Tool, O Final dos 5000 Dias
A cronologia dos longos 13 anos que separam “10.000 Days” e o novo álbum dos Tool. As primeira impressões e a história do progresso de “Fear Inoculum”, que chega no dia 30 de Agosto de 2019.
O último álbum dos Tool, “10.000 Days” foi editado em Abril de 2006. Chegou a especular-se que o próximo disco só seria editado quando se cumprissem esses dez mil dias que fazem referência ao perído orbital do planeta Saturno. Felizmente não foram necessários 28 anos de espera. Cerca de 5000 dias após o quarto álbum da banda chegará o quinto. “Fear Inoculum” será editado a 30 de Agosto de 2019.
Pelo menos desde 2013 que a própria banda ou os seus membros têm vindo a referir a iminência do tão aguardado disco. Danny Carey e Maynard James Keenan referiram-se de modo contrastante sobre a possibilidade de estrear o álbum nesse ano. Pouco tempo depois, o baterista afirmaria que 2014 era uma data mais realista. O que raio se passou, então, para atrasar tanto o disco?
DOMVS IVSTITIAE
Numa entrevista com a Rolling Stone no ano seguinte, Keenan e o guitarrista Adam Jones revelaram que um processo jurídico era o grande responsável pelos atrasos, tal como crescentes compromissos familiares de cada um dos músicos. A conceituada revista de música informava que um amigo de Jones afirmava ser ele o criador do artwork da banda e reclamava o devido crédito. Essas complicações legais começaram em 2007. Mas, embora começando aí, o problema não foi esse.
Acontece que a seguradora que os Tool tinham contratado para os defender no processo, acabou por processar a banda por “pormenores técnicos” relativos ao caso. A banda, por sua vez, contra-processou a empresa contra as alegações e, basicamente, rebentou quase uma década no meio desse imbróglio legal. O caso foi, finalmente, julgado em Janeiro de 2015, os Tool venceram o processo e retomaram o trabalho de composição, após sete anos de litigação.
PERFECCIONISMO
Mas nessa altura, Keenan afirmava que as hesitações dos seus colegas de banda estavam a atrasar a conclusão do disco: «Gosto de editar discos e escrever as coisas um pouco mais rapidamente que os outros rapazes. O processo deles é bastante analítico», afirmava o vocalista. Já depois de ter feito afirmações similares ainda em 2014…
O guitarrista confirmava essa ideia. Em Setembro de 2016, Adam Jones, num encontro com fãs da banda, durante um meet-and-greet antes de um concerto em Salt Lake City, afirmou estar a trabalhar três dias por semana, junto do baterista Danny Carey e do baixista Justin Chancellor, no novo álbum da banda. O guitarrista, de acordo com relatos desse encontro, confessou que os três músicos tinham criado material suficiente para dois álbuns de originais. O problema é que os músicos consideravam que apenas 5 canções se aproximavam do «padrão de exigência de um álbum de Tool» e que, portanto ainda não tinham enviado os temas ao vocalista, para que este escrevesse as letras.
Só no ano seguinte surgiram relatos de que Keenan, que tem uma reconhecida aversão a trabalhar com os restantes músicos nas exigentes sessões de pré-produção, já estava em estúdio a gravar vozes. No dia 16 de Fevereiro, o site oficial deu conta de que a banda se mudou para um novo espaço de trabalho, citando como fonte o baterista Danny Carey, e que Maynard Keenan se encontrava aí a trabalhar as vozes das novas canções.
No final desse ano, Tom Morello pronunciou-se sobre essas sessões de pré-produção. O guitarrista de Rage Against The Machine, Audioslave e Prophets Of Rage, publicou um post no seu Instagram onde dizia ter ouvido o novo álbum dos Tool: «Só [ouvi] os instrumentais, mas soa épico, majestoso, sinfónico, brutal, bonito, tribal, misterioso, profundo, sensual e muito à Tool. Mesmo bom. Muito ansioso para ouvir o álbum quando estiver finalizado».
