The Smashing Pumpkins, Dark City
2019-07-13, Passeio Marítimo de AlgésNo NOS Alive, os Smashing Pumpkins ofereceram-nos extravagância barroca, melodias pop simples e orelhudas, sobreprodução, fantasia e, por vezes (bastantes, até), um peso sonoro demolidor.
Já alguma vez viram o filme “Dark City”? É um exercício de culto neo-noir que mistura ficção científica com mistério policial que decorre numa bizarra cidade, de inescapáveis labirintos e constantes alterações à sua estrutura. Todas essas alterações são controladas por uma espécie de seita, os “Strangers”. Se ainda não conhecem esse filme, aproveitem a dica…
É impossível não fazer uma associação visual quase imediata entre Billy Corgan e os “Strangers”. Da mesma forma que as composições de Corgan nos Smashing Pumpkins nos remetem para dentro do seu labiríntico universo mental, carregando a música de detalhes no seu próprio barroquismo sinfónico, narcisismo petulante, obsessão pelo controlo e pela perfeição, e auto-comiseração artificial.
No NOS Alive, os Smashing Pumpkins ofereceram-nos extravagância barroca, melodias pop simples e orelhudas, a sobreprodução, a conceptualidade, o glitter e a fantasia e, por vezes (bastantes, até), um peso sonoro demolidor.
A banda passou no Passeio Marítimo de Algés tendo o novo álbum “Shiny and Oh So Bright, Vol. 1 / LP: No Past. No Future. No Sun”, o primeiro trabalho de estúdio do grupo em 18 anos, que reuniu os membros fundadores Billy Corgan, James Iha, Jimmy Chamberlin e o guitarrista de longa data Jeff Schroeder, como mote da digressão. No entanto, “Solara” e “Knights Of Malta” foram as únicas canções novas numa setlist que foi o sonho molhado de qualquer fã.
Depois da entrada algo morna, com os clássicos “Siva” e “Zero” a antecederem os novos temas e ainda “Eye”, a balada electrónica criada para “Lost Highway” de David Lynch, o concerto foi crescendo até se tornar numa noite memorável a todos os níveis. “Bullet With Butterfly Wings” concentrou atenções e explodiu de intensidade os níveis de som e volume, congregando a sua maximização.
Numa recente entrevista com a Guitar Center, Billy Corgan falava desta nova era da banda e, particularmente, sobre os seus modelos de assinatura Reverend. Foi precisamente ao falar sobre as suas guitarras que Billy Corgan fez uma declaração no mínimo discutível, ao referir-se ao acabamento. «As pessoas pensam que sou um pouco palerma, mas eu penso mesmo que a cor da pintura altera o som de uma guitarra». Corgan aprofunda a ideia, referindo: «Ao longo dos anos descobri que certas pinturas soam diferentes, portanto creio que a Reverend branca é a que soa melhor. Tenho um par de outros modelos, mas esta é a que tem melhor som».
Uma coisa é certa, fosse com os seus modelos Reverend, com a acústica Yamaha Billy Corgan Signature Model Jumbo ou a velhinha ’74 Stratocaster (a guitarra principal da era de “Mellon Collie And The Infinite Sadness”), Corgan soou estupendamente bem, nos riffs e nos solos.
O mesmo pode ser dito de James Iha ou de Jeff Schroeder. O primeiro esteve praticamente inseparável da sua Gibson Les Paul Custom preta e o segundo rodou algumas Yamaha (inclusive um estranho protótipo), tendo usado principalmente esses modelos fenomenais que são as Yamaha Revstar. Aliás, a banda soou com uma coesão extraordinária durante todo o concerto, revelando uma força descomunal naquele que foi o momento mais alto da actuação, a performance explosiva do instrumental “Superchrist”. Esse tema, colado a “The Everlasting Glaze”, criou uma sequência de peso avassalador.
O groove mais electrónico de “Ava Adore” permitiu descomprimir e abriu portas ao epílogo do concerto, com os maiores clássicos como “1979” ou “Tonight, Tonight”, a cápsula sónica que é “Cherub Rock”. A fechar, não podia ser de outra forma, “Today”. Não é a mesma coisa, mas se não estiveram no festival ou se desejam recordar o concerto, podem vê-lo na íntegra aqui.
SETLIST
- Siva
Zero
Solara
Knights of Malta
Eye
Bullet With Butterfly Wings
Tiberius
G.L.O.W.
Disarm
Superchrist
The Everlasting Gaze
Ava Adore
1979
Tonight, Tonight
Cherub Rock
The Aeroplane Flies High (Turns Left, Looks Right)
Today