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VOA – Heavy Rock Festival 2022 [DIA 03]: Sabaton ou sABBAton

VOA – Heavy Rock Festival 2022 [DIA 03]: Sabaton ou sABBAton

2022-07-02, Estádio Nacional, Jamor
Nero
Inês Barrau
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O terceiro dia do VOA – Heavy Rock Festival 2022 foi aquele que teve menos público. O cartaz tornou a ser marcado por enormes contrastes estéticos. Ainda assim, os Rise Against conseguiram agradar a gregos e troianos. Já os Sabaton arrasaram gregos, troianos e quem lhes apareceu pela frente. O concerto dos suecos foi, literalmente, bombástico!

O último dia da edição de 2022 do VOA – Heavy Rock Festival, foi em muito semelhante ao anterior. O som esteve porreirinho, no mínimo. O públicou menor dos três dias que, pareceu, na sua maioria ter ido ao Jamor ver Sabaton, só pode ter ficado agradavelmente surpreendido com o intenso concertos dos Rise Against. Pois, o cartaz foi novamente um quadro bizarro. As primeiras bandas sofreram com o calor que se fez sentir – foi o dia do festival com as temperaturas mais elevadas. Onde, nessas condições, Simone Simons foi capaz de ir buscar fôlego para a sua actuação jamais o saberemos!

O dia com menos afluência de públicou arrancou letárgico, com Deadly Apples. Os canadianos, talvez manifestando algum azedume com os reajustamentos nos horários (e esta é uma observação puramente especulativa), trataram de descarregar no equipamento de palco. Se foi uma forma de demonstrar que dão tudo em palco, pareceu tudo muito inócuo. Ninguém percebeu muito bem. Já The Raven Age apostou na sobriedade, em detrimento do show off, e o seu curto setlist revelou bastante solidez entre os músicos, com o vocalista Matt James em destaque. Claro que ter o nome Harris no BI abre muitas portas, mas a banda de George Harris – o filho do lendário baixista dos Iron Maiden – tem vindo, aos poucos, a conquistar a sua própria reputação. Aliás, um fã acérrimo de Maiden fugiria a sete pés do metalcore desta banda.

Acabámos por ficar a pensar na estranha organização do cartaz, pois junto dos Rise Against e Bring Me The Horizon, por exemplo, tudo teria sido mais eficaz. Claro, as bandas têm outros compromissos, mas considerando que a grande maioria andou nestes dias entre o VOA e o Resurrection (na Galiza), talvez com algum esforço se pudesse ter construído alinhamentos mais equilibrados. Quanto a The Raven Age, em cerca de meia horinha ouvimos: The Day The World Stood Still; Promised Land; Seventh Heaven; Angel In Disgrace; Fleur de Lis.

A BELA & O BLASFEMO

Foi na segunda metade da década passada que Nergal decidiu criar este projecto meio a solo que designou Me And That Man. Se foi uma boa ideia? Não temos a certeza que tenha sido, nem que a maioria dos fãs de Behemoth o considerem assim. Nesta fusão de country, folk e blues, Nergal fica a milhas das figuras em que se procura inspirar. Vejamos: nem chega perto da genialidade das canções de Bob Dylan; a sua voz, por mais competente que tenha sido o concerto, jamais fará de si um crooner como Johnny Cash; a sua pose outlaw nunca será substantiva como a de Woodie Guthrie ou Willie Nelson; o nível instrumental é absolutamente pálido ao lado de Neil Young e não tem metade do humor de King Dude, para falar em algo mais recente… Já perceberam a ideia, mas podíamos ficar nisto todo o dia. Me And That Man vale pela importância que poderá ter como ponte, para eventuais incautos, para um universo sonoro bem distinto do metal. Mas o concerto no Jamor foi sempre bastante morno. Ainda mais sem o dinamismo dos vários convidados que pontuam no recente álbum “New Man, New Songs, Same Shit, Vol.1”.

