AS10 Melhores Álbuns Nacionais 2020
Eis os álbuns portugueses que mais gostámos de ouvir em 2020. Como sempre, procurámos ser eclécticos. Podem concordar ou discordar com estas escolhas, mas não as ignorem. Só discaços.
As coisas são o que são e está na hora de mais uma lista de melhores do ano. Felizmente, já é chavão dizer que «este foi um grande ano para a música portuguesa». Mas foi mesmo! Entre as várias expressões musicais, do mainstream ao underground, sucedem-se excelentes álbuns na música nacional.
Custou-nos deixar de fora alguns discos, como “Helix Nebula”, dos Earth Drive, “Limbo”, dos Gaerea, “Dianho”, dos Centauri, “Uma Palavra Começada por N”, de Noiserv, ou excelente “Madrepérola”, de Capicua, por exemplo. Também há álbuns que não se destacam e nem presumimos sequer afirmar que ouvimos todos os discos editados este ano. Como sempre, procurámos ser eclécticos. Podem concordar ou discordar com estas escolhas, mas não as ignorem. Só discaços.
Eis os álbuns portugueses que mais gostámos de ouvir em 2020, sem qualquer ordem de preferência, somente alfabética.
André Fernandes, “Kinetic” | Os anteriores álbuns a solo de André Fernandes integraram as nossas listas de melhores discos nacionais em 2016 e 2014. E agora era uma inevitabilidade. Mas como não o fazer, quando o músico não só mostra uma tremenda elasticidade estética e uma capacidade criativa sem paralelo, como ainda nos deixa discos de tremenda solidez na execução como é este “Kinetic”? Sara Serpa e Akiko Pavolka, Ohad Talmor, David Binney, Frederico Heliodoro, Perico Sambeat, Xan Campos e João Pereira escreveram os temas que reinventam a linguagem do guitarrista. Bem escudado por Perico Sambeat (saxofone), Xan Campos (pianos), Frederico Heliodoro (baixo) e João Pereira (bateria) na densidade de condução a piano de “Wiccano”, no pulsar ambiental de “Future”, o swing melancólico de “Sadcess”, a sofisticação que parece extraída das páginas de Corto Maltese em “Rainy Night, Neon Lights”, o Frank Zappiano “Savassi”, etc. Fernandes editou também novo álbum no projecto Centauri.
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André Henriques, “Cajarana” | Elegante estreia de André Henriques, inconfundível voz dos Linda Martini, que decidiu este ano caminhar pelo seu próprio pé com um disco repleto de maturidade e uma linguagem que não esquece o rock, mas que explora – e de que maneira – um universo mais electrónico em contraponto com a guitarra acústica que vai definindo cada uma das canções. Charmoso, nostálgico, profundo, “Cajarana” pisca o olho aqui e ali ao fado, à bossa e à morna. Grande estreia a solo.
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Bas Rotten, “Surge” | «Blast beat crossover», intitulam-se assim os Bas Rotten. Bom, não somos uma publicação perita nas sonoridades mais pesadas, mas a dinâmica, a vibrante execução instrumental e a agressividade deste álbum é algo que, de facto, funde de modo vibrante o thrash e o grindcore. Se estão reticentes a ler esta catalogação, não hesitem em descobrir um disco que tem uma atitude punk (até crust punk) e um sentido rock ‘n’ roll inegável em cada um dos seus curtos temas – como manda a ortodoxia nenhum ultrapassa os dois minutos. Rápido, pesadão, intenso. Um dos melhores álbuns de música extrema nacional nos últimos anos.
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Benjamim, “Vias de Extinção” | A noite, os excessos, a solidão, o receio da morte e uma prolongada crise dos 30 serviram de mote a Luís Nunes aka Benjamim para escrever “Vias de Extinção”, um disco em que os teclados e os sintetizadores com sabor a nostalgia assumem o comando das canções, assentando na perfeição em beats dançáveis que nos entram facilmente na corrente sanguínea. Mais um dos grandes discos deste ano a provar que, pelos vistos, nem tudo foi mau.
