Muse, Grandiosa Experiência Auditiva e Visual
2019-07-24, Passeio Marítimo de AlgésCom uma produção de palco ao mais alto nível, os Muse entregaram uma performance visualmente inesquecível em Lisboa suportada por um alinhamento carregado de músicas do novo álbum “Simulation Theory”.
Depois de participarem no Rock in Rio Lisboa 2018, os Muse anunciaram o regresso a Portugal, no ano seguinte, 2019. O Passeio Marítimo de Algés recebeu a banda em nome próprio, com um espectáculo carregado de uma produção gigante, e a conversa foi outra. Enquanto as presenças em festivais são, por assim dizer, “convencionais”, as presenças em nome próprio são quase teatrais, com dezenas de elementos adicionais a proporcionarem um viagem visualmente alucinante entre os temas. Aproveitando o lançamento do novo álbum, “Simulation Theory”, com um som mais virado para o rock electrónico e referências à ficção cientifica e aos visuais retro dos anos 80 (olá Stranger Things), os Muse construíram uma performance que incorporou maioritariamente as novas músicas, sem esquecer os seus anteriores sucessos.
Se a estrutura do palco surpreendeu antes do concerto começar (um ecrã gigante, de uma ponta do palco à outra), iríamos ficar boquiabertos com tudo o resto. Depois uma uma dezena de “clones” entrarem em palco abastecidos com instrumentos de sopros, os protagonistas da noite subiram de seguida através de plataformas elevatórias que surgiram do chão, criando um clima dramático e de “alto-espectáculo” que se tornaria a norma.
Os primeiros toques musicais ao vivo surgiram com “Pressure”, que inclui um refrão contagiante (talvez o melhor do novo álbum) e colocou o sistema de som à prova. Tal como todo o aparato em palco, o som também estava bem entregue, com boa mistura de som entre todos os instrumentos e microfones definidos.
Lembram-se da performance do grupo La Fura Dels Baus no Super Bock Super Rock 2018? Onde dezenas de bailarinos vestidos de brancos baloiçavam pelo ar presos por uma corda? Os Muse incorporaram algo semelhante durante a exibição de “Break It To Me”, com os bailarinos a “voarem” por cima do ecrã gigante enquanto a guitarra apresentava sons reminiscentes de Rage Against the Machine, no pico de forma de Tom Morello. Em seguida, e com uma introdução enigmática, deslizaram até ao primeiro coro da noite com “Uprising”. O ponto altamente dramático, amplificado pelo trabalho cinematográfico exposto no ecrã gigante, acabou também de forma diferente, com improviso dos elementos principais, a guitarra, baixo e bateria.
“Propaganda” colocou os “três mosqueteiros” na parte mais frontal do palco, bem juntinhos, para uma actuação mais próxima entre eles e o público – destaque para o baixista, Chris Wolstenholme, que utilizou uma Status Keyboard Bass, peça extravagante que incorpora baixo, teclado e iluminação.
FUSÃO DIGITAL/ANALÓGICA
Entrando no caminho dos instrumentos, Matt Bellamy também exibiu uma das sua preciosidades em “Supermassive Black Hole”. A Manson MB-1, carregada de funcionalidades e um ecrã táctil para reproduzir os sons futuristas carregados de distorção. Este ecrã táctil foi fortemente utilizado, principalmente durante o solo e enquanto Matt brincava com o aparelho, o baixista assumia a maior fatia vocal da faixa. São guitarras que não estão disponíveis no mercado, só uma versão simplificada é acessível a mortais comuns, a MBC-1, mas é algo que pode mudar em breve, agora que Bellamy é o dono da Mason.
Já o baterista, Dominic Howard, não tem nada tão extravagante, mas diverte-se com um pedal em cada pé, alternando entre batidas simples como as de “Thought Contagion” ou as mais exigentes para os braços, como “Knights of Cydonia”, que encerraria o concerto.
Em “Hysteria”, o evidente protagonismo de Matt foi destronado. O baixo de Chris, altamente imponente e na frente do palco, dominou toda a faixa. O solo de guitarra surgiu, mas não foi o suficiente para retirar o brilho ao baixo, que constrói a camada mais importante de som. Após o interlúdio instrumental de “The 2nd Law: Unsustainable”, Matt senta-se ao piano para a maior balada da noite, “Dig Down”, com a companhia de vozes em estilo gospel. “Madness” continuou a onda de energia relaxante, com mais um instrumento vistoso. Uma combinação de baixo (Status Graphite S2-Classic), com controlador de sintetizador (Misa Kitara Digital Guitar Synth Controller) no topo, em formato de braço duplo.
COWBOY BEBOP
Antes do grande momento da noite, “Starlight”, fechou um capítulo, com uma performance efervescente que acendeu o público depois das camadas mais calmas. E qual foi este “grande” momento da noite? A aparição de um robô/monstro gigante, meio insuflável, meio mecânico e com luzes que cobria grande parte do palco. Esta aparição já era falada entre o público e quando apareceu deu asas às maiores “cacetadas” da banda em rápida sucessão. “Stockholm Syndrome”, “Assassin”, “Reapers”, “The Handler” e “New Born” surgiram para as sonoridades mais pesadas.
No final, ainda em modo “agressivo”, Matt arremessou a guitarra contra um amplificador, destruindo simbolicamente o robô e fechando o concerto antes do encore com “Knights of Cydonia”, que inclui uma introdução na harmónica, com o lendário tema “Man With a Harmonica” de Ennio Morricone.
Uma coisa é certa, os fãs de Muse saíram desta performance de barriga cheia. Os maiores hits foram tocados, as novas músicas foram apresentadas e a produção mantém os olhos visualmente ocupados durante todos os segundos. Até aqueles que não simpatizavam com o tipo de sonoridade de rock electrónico da banda ficaram com os olhos colados à produção teatral.