SBSR’19: Shame, FKJ e Kaytranada
2019-07-19, Super Bock Super Rock 2019No segundo dia do Super Bock Super Rock 2019, o recinto colidiu com o rock punk veloz de Shame, o multi-instrumentista FKJ e os ritmos dançantes de Kaytranada.
O Meco acalmou-se no segundo dia do festival. Depois de um primeiro dia esgotado e um estacionamento caótico, as portas abriram-se para plateias mais calmas e menos concentradas. O primeiro concerto do palco principal foi entregue ao punk rock dos SHAME.
Shame
A pouca adesão da plateia (facilmente chegávamos até à grade do lado direito) não abrandou a intensidade e a dedicação punk deste grupo britânico. Atingidos pelas brasas quentes de um dia de sol, exibiram em velocidades repentinas e energéticas os instrumentais de guitarra, baixo e bateria enquanto a voz de Charlie Steen aparava a parte vocal com doses de loucura. Pontapeava garrafas de água, levantava o suporte do microfone ou movimentava-se entre o palco. Aquele carisma rebelde do punk. O baixista Josh Finerty também o acompanhava, com saltos e sprints enquanto diluía linhas simples mas exactas, cumprindo o seu trabalho com precisão em “Concrete” ou “The Lick”.
O concerto carregou sempre essa energia explosiva, mas em “One Rizla” assumiram um lado mais sereno – com arranjos instrumentais mais lento e vocais que não puxaram os gritos. Mesmo com a pouca quantidade de presentes referenciada no início, os copos continuaram a voar pelo ar. “Tasteless” obrigou a participação da plateia frontal, através do crowdsurfing de Charlie durante a parte final que repete o refrão «I like you better when you’re not around!» em loop. Em fase final, aproveitaram para tocar uma música inédita, sem qualquer tipo de edição e provavelmente presente num novo álbum, intitulada “Exhaler”. Mais complexa ritmicamente, despertou-nos o apetite sobre o futuro destes rapazes.
FKJ
Num dia carregado de franceses, com o palco principal a alternar entre Christine and the Queens e Phoenix (Review Aqui) ou Charlotte Gainsbourg e FKJ no palco secundário, este último assume uma posição one-man-show – criando um espectáculo semelhante ao de Tash Sultana no NOS Alive 2019. As comparações são inevitáveis, ambos são multi-instrumentistas e utilizam máquinas de loop para construírem os seus lençóis sonoros. Tash recorre mais à guitarra e aos ambiente psicadélicos, enquanto FKJ caminhou pelos caminhos do jazz, electrónica e bocadinhos de chillhop.
Faz-se acompanhar por sintetizadores, um piano, guitarra, baixo, saxofone e caixa de ritmos (além do looper), baseando-se muito em improviso, ou composições especialmente projectadas para os espectáculos ao vivo, que modificavam as faixa mais icónicas do set. “Lying Together” fez-se ouvir entre novas notas no piano e “Tadow”, uma colaboração que inclui o saxofone nas mãos de Masego, foi assumida pelo próprio com o maior alvoroço da noite. Surpresa ao ver o artista com uma plateia tão grande e apertada nas zonas frontais do palco secundário, mas foi merecida, ao apresentar uma panóplia de instrumentos com segurança e sensatez.
KAYTRANADA
A estreia de Kaytranada em solo português aconteceu como o último acto do palco principal. Com trabalho disperso entre várias áreas, enquanto artista próprio no álbum “99.9%”, remixes electrónicas de clássicos de Janet Jackson ou Sade no Soundcloud, ou produção para álbuns de Chance The Rapper, Goldlink, Rejjie Snow ou Anderson .Paak, o artista americano tinha muito por onde pegar.
A abertura surgiu com um novo truque na manga. “Chances”, a mais recente faixa, com a voz de Shay Lia, colocou de imediato o groove característico de Kaytranada – hip-hop para os pés, com percussão diversificada e toques electrónicos que transformam as faixas em trabalhos híbridos entre os dois géneros. “Nothin Like”, outra das mais recentes publicações a solo também foi partilhada na fase inicial, com efeitos de reverb, cortes e amplificação de agudos e graves.
Entre a “All Night”, original de Chance The Rapper, o incrível remix de “If” de Janet Jackson, que transforma a faixa R&B num perfeito pandemónio de dança electrónica, ou a “Meditation” de GoldLink (produzida por Kaytranada) não existiu tempo para parar ou descansar. Destaque para “Lite Spots”, com sample brasileira a comandar o movimento, que foi reconhecida pelo artista – realçando a proximidade da língua entre o Brasil e Portugal. O objectivo da plateia? Colocar o corpo a dançar até ao final. Cumprido? Com distinção.