Valeu acima de tudo pelos lindos espécimes que Adam Darski e Marcin Gałązka exibiram em palco e o deslumbrante brilho nos sons limpos de guitarra. Nergal começou por usar uma Gretsch White Falcon neste projecto. Um coleccionador de guitarras (quem nunca?) por direito próprio, o músico passou recentemente a usar uma Silver Falcon. Trata-se, aparentemente de um modelo G6636, com o corpo em maple com bloco central e o som vintage de um par de High Sensitive Filter’Trons. Muito semelhante aos que a Gretsch estreou em 2020. Funcionou maravilhosamente com o LCFR, o pedal overdrive/boost da KHDK com a sua assinatura. Já Marcin Gałązka empunhou uma linda 60’s Jazzmaster, em 3-Colour Sunburst, com binding em torno de toda a escala. 99% de certeza de que se tratava de um modelo American Original, gama que a Fender apresentou em 2018.

A setlist foi: Under the Spell; Got Your Tongue; My Church Is Black; Nightride; On the Road; Coming Home; Surrender; Love & Death; Burning Churches; Losing My Blues; Run With the Devil; Blues & Cocaine (uma vez mais, quem nunca).

O formato há muito está cristalizado (para não dizer esgotado). A voz masculina dentro dos registos do death metal e a lírica voz feminina. Pelas lágrimas que aqui e ali se viam no rosto de algum do público feminino, percebia-se que, entre a plateia, já compostinha, se encontravam fãs acérrimos do metal sinfónico dos holandeses. Diga-se, em abono da banda, que os Epica nunca se importaram muito com a transição para o mainstream como os seus conterrâneos Within Temptation, por exemplo. Mas isso também não significa que o colectivo de Simone Simons seja a mais pesada (longe disso) das bandas europeias de metal. A voz de Mark Jansen vai perdendo brutalidade, mas isso é largamente compensado pela serenidade com que Simons aplica o seu soprano operático a canções como “Cry For The Moon”, “Beyond The Matrix”, ” Victims Of Contingency” ou “Consign To Oblivion”. A cantora parece também cada vez mais entrosada e à vontade com os samples dos backing tracks vocais. Claro, a banda usa-os para aumentar o efeito dramático, mas – e isto é uma perspectiva absolutamente pessoal – talvez pudesse tirar mais dividendos em deixar as poderosas e suaves cordas vocais da sua frontwoman ganharem maior protagonismo e, criando um maior contraste com o que são os seus discos, ver a sua sonoridade ganhar um carácter mais rocker e menos espartano na sua dinâmica.

Aliás, foi assim que soou “Abyss Of Time”, o tema que abriu o concerto. Fosse por opção ou pelos óbvios problemas de equilíbrio da mistura, que atenuaram muito o som das sintetizações e a samplagem, as coisas soaram mais orgânicas. A setlist completa foi: Abyss of Time – Countdown to Singularity; The Essence of Silence; Victims of Contingency; Unchain Utopia; The Skeleton Key; Cry for the Moon; Sancta Terra; The Obsessive Devotion; Code of Life; Beyond the Matrix; Consign to Oblivion.

REVOLUÇÃO

«Não viemos aqui para falar de revolução, mas podemos dizer desde já aquilo que uma revolução não é. Uma revolução não é racista. Uma revolução não é xenofóbica. Uma revolução não tem intolerância de género. Numa revolução não há homofobia. Se estiverem numa revolução em que haja algum destes preconceitos, talvez estejam na revolução errada». Estamos a parafrasear Tim McIlrath, claro, que liderou os Rise Against naquele que, para nós acabou por ser o concerto mais surpreendente nos três dias do festival. Não por desconfiança dos méritos da banda, mais que firmados. Mas porque o quarteto de Chicago foi capaz de agarrar a grande maioria do público que ali estava. Mesmo que as suas raízes punk rock soem cada vez menos agressivas (bom, “Survive” soará sempre uma grande punkalhada, passem os anos que passarem), a sua essência fez-se sentir de forma incisiva, com a sucessão de temas a não impedir o frontman de comunicar com tremenda eficácia e de forma lúcida e directa com a plateia.