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Cabrita, “Cabrita” | Este disco é uma autêntica viagem de um saxofonista multi-task com um currículo interminável e que se aventurou a solo com um belíssimo disco recheado de convidados do primeiro plano da música nacional. “Cabrita” é um verdadeiro banquete com sabores gourmet. Podia ser a banda sonora de muitos filmes, de James Bond ao experimentalismo à la Sex Mob, dos grooves que acenam sem qualquer pudor a Herbie Hancock de “Head Hunters” às autênticas viagens sonoras que nos levam à Ásia, África, ao deserto mais árido ou à mais verdejante selva sonora. “Cabrita” é funk, é jazz, é blues, é afrobeat. E é, isso sim, um grande disco sobre o qual nos sentámos a conversar com o autor.
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Clã, “Véspera” | O nono álbum de estúdio dos Clã, “Véspera”, sucede a “Corrente” (2014), conta com letras de Sérgio Godinho, Carlos Tê, Arnaldo Antunes, Regina Guimarães, Samuel Úria, Aurora Robalinho e Capicua e é a prova viva de que há bandas que são como o vinho do Porto. Envolvente, actual, pináculo de bom-gosto, “Véspera” está recheado de motivos para tocar em repeat.
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Da Chick, “Conversations With The Beat” | E eis que, ao terceiro disco, Teresa Sousa aka Da Chick surge com canções menos directas e festivas, canções que são agora mais pessoais e instropectivas, vulgo mais canções. Pela primeira vez na carreira, Da Chick sentou-se na cadeira da produção e assinou um compêndio onde o funk e o hip-hop não desapareceram, e onde os beats assumem, claro está, papel principal, mas onde se nota um pouco mais de experimentalismo e audácia.
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João Martins Quarteto, “Hundred Milliseconds” | «Este disco tem como conceito as primeiras impressões e como estas nos influenciam na percepção com que ficamos de algo, neste caso da música». De modo tão despretensioso como genial, João Martins conduz-nos num vibrante exercício de desconstrução de preconceitos e noção de bases musicais. Desde logo a forma como o ritmo é (e não podia ser de outra forma) a estrutura mais decisiva na música. Desde as aparantemente contraintuitivas frases melódicas dos saxofones à convergência provocada pela progressiva imposição da bateria do próprio líder do quarteto (“100 ms” ou “Amygdala”). Mas também nos amplos ambientes das guitarras de Nuno Trocado solificados pela procura de beats em “Ilusão”, o preambular tema do grande pilar do álbum, e depois em “As Partes de Um Todo”.
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Samuel Úria, “Canções do Pós-Guerra” | A cada disco novo – e já lá vão nove -, Samuel Úria carrega a “bold” o seu nome nos anais dos compositores e cantautores portugueses de excelência. Profundo conhecedor dos cantos e recantos da Língua Portuguesa, que usa e abusa com a subtileza de um ‘alfaiate da gramática’, Úria regressou em 2020 pleno de pertinência e audácia, cantando uma guerra interior e espiritual que a ninguém deixa indiferente.
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Sérgio Godinho, “Ao Vivo no São Luiz” | Registo da série de concertos que o Sérgio deu entre 5 e 8 de Julho de 2018 na Sala Luís Miguel Cintra do São Luiz Teatro Municipal, em Lisboa. O disco capta também a estreia de Sérgio Godinho a actuar ao lado da Orquestra Metropolitana de Lisboa, dirigida pelo maestro Cesário Costa. Em “Ao Vivo no São Luiz” podemos redescobrir canções emblemáticas do percurso de Sérgio Godinho, com os arranjos orquestrais de Filipe Raposo, bem como a participação dos indispensáveis “Os Assessores” dirigidos por Nuno Rafael. Aqui a obra de Sérgio Godinho ganha, com a OML, uma deslumbrante dinâmica sinfónica e as execuções de banda e orquestra são perfeitíssimas.