastes que, neste caso, são medium-jumbo. No décimo segundo traste encontra-se o entalhe em madre pérola do “G” dos Gojira. De resto, o selector de pickups tem três posições e há apenas um knob de volume (à Eddie Van Halen), posicionado de modo mais deslocado que o tradicional. A ponte Tune-O-Matic possui stop tailpiece.
Ambos os músicos usam amps EVH 5150 III, nas versões EL34 e 6L6, com cada cabeça a obedecer a diferentes propósitos e a ser usada de forma independente na mistura ou com os técnicos a somarem os sinais, totalizando quatro fontes. Pudera que soe enorme.
MASCARADO
A ferocidade das guitarras de Mick Thomson é a antagonista do trabalho mais melódico de Jim Root (que tem várias e excelentes assinaturas com a Fender). Nos Slipknot criaram uma dinâmica que tem tanto de old school como de contemporâneo e esteve em evidência no primeiro dia do VOA. Thomson também é um artista Jackson Guitars, uma paixão bem antiga. «Após o liceu, depois de poupar dinheiro durante vários anos, finalmente consegui ter fundos para pedir um empréstimo e encomendi um modelo custom King V. Era a minha guitarra perfeita. Um cinzento carvão metalizado, hardware cromado, tremolo Floyd Rose, os entalhes shark tooth e um circuito de pickups activos. Usei-a em tudo o que fiz, incluindo o nosso primeiro disco. Estimo-a demasiado para andar com ela em digressão e arriscar danos ou roubo, portanto separámo-nos (mas está sempre à mão em casa)», confessa apaixonado Thomson. Para compensar essa “amargura”, o guitarrista dos Slipknot criou uma assinatura para um modelo Soloist. É uma guitarra bem sinistra, mas carregada de características de excelência, como o corpo em mogno e o braço through-body em três peças de maple, reforçado com grafite. O perfil do braço é bastante delgado, permitindo conforto e velocidade, através de um raio composto 12”-16” na escala em ébano. Os PUs são modelos de assinatura do guitarrista com a Seymour Duncan, os Blackout EMTY. Para aguentar as afinações graves usadas pelos Slipknot, a guitarra possui uma ponte hardtail Jackson MTB HT6 e locking nut. O circuito eléctrico conta apenas com controlo de volume e selector de três posições. O acabamento é o negríssimo Gloss Black (apesar de também existir um modelo Arctic White, quase um negativo).
O NOVATO
É um veterano shredder (quando Mustaine procurava um substituto para Jeff Young nos Megadeth, Loomis brilhou nas audições, mas os seus 16 anos de idade foram determinantes na escolha que recaiu em Marty Friedman) mas, depois de vários anos ligado à Schecter, Jeff Loomis é o mais recente artista no roster da Jackson. Estreou-se logo com direito a um modelo de assinatura: a Jeff Loomis Kelly. Esta guitarra possui corpo em ash, com tampo em sandlasted ash e acabamento Black. O braço through body de peça singular em maple possui um design de junção scarf joint e reforço de grafite. Está moldado para ser um demónio de velocidade e possui um raio composto 12”-16” com escala em ébano de 24 trastes jumbo em aço inoxidável, com entalhes sharkfin em madre pérola. Os PUs são os Seymour Duncan Jeff Loomis Signature Blackouts. O do braço oferece suavidade cristalina nos solo e o da ponte a agressividade e o sustain exigidos a esta máquina de heavy metal. Algo comum a muitos dos modelos revistos neste artigo, esta Kelly também tem apenas controlo de volume e selector de três posições. A ponte é um sistema double-locking tremolo Floyd Rose 1500.
LONG LIVE THE KING
Corey Beaulieu tem gravado na memória o tempo em que Dave Mustaine usava os modelos Jackson King V. Quando o guitarrista dos Trivium teve a oportunidade de criar uma assinatura com a Jackson foi esse o modelo escolhido como base, em versões de 7 cordas e 6 cordas. Talvez o momento de maior destaque no concerto dos norte-americanos liderados por Matt Heafy tenha sido o dueto com Toy, mas as assinaturas de Beaulieu também foram um regalo para a vista. Excluindo as cabeças (normal no modelo de 6 cordas, invertida no de 7) e as opções de acabamento, ambas as versões com a assinatura do guitarrista partilham as mesmas características de materiais, electrónica e hardware. As guitarras USA Signature Corey Beaulieu King V possuem corpo em alder (com tampo AAA flame no modelo com acabamento Trans), braço em quartersawn maple unido ao corpo num design through-body, escala em ébano de raio composto 12”-16”. Os pickups são modelos Seymour Duncan Blackout e há um selector de três posições e único controlo de volume. A ponte em ambas as versões é Floyd Rose (respeitando o número de cordas dos modelos, obviamente).