Se alguma vez houve uma altura ideal para um novo álbum dos punk rockers Rise Against e a sua expressividade socialmente consciente, é esta. “Nowhere Generation”, via Loma Vista Recordings/Spinefarm Records (na Europa), é um disco fogoso e agressivo, fundindo a atitude punk da velha guarda com a fúria do pós-hardcore. As onze canções no álbum foram influenciadas pela contribuição lírica do vocalista Tim McIlrath, inspirada nas duas filhas mais novas, e da comunidade de fãs da banda, e apontam para a situação social e económica que tem sido eirigida contra a geração mais jovem que persegue o American Dream. E o baixista Joe Principe falou com a AS desse disco de forma bastante aprofundada. Mas depois de uma ausência de mais de uma década, os Rise Against presentearam o público português com um vibrante e apaixonado percurso pela maioria da sua discografia, com o foco no álbum “Appeal To Reason”. Afinal, foi esse o álbum axiomático na sua carreira, quando abraçaram os refrães antémicos e valores de produção mais apontados aos mainstream. Seja como for, são já mais de duas décadas a “virar frangos” e McIlrath manteve sempre o público agarrado, conquistando progressivamente até aqueles cujo contacto com a banda tivesse sido apenas circunstancial.

Na entrevista que referimos em parágrafo anterior, Joe Principe descreve o equipamento que tem usado nos tempos mais recentes e o porquê de alternar entre modelos Precision e Jazz Bass. Os modelos JB, que acabaram por predominar no concerto são Fender American Ultra Jazz Bass. «São fenomenais. Nem sequer uso o circuito activo dos pickups. Manda alto som. Adoro os perfis de braço dos anos 70, são os meus preferidos. Muito confortáveis para mim. De certeza que não os vou largar assim que saiamos em digressão», confessava Principe. Mesmo assim, no disco, especificamente, usou um Fender American Elite Jazz Bass. Viremos a atenção para o frontman. McIlrath é dono de umas quantas Gibson cheias de pedigree. É, aliás, dono de dois modelos Silverburst – uma réplica que a Custom Shop lhe criou e um modelo 79, ainda que VOS. Sim, os modelos em que baseiam a assinatura de Adam Jones. Ainda que “Nowhere Generation” tenha estado pouco presente no alinhamento, excepção feita ao tema título, o músico praticamente não abdicou do modelo que a Gibson lhe criou a LP Nowhere Generation, precisamente, onde usa afinação drop-D. Os entalhes na escala são espelhados. Pickups e hardware é tudo stock, apenas foram retirados os dois controlos de tone. Por fim, Zach Blair usou principalmente a Les Paul a que chama “No.1”. Foi pintada (metade branca e metade preta) para se contextualizar com “Nowhere Generation”, mas trata-se de um modelo Gibson Custom Shop. Na ponte surge um Seymour Duncan SH-4 JB e no braço o Distortion, à Michael Schenker clássico!

A setlist, cheia de bangers: Prayer of the Refugee; The Violence; Satellite; Help Is on the Way; Ready to Fall; Last Man Standing; Collapse (Post-Amerika); Re-Education (Through Labor); I Don’t Want to Be Here Anymore; Audience of One; The Good Left Undone; Hero of War; Nowhere Generation; Give It All; Survive; Savior.