INOCULAÇÃO
A progressão de eventos começava a deixar de ser meramente especulativa e a passar de oficiosa a oficial. Em Março de 2018, as redes sociais comunicavam oficialmente que a banda iniciara, finalmente, as sessões de estúdio para gravar o sucessor de “10.000 Days”. A AS recolheu, na altura, o máximo de informação possível sobre o equipamento que os músicos estavam a usar e sobre o ambiente de produção das sessões do quinto álbum dos Tool.
A partir daí, as notícias sucederam-se rapidamente. Em Abril de 2018, os Tool divulgaram um vídeo promocional a uma nova tour apelidada de “TOOL MUSIC CLINIC”. Nesta tour pelos Estados Unidos, Adam Jones, Danny Carey e Justin Chancellor irão entrar numa dissertação imersiva com os fãs, onde estes poderão fazer perguntas e ficar a par de todo o processo de composição das músicas, desde da escrita até ao modo como são tocadas ao vivo. O vídeo revelava os primeiros sons do álbum, com um excerto de “Descending”, um dos novos temas. Em Setembro do mesmo ano, Keenan confirmava a edição do disco em 2019. Depois, em Outubro de 2018 ainda, surgiu uma grata notícia para os fãs portugueses: os Tool passariam em Lisboa em digressão.
No início de 2019, Danny Carey avançou a possibilidade de o ansiado álbum ser editado em Abril, mas o frontman da banda apressou-se a negá-lo. Os fãs ficaram mais uma vez em descrença, pois o vocalista foi cáustico na forma como negou a edição do álbum nessa altura. Talvez ciente do pânico que gerou com a sua negação, Maynard fez novas declarações onde confirmou que o disco irá mesmo estrear e avançou com mais alguns detalhes e uma proposta de data de edição, bem ao seu jeito. Na passada 6ª feira, Maynard usou o Twitter para referir: «Actualização – Estamos a meio da mistura. O mais provável é refazer algumas coisas. Depois alguma discussão. Depois masterização, artwork, vídeo, empacotamento diferenciado, etc (…) Se tivesse que adivinhar – A data de lançamento irá ser algures entre o meio de maio e o meio de Julho».
Em Maio, a banda criou conta nos principais serviços de streaming e foi também por essa altura que começaram a surgir bootlegs dos dois novos temas que estavam a ser mostrados em digressão: “Descending” e “Invincible”. Por esses dias, foi também confirmada a data de edição do disco, marcada para o dia 30 de Agosto de 2019.
O SOM DE “FEAR INOCULUM”
Com a passagem dos Tool por Lisboa, no dia 02 de Julho, foi possível ter as primeiras impressões concretas sobre os novos temas e sobre o momento actual da banda. Diz a nossa reportagem que «durante todo o concerto, a banda tocou cada um dos temas sem qualquer ansiedade, focando-se com precisão em cada nota, em cada dinâmica, em cada silêncio, numa actuação que, em momentos, tocou a perfeição».
Depois, sobre “Descending”: «Uma monolítica pirâmide negra, coroada com o heptagrama, domina a Arena, com as cruzadas simbologias anabáticas e catabáticas (a base terrena apontando ao alto e este, por seu lado, expandindo para a terra). O público mantém um temor reverencial diante deste monumento visual e sónico, onde se destaca a interpretação de Danny Carey, na primeira parte da canção, e depois a de Adam Jones, iniciando o seu protagonismo solista com slide, através de arrastos melódicos tão simples como imponentes. No monumental final do tema, surgem poderosos, e todavia discretos, apontamentos de sintetização».
E sobre “Invincible”: «A remodelação sonora que revestiu cada um dos temas, beneficiou as novidades como “Invincible”. Iniciada com exóticas percussões. Brevemente pausada. Ovacionada (…). Inicia-se num dedilhado progressivo e cresce firme e lentamente até um epílogo fenomenal, através de um groove simples, ultra trancado, denso e pesado».
Resta esperar um mês. Para fazer suportar essa espera, a banda, que aderiu ao Spotify e Apple Music em Maio de 2019, partilhou agora a sua primeira demo de 1991. “72826” consiste num total de 6 faixas ao longo de 23 minutos. São elas “Hush”, “Crawl Away,” “Sober,” “Jerk-Off” e versões ao vivo de “Cold and Ugly” e “Part of Me”.