ARTILHARIA PESADA

Em todo o universo dos concertos de rock, certamente apenas os KISS e os Rammstein conseguem apresentar um espectáculo com maior exuberância pirotécnica que os Sabaton. E, musicalmente, as coisas seguem a mesma tendência. Tudo super orelhudo! Onde ganham os suecos? No carácter ultra melódico das suas canções. Fazem-se por aí referências à grandiosidade wagneriana, mas não é preciso ir tão longe. A banda liderada por Joakim Brodén destila todo o seu açúcar do catálogo dos ABBA (não finjam que não curtem!) e dá-lhe o bagaço de uma impenetrável parede de distorção, para efeito tão bombástico como o do arsenal pirotécnico que preenche um palco inspirado no aparato militar da Primeira Grande Guerra, ao qual não faltou uma aparição do icónico caça vermelho de Manfred von Richthofen, obviamente em “The Red Baron”. Por essa altura, já estava praticamente todo o público que ainda pudesse ter inicialmente resistido no bolso dos suecos, graças ao fascínio provocado pela “artilharia”, pelo magnetismo de Brodén e pela enorme competência da banda, com destaque para a solidez de bombo duplo de Hannes Van Dahl, bem secundado pelo trovejante baixo de Pär Sundström, e para o vigor shredder dos guitarristas Chris Rörland e, principalmente, Tommy “ReinXeed” Johansson.

A devoção ao power metal deste vosso escriba está essencialmente dedicada aos Helloween e aos Blind Guardian. Mas a meio do concerto o sentimento era já igual ao que devia ser o de muitos dos presentes que, de repente, levaram com a jarda deste magnífico espectáculo. Ou seja, se vou correr para comprar discos da banda? Talvez. Se adorei o concerto? P*ta que pariu! Sem dúvida! Num alinhamento que quase não deu tréguas, arriscamos como destaques “The Great War”, “Bismarck”, “Resist And Bite” – antes da qual Joakim testou a goela da plateia com um acapella de “Master Of Puppets” (se precisam que vos diga de quem é esta malha, estão a ler o artigo errado) – “The Last Stand” (que podia concorrer ao Festival da Eurovisão) e “Primo Victoria”. Caramba, até o fortíssimo sotaque de Joakim se ajusta à teatralidade da banda. Embora, no que respeita à actuação do frontman, tenha sido suspeita a forma cristalina e articulada como a voz soou dentro de uma máscara de gás num dos temas (“The Attack of The Dead Men”). Talvez o vocalista tenha ficado oculto nos bastidores a cantar e fosse um figurante a usar a máscara de gás. Distraímo-nos um pouco.

Além das calças camufladas, os guitarristas partilharam essa estética no acabamento das guitarras. Rörland usou uma Jackson SL7 Soloist. O músico passou a usar um destes modelos nesta digressão, depois de se tornar artista oficial da marca com o recente álbum “The War To End All Wars”. Dito isto, é o próprio guitarrista que refere tratar-se de uma Soloist, todavia parece haver aqui um twist, afinal a cabeça remete-nos para os modelos Chris Broderick, por exemplo. Quanto a Tommy, usou um modelo Dinky da Charvel. Recentemente, o músico revelou um modelo Dark Amber MIM, que comprou por sua iniciativa, mas é mais provável que nos Sabaton esteja a usar algo mais high profile. Arriscamos em dizer, algo aproximado aos modelos apresentamos na Winter NAMM 2019 e na Summer NAMM do mesmo ano. Tal como nos camuflados nas calças e guitarras, Rörland e Johansson também partilham sistemas de amplificação Kemper Profiler.

Um fait divers… Numa das vezes, durante o concerto, em que este super profissional repórter se deslocou ao bar para se refrescar com um copito de água, ao receber o copo, uma das bombardas explodiu abruptamente. Resultado: a senhora do bar entornou o conteúdo do copo sobre si. Se refiro este episódio é apenas para sublinhar que sustos destes terão ocorrido amiúde entre os mais distraídos e que, tendo em conta o preço, está a tornar-se proibitivo entornar cerveja (perdão, água) nos concertos! Mas, se os Sabaton regressarem, ofereço já um barril! Para terminar, ninguém se irá esquecer deste concerto tão depressa.

SETLIST

  • Ghost Division
    Stormtroopers
    Great War
    The Red Baron
    Bismarck
    The Attack of the Dead Men
    Soldier of Heaven
    Steel Commanders
    Carolus Rex
    Resist and Bite
    Night Witches
    Dreadnought
    The Last Stand
    Christmas Truce
    Primo Victoria
    Swedish Pagans
    To Hell